COLUNA WILSON BELCHIOR: Dia em que Monsenhor Fontenelle quebrou o segredo da confissão.

Anos 50, em Sobral tudo girava em torno da Igreja Católica, Dom José era o Bispo e, entre seus comandados, na linha conservadora de pensamento e ação estavam os monsenhores Linhares e Fontenelle (foto), os padres, Arnóbio, Edson e outros. Dos citados, Mons. Fontenelle despontava como o mais conservador e radical, e disso deu provas soberbas.

Nasceu e foi registrado como Francisco Felipe Fontenelle, filho de Manoel Fontenelle e de Dona Cândida Fontenelle, em 05 de abril de 1898 em Viçosa-CE. Foi ordenado por Dom José em 15/abril/1922 e assumiu o 10º Vicariato de Viçosa-CE em 08 de fevereiro de 1929, onde permaneceu até 31 de dezembro de 1949.

Conheci-o morando em Sobral, numa casa pertencente a Diocese situada na Rua Galdino Gondim, entre as casas do Cesário Barreto e a do sr. Otávio Torres.

Meu pai me disse certa vez ser ele meu parente por parte dos Fontenelles e eu, adolescente, lhe afirmei que estranhava entre os Fontenelles, família de boa índole, haver um membro tão impaciente, que não suportava menino.

Mons. Fontenelle foi vigário de Viçosa, Independência e Ipueiras e no Vaticano foi o Monsenhor-Camareiro de Sua Santidade o Papa Pio XII.

Seus restos mortais encontram-se na Igreja Matriz de Viçosa-CE, perto dos restos dos seus ancestrais, Jean Fontenelle e Umbelinda Gonçalves, tronco dos Fontenelles do Ceará.

Certa vez, o Monsenhor furou a bola com que jogávamos no Campo do Cesário, que por sinal era minha. No outro dia, no Colégio Sobralense, perguntei ao Pe. Gonçalo com o fito de o conhecer melhor:

- Pe. Gonçalo, quando o Mons. Fontenelle foi ordenado?

- Na mesma fornada da qual também saiu o Pe. Gerardo!

- A mamãe me disse que é parenta dele e que ele é um santo?

- Peça a Dona Dolores para rever os conceitos que ela tem dos santos. Eu e ele nascemos na mesma Serra Grande. Ele, na fria Viçosa; eu, na paradisíaca Ubajara...

Ouvi dizerem em Sobral que quando o Mons. Fontenelle era Vigário em Ipueiras-CE, certa vez ele se encontrava na matriz confessando, subitamente teve que ir ao banheiro deixando a penitente de joelhos no confessionário a lhe esperar, já que ainda não terminara a confissão, nem lhe concedera o perdão e nem sequer lhe dissera a penitência que teria que cumprir.

Nervoso, preocupado com a senhora, voltou às pressas e mesmo assim não mais a encontrou, o que não foi do seu agrado.

Frente às circunstâncias, achou por bem ir ao altar e de lá indagar aos presentes, o que o fez nos seguintes termos, QUASE QUEBRANDO O SEGREDO DA CONFISSÃO:

- Onde está a senhora que roubou uma porca parida com 12 bacurinhos, que estava se confessando comigo e saiu sem eu a perdoar, nem lhe aplicar a devida penitência?

Os presentes ficaram atônitos. O Monsenhor repetiu a pergunta em voz mais alta e por várias vezes. Porém, ninguém que estava na nave da matriz se manifestou a respeito...

Mas meus amigos, isso foram apenas manifestações da fraqueza humana ocorridas quando de sua militância na Igreja Católica, no exercício do seu trabalho divino. Na verdade, o digníssimo Monsenhor Fontenelle foi dela uma "Rocha Sã", que ajudou e orientou a muitos a ir viver no Reino do Céu, local que nosso Divino Mestre Jesus Cristo prometeu aos homens de bem.

(P.S.: A foto do Mons. Fontenelle é do Arquivo de Zezinho Ponte)

(*) Wilson Belchior é engenheiro civil, articulista, poeta e memorialista.