Cotado para assumir pasta da
Justiça, juiz da Lava Jato afirma que, caso convidado, vai avaliar ‘se há
convergências importantes e divergências irrelevantes’
O grupo mais próximo do
presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), anunciou
nesta terça-feira, 30, o formato do Ministério do futuro governo. Citado pelo
próprio Bolsonaro como um “grande símbolo” da luta contra a corrupção e
possível titular da pasta da Justiça – o juiz Sérgio Moro –
que comanda a Operação Lava Jato em
Curitiba – admitiu que poderá aceitar o convite caso ele seja feito. “Tudo
depende de conversar para ver se há convergências importantes e divergências
irrelevantes”, disse Moro ao Estado.
O juiz federal vai se reunir com o presidente
eleito nesta quinta-feira, 1, no Rio.
O juiz federal foi cotado pelo
presidente eleito também para uma vaga no Supremo Tribunal Federal – durante o mandato de Bolsonaro serão abertas duas vagas na Corte
por aposentadoria compulsória, a do ministro decano Celso de Mello, em novembro
de 2020, e a de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.
Em nota divulgada nesta terça, Moro disse que ficou
“honrado” com a lembrança de seu nome para os dois postos. “Sobre a menção pública pelo sr. presidente eleito ao meu nome
para compor o Supremo Tribunal Federal quando houver vaga ou para ser indicado
para Ministro da Justiça em sua gestão, apenas tenho a dizer publicamente que
fico honrado com a lembrança. Caso efetivado oportunamente o convite, será
objeto de ponderada discussão e reflexão.”
No governo Michel Temer, o
Ministério da Justiça foi desidratado e deixou de ter controle sobre a Polícia
Federal, que passou a ser vinculada à pasta
extraordinária da Segurança Pública, criada em fevereiro. No desenho da nova Esplanada sob o governo Bolsonaro, a previsão é de
que os dois ministérios sejam fundidos.
O vice-presidente eleito,
general Hamilton Mourão, disse que “tudo indica” que
a pastas serão juntadas, porque isso faz parte “do processo de enxugamento” do
primeiro escalão do governo. Mourão participou nesta terça, no Rio, da
primeira reunião entre Bolsonaro e a equipe de
assessores mais próximos, quando foi discutido o novo organograma da Esplanada
dos Ministérios. Questionado sobre Moro, o vice eleito disse que o titular da
Justiça “certamente será alguém que tenha estatura moral perante o País”.
Se aceitar ingressar no futuro
governo e depois ser indicado para o Supremo, Moro vai repetir a trajetória do
ministro da Corte Alexandre de Moraes. A pessoas
próximas, Moro disse que poderia fazer “coisas boas” na Justiça. Uma questão
fundamental seria ter o controle da PF. Por isso, uma eventual fusão da Justiça
com Segurança Pública seria importante para a decisão do juiz da Lava Jato.
Na segunda-feira, 29, em entrevistas concedidas ao SBT e ao Jornal Nacional, da TV Globo, Bolsonaro anunciou a intenção de ter Moro no seu governo
ou indicá-lo para o Supremo. “Pretendo conversar com ele (Moro) para ver se há interesse da parte dele”, disse Bolsonaro em
entrevista ao SBT. “Se eu tivesse falado isso antes (na
campanha)soaria como oportunismo.”
Ao Jornal
Nacional, o presidente eleito afirmou que Moro é um
“grande símbolo” da luta contra a corrupção. “Poderia ser ministro da Justiça
ou, abrindo uma vaga no STF, (escolher) a que achar que melhor poderia contribuir para o Brasil.”
Aliados de Bolsonaro já haviam
dito que Moro era cotado para ocupar uma cadeira no Supremo. Esta é a primeira
vez que o nome do juiz é citado como possível ministro. O ex-presidente do PSL
Gustavo Bebianno disse ao Estado ainda
durante o segundo turno da campanha presidencial que eventual governo Bolsonaro
poderia indicar o magistrado para a Corte.
Moro foi alvo de citações
elogiosas e críticas na campanha ao Palácio do Planalto. O
candidato do Podemos, Alvaro Dias, vinculou sua candidatura à Lava Jato e tinha
como uma de suas principais promessas convidar, caso eleito, o juiz para ocupar
o Ministério da Justiça.
Delação - À vésperas
do primeiro turno das eleições, Moro divulgou parte da
delação premiada do ex-ministro Antonio
Palocci, decisão que motivou o PT a entrar com uma
reclamação contra o juiz no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
No trecho da colaboração
tornado público, Palocci diz que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva – condenado e preso na
Lava Jato – sabia do esquema de corrupção na Petrobrás desde
2007.
Na reclamação, o PT alegou que Moro mudou a data do interrogatório de Lula e de
outros 12 réus na ação do sítio de Atibaia. As audiências, previstas para
agosto e setembro, foram adiadas para novembro, a fim de evitar “exploração
eleitoral dos interrogatórios”, segundo Moro.
Para o partido, o mesmo
cuidado não foi levado em questão “quando se trata de tornar públicas
declarações que, sabidamente, possuem capacidade de influenciar diretamente as
eleições gerais de 2018”.
Em resposta
ao CNJ, o magistrado disse que não teve a intenção de
influenciar o resultado da eleição. (Estadão)
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