sexta-feira, 12 de outubro de 2018

LITERATURA CEARENSE: O embate ideológico das ruas: perfil do eleitor de esquerda e direita - 2ª parte (Franzé Bezerra*)


Como havia sinalizado na primeira parte, a discussão entre o campo progressista e o conservador, efetivamente, tomou às rédeas do debate nestas eleições, mesmo que a discussão não seja feita na profundidade que o embate ideológico seja merecedor.


Após o término do primeiro turno, e como já era esperado – salvo algumas análises otimistas e discrepantes da melhor visão do quadro político nacional - nada de novo se sucedeu além do que já era esperado. Confirmadas a ida, para o segundo turno, do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e do PT, Fernando Haddad. Surpreendente foi o primeiro, com grande votação, não identificada pelos institutos de pesquisas. Faltou pouco para liquidar a fatura já no primeiro turno.

Doutra parte, não obstante o grande apelo popular do próprio candidato e de suas propostas, falo do representante do PDT, Ciro Gomes, mais uma vez não consegue chegar ao segundo turno, mantendo razoável aceitação nas urnas, mas longe de consagrar-se como efetiva opção para a disputa final à Presidência da República.

Nesta toada, e com profunda demonstração de que não consegue emplacar na disputa presidencial, foi a vexatória votação do tucano Geraldo Alckmin, que, não obstante ter governado o maior PIB brasileiro, amargou o quarto lugar, numa clara prova de que o desgaste de seu partido e aliados até então vitoriosos, não são mais vistos pelos eleitores como opção no quadro político brasileiro.

As demais candidaturas, principalmente a do EX-MINISTRO Meireles, MDB, registrou a mesma marca do primeiro candidato da legenda pós-redemocratização, Deputado Ulisses Guimarães, em que, novamente, fica consolidado que o partido não é visto como opção principal de governança, voltando ao seu status de coadjuvante.

Por fim, nessa análise das legendas que se designou de palatáveis ao eleitorado (1ª parte do artigo, publ. em 21.09/2018), o mais decepcionante e surpreendente fracasso nas urnas se deu com a candidata da REDE, Marina Silva. Sucumbiu no primeiro turno, totalmente, desidratada, quando, nas últimas eleições, 2014, havia registrado auspiciosos 21 milhões de votos, reduzidos, agora, para Um milhão de sufrágios.

O resultado das urnas, por sua vez, sinaliza que, dos nomes sufragados, alguns deverão definitivamente sair do embate para a Presidência, como é o caso de Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Meireles e Marina Silva. No caso do candidato do MDB pela idade já avançada, e os demais em face dos contínuos fracassos nas urnas. Há a perda natural de apelo popular.

Entretanto, dentro do que se propôs, observa-se que há preocupação latente em vários setores da sociedade de como será possível governo do candidato da DIREITA, PSL, que para muitos tem demonstrado viés ultraconservador. Tem maquiado informações em nome da “proteção da família”, quando, na verdade, suas sinalizações são havidas, não só pela imprensa nacional e internacional, como retrocesso e inaceitáveis para os dias atuais, principalmente em relação às minorias e direitos sociais já consagrados.

Esta preocupação não deixa de ser legítima, pois o General Mourão, vice do candidato Jair Bolsonaro, tem-se manifestado pela extinção de direitos dos trabalhadores, no que denominou de “jabuticabas” brasileiras.

Ademais, o candidato ultraconservador não enfrenta claramente os grandes problemas nacionais, e, até o presente, não se sabe o real plano econômico que pretende emplacar, ficando sempre a jogar para o que denominou de “Posto Ipiranga” que é o seu guru da área econômica, economista Paulo Guedes, a quem caberá à condução da economia brasileira em eventual mandato.

Frise-se, ainda, na toada conservadora e com viés fascista como é retratado, por muitos analistas, a discussão da pena de morte, redução da maioridade penal, prisão perpétua e a excludente de ilicitude para policiais, tudo em nome do combate à violência, que sem sombra de dúvidas é reclamo da sociedade. Sabe-se que o Brasil, com sua dimensão continental, tem problemas que vão muito além de ser resolvido à BALA. Tende a agravar mais e mais a já dividida pirâmide social, a par do agravamento da homofobia, inclusive já posta em prática por muitos de seus admiradores.

Na contramão do perfil autoritário, muito oportunas são as legítimas palavras do antropólogo, escritor e político Darcy Ribeiro, saudoso Senador da República, que trabalhou nos governos de Jânio Quadros, João Goulart e Leonel Brizola, de que Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”, demonstrando àquela época que a educação é o caminho para reduzir a criminalidade.

Machado de Assis, com o brilhantismo de sempre, também nos presenteou com sábias reflexões, tendo afirmado que “Se a educação modifica a natureza, a natureza pode em suas exigências mais absolutas readquirir os seus direitos e manifestar a sua força”. É a senha de que o caminho para as grandes mudanças passa necessariamente pela educação.

Por outro lado, e ao inverso do que propaga o antagonista, o candidato do campo progressista Fernando Haddad tem como sua agenda principal a continuidade dos ganhos sociais dos governos do EX-PRESIDENTE LULA, quando o povo brasileiro teve efetivamente significativas conquistas, as quais são reconhecidas como a “maior inclusão social já praticada mundo afora”.

O candidato do PT, outrora Ministro da Educação dos governos LULA, proporcionou que as classes menos favorecidas tivessem oportunidades de qualificação. Foram criados mecanismos como o FIES, PROUNI, CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS e a abertura de 18 UNIVERSIDADES FEDERAIS, número recorde, constituindo-se no maior investimento na educação já praticado pelos governos brasileiros.

Na contramão das conquistas sociais reconhecidas, além do salto da economia brasileira para patamares jamais vistos, o Partido dos Trabalhadores enfrenta desgaste profundo em face dos escândalos ocorridos durante os governos petistas, agravado pela crise econômica pós-impeachment, com sistemáticos ataques de setores da imprensa e das classes dominantes economicamente, temerosas em perder seus contínuos privilégios.

Assim, não obstante as conquistas indiscutíveis nos governos do Partido dos Trabalhadores, que atendeu aos anseios de larga percentagem da população, dando voz e vez aos milhares de nacionais excluídos, há a disseminação de uma onda antipetismo, decorrente dos escândalos e da prisão de muitos integrantes do partido, inclusive de seu líder maior o ex-presidente Lula, para muitos observadores é típico preso político, ceifado da vida pública por até então ter sido líder absoluto da intenção de votos.

Assim, o embate nas urnas é o enfrentamento dessas duas frentes ideológicas, uma conservadora e a outra progressista, ou direita e esquerda.

Frise-se, finalmente, que essa tipificação é o menos importante, relevante o é o espectro das diretrizes econômicas que serão empreendidas pelo candidato eleito para salvaguardar as garantias individuais, os direitos constitucionalmente assegurados e a continuidade do regime democrático, traduzido no exercício da cidadania e na liberdade de expressão, a par do fortalecimento do Estado brasileiro.
  


 



Francisco José Rodrigues Bezerra de Menezes, Franzé Bezerra Advogado. Pós-graduado em Direito Processual Civil e Direito e Processo Eleitoral. Especialista em Direito Civil. Sócio fundador da Bezerra de Menezes Advogados Associados. (E-mail: bezerrademenezesadv@gmail.com).

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