Apenas 2,1% dos alunos carentes
no Brasil conseguem atingir o nível de bons conhecimentos em Ciências,
Matemática e Leitura, segundo um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico) publicado nesta terça-feira.
Entre os
países da OCDE, a maioria ricos, 25% dos estudantes desfavorecidos
obtêm um bom nível de conhecimentos nas três áreas, segundo o estudo Igualdade na Educação:
Derrubando Barreiras à Mobilidade Social.
A
estatística se refere ao percentual de alunos que atingiram o nível três ou
acima, entre os seis existentes, do teste Pisa (Programa Internacional de
Avaliação de Alunos), realizado pela OCDE com alunos de 15 anos. Os
níveis de competência evoluem em função do grau de dificuldade das perguntas do
teste.
A OCDE considera que o desempenho abaixo do nível 2 - de
conhecimentos rudimentares e com poucas análises e interpretações - representa
dificuldades escolares e também, no futuro, problemas no mercado de trabalho e
de evolução social.
Com apenas 2,1% de alunos carentes que conseguem atingir
pelo menos o nível 3 do Pisa, o resultado do Brasil é um dos piores nesta
questão social entre os cerca de 70 países do estudo. O Brasil fica atrás de países como Colômbia, Costa Rica,
Geórgia, Romênia e Trinidade e Tobago.
O resultado brasileiro supera apenas o
do Peru, Argélia, Indonésia, Jordânia, Kosovo, Líbano, Tunísia e Macedônia. Em
Hong Kong (China), 53,2% dos alunos desfavorecidos atingiram o nível 3 do Pisa.
No Japão, o número é de 40,6% e, na Finlândia, 39,5%.
Desempenho ruim em Ciências, Matemática e Leitura - No
último PISA, realizado em 2015, apenas 2,2% dos estudantes brasileiros em geral
conseguiram atingir os níveis 5 e 6 do teste, com elementos e argumentações
mais complexos. E 44,1% ficaram abaixo do nível 2.
O país
está entre os últimos na classificação internacional nas três áreas avaliadas
(Ciências, Matemática e Leitura). "No Brasil, o número de alunos em geral
que obtém melhores desempenhos no Pisa é baixo", ressalta Pauline Givord,
analista da equipe do programa internacional da OCDE, se referindo ao também
baixo total de estudantes desfavorecidos com nível de bons conhecimentos.
Ao mesmo tempo, 11,2% dos alunos carentes no Brasil na
faixa de 15 anos estão entre os melhores resultados em ciências, em nível
nacional. Segundo a OCDE, as desigualdades escolares já são visíveis a partir
de dez anos de idade.
O relatório divulgado nesta terça-feira destaca uma forte
relação entre o perfil socioeconômico da escola e os resultados dos alunos. "Os
que frequentam escolas com mais vantagens têm melhores resultados nas provas do
Pisa", diz a organização.
Diferença reduzida - O estudo também revela que o Brasil
conseguiu reduzir, entre 2006 e 2015, a diferença de performance entre alunos
desfavorecidos e os demais nas provas de Ciências do Pisa. O mesmo ocorreu com
a leitura entre 2000 e 2015.
Em 2006, quase 17% da variação de performance em Ciências
dos estudantes brasileiros estava relacionada ao status econômico-social, de
acordo com a OCDE. Em 2015,
esse percentual caiu para 12,5%, sem que houvesse, no entanto, queda no
desempenho geral em Ciências, ou seja, que os demais tivessem obtido resultados
piores.
Houve até
uma leve melhora no resultado geral do Brasil, que passou de 390 pontos na
disciplina em 2006 para 401 pontos em 2015. No último
Pisa, que deu destaque para a área de Ciências, os estudantes carentes
totalizaram, na média, 368 pontos na disciplina. Os mais favorecidos atingiram
450 pontos.
Para a
OCDE, é "fundamental" desenvolver a pré-escola, permitindo acesso
cedo à escolarização, principalmente no caso de crianças carentes, "para
favorecer a aquisição de aptidões sociais e emocionais indispensáveis na
continuidade do percurso escolar".
A
organização também recomenda que os governos direcionem recursos focados para
os alunos e escolas de áreas desfavorecidas, além de reduzir a concentração de
estudantes de famílias de baixa renda nos mesmos estabelecimentos de ensino.
(BBC)
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