O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco
Aurélio Mello, disse que vê o risco de ditadura no Brasil, seja de esquerda ou
de direita, neste momento de polarização política. Em entrevista exclusiva
ontem à noite à TV Brasil, Mello falou à
jornalista Roseann Kennedy, que as instituições devem ficar atentas para
inviabilizar qualquer tentativa de retrocesso.
“O risco
[de ditadura] eu sempre vejo. Porque, certa feita, eu li um livro A Marcha da Insensatez, a história se
repete. E, evidentemente, temos que estar atentos aos contornos. Claro que,
eleito este ou aquele candidato, ele perceberá que precisa, por exemplo, do
Congresso Nacional para governar. Perceberá que, estando na cadeira mais
importante da República, deverá dar um exemplo em termos de observância da
ordem jurídica”, declarou Mello.
O ministro
afirmou ainda que não acredita que possa ocorrer retrocessos de imediato e
alertou que não é possível “atropelar o que está estabelecido” para se alcançar
determinado resultado. “Estamos vivenciando uma democracia há 30 anos. Não há espaço, de
início, para retrocesso, mas as instituições precisam estar atentas,
inviabilizando qualquer tentativa neste
sentido de ter-se um retrocesso”.
Durante a
entrevista, Mello lamentou que o país tenha chegado à radicalização. Ele
avaliou que as urnas deram o recado de uma insatisfação muito grande com o
contexto de escândalos, e o voto pretendeu modificar os representantes para que
eles atuem pelo Brasil.
"Lamentavelmente
nós chegamos à radicalização, aos extremos. E aí penso que falha a sociedade. A
sociedade imagina que simplesmente não estejam sendo tomadas providências para
combater essa mazela, esse mal maior que é a corrupção. E estão sendo tomadas
providências, tanto que temos um ex-presidente da República preso. Certo ou
errado, mas está preso, ou seja, a polícia vem atuando, o Ministério Público
também e o Judiciário, revelando que a lei vale para todos, indistintamente.
Agora nós temos o sufrágio universal, a escolha dos nossos representantes e aí
prevalece a vontade do eleitor”, disse.
Questionado
sobre o temor do crescimento de populismos de direita ou esquerda, o ministro
reiterou ainda que a Constituição Federal deve ser observada, as regras
estabelecidas precisam ser respeitadas e não devem ser atropeladas por
entusiasmos ou paixões.
Mello
afirmou que as instituições brasileiras são fortes e que o Supremo acaba sendo
"um poder definidor, uma vez provocado”. Ele ressaltou que os Três Poderes
da República são harmônicos independentes e declarou que “não cabe invasão de
área” entre os poderes.
“Não há
invasão pelo Supremo de área reservada ao Legislativo. Quando nós atuamos é a
partir do instrumental que está na Constituição e mediante provocação. Não é
raro um partido, por exemplo, político vir ao Supremo e pleitear um
pronunciamento. Mas, aí quando o Supremo decide de forma contrária a certos
interesses, se potencializa essa ótica de que teria ocorrido invasão da área do
Legislativo, mas não há essa invasão”, acrescentou. (Ag. Brasil)
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