As declarações do deputado
federal do PSL, num vídeo de 4 meses atrás, repercutiram neste final de semana.
O deputado diz que o STF poderia ser fechado, caso houvesse alguma tentativa de
impugnação da candidatura do pai dele, o presidenciável Jair Bolsonaro. Na
gravação, Eduardo Bolsonaro fala que para fechar o STF basta 'um soldado e um
cabo'.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias
Toffoli, Celso de Mello e Alexandre de Moraes reagiram com firmeza às
declarações do deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a respeito
da Corte.
As declarações, num vídeo de quatro
meses atrás, repercutiram neste fim de semana. Nelas, o deputado diz que o STF poderia ser fechado caso
houvesse alguma tentativa de impugnação da candidatura do pai dele, o candidato
à Presidência da República Jair Bolsonaro. Nessa gravação, Eduardo Bolsonaro fala
que para fechar o STF basta "um soldado e um cabo".(Leia mais abaixo)
Dias Toffoli
O presidente do Supremo, Dias Toffoli,
afirmou por meio de nota nesta segunda-feira (22) que "atacar o Poder
Judiciário é atacar a democracia": "O Supremo Tribunal Federal é uma
instituição centenária e essencial ao Estado Democrático de Direito. Não há democracia
sem um Poder Judiciário independente e autônomo. O País conta com instituições
sólidas e todas as autoridades devem respeitar a Constituição. Atacar o Poder
Judiciário é atacar a democracia."
Celso de Mello
O ministro Celso de Mello, decano do STF, se
manifestou enviando uma declaração por escrito para o jornal "Folha de São
Paulo".
Celso de Mello escreveu: "Essa
declaração, além de inconsequente e golpista, mostra bem o tipo (irresponsável)
de parlamentar cuja atuação no Congresso, mantida essa inaceitável visão
autoritária, só comprometerá a integridade da ordem democrática e o respeito
indeclinável que se deve ter pela supremacia da Constituição!!!! Votações
expressivas do eleitorado não legitimam investidas contra a ordem
político-jurídica! Sem que se respeitem a Constituição e as leis, a liberdade e
os direitos básicos do cidadão restarão atingidos em sua essência pela opressão
do arbítrio daqueles que insistem em transgredir os signos que consagram o
Estado democrático de direito."
Alexandre de Moraes
Nesta segunda, num evento sobre os 30 anos da
Constituição, o ministro Alexandre de Moraes, também do STF, criticou a
declaração de Eduardo Bolsonaro. "É algo inacreditável
é que no Brasil, século XXI, a Constituição com 30 anos, ainda tenhamos que
ouvir tanta asneira vinda da boca de quem representa o povo. E que confirma uma
das frases mais importantes de um dos grandes democratas, um dos pais
fundadores dos Estados Unidos, Thomas Jefferson, que disse: 'o preço da
liberdade é a eterna vigilância'", afirmou.
O ministro disse que vai pedir abertura de inquérito à Procudoria Geral da
República pra investigar as declarações: "Isso é crime tipificado na Lei
de Segurança Nacional. Artigo 23, Inciso terceiro. Incitar animosidade entre
Forças Armadas e instituições civis".
O vídeo - No vídeo, gravado durante uma aula num
cursinho do Paraná, o deputado, reeleito este ano com a maior votação da
história, foi questionado por alguém se havia a possibilidade de o STF agir
para impedir que o pai dele, Jair Bolsonaro, assumisse caso ganhasse já no
primeiro turno. E, nessa hipótese, se o Exercito poderia agir.
"Aí já está caminhando para um
estado de exceção, né? O STF vai ter de pagar para ver e aí quando pagar para
ver vai ser ele contra nós”, respondeu Bolsonaro.
Eduardo Bolsonaro continuou o
raciocínio, falando sobre a hipótese de o STF impugnar a candidatura de
Bolsonaro, atribuição que sequer é do Supremo, e sim do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
Eduardo disse: "Mas se o STF
quiser arguir qualquer coisa, sei lá - recebeu uma doação ilegal de cem reais
do José da Silva... pô, impugna a ação dele... a candidatura dele. Eu não acho
isso improvável, não. Mas aí vai ter que pagar para ver. Será que eles vão ter
essa força mesmo? O pessoal até brinca lá, cara: 'se quiser fechar o STF, você
sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo'.
Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não."
O deputado prosseguiu, desmerecendo o
papel do STF: "O que que é o STF, cara? Tira o poder da caneta de um
ministro do STF, o que ele é na rua? Vc acha que a população... Se você prender
um ministro do STF, vc acha que vai ter uma manifestação a favor dos ministros
do STF?'
Candidatos - Neste domingo, em São Luís, no Maranhão, o
candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, repercutiu as
declarações.
"Há muito medo de violência por
parte do Bolsonaro. Cê vê que o filho dele chegou a gravar uma notícia, um
pensamento, se é que pode chamar assim o jeito o que eles falam, a coisa é tão
impressionante, não sei se a pessoa pensou pra falar, mas diz que prender,
fechar o supremo tribunal federal é coisa de… se eles desafiarem o poder
executivo, mandariam um cabo e um soldado… um cabo e um soldado, nem de jipe
precisariam… e uma pessoa que fala isso, não se se pensa pra falar, mas se nem
um ministro do Supremo hoje está a salvo, voce imagina o policial federal que
discorda", disse Haddad.
O candidato Jair Bolsonaro reagiu,
surpreso, quando perguntado sobre o vídeo em que o filho faz as declarações
sobre o Supremo. "Isso não existe. Se alguém falou em fechar o STF,
precisa consultar um psiquiatra", disse.
Ao ser informado por jornalistas de que
a declaração era do seu filho, Bolsonaro duvidou da informação. "Eu
desconheço. Duvido. Alguém tirou de contexto", afirmou o candidato a
presidente.
O que diz Eduardo Bolsonaro - No próprio domingo (21), Eduardo Bolsonaro se
manifestou em uma rede social sobre o vídeo. Ele disse que apenas respondeu a
uma hipótese esdrúxula sobre a impugnação sem qualquer fundamento de Jair
Bolsonaro.
Ele afirmou que jamais acreditou nessa
possibilidade, mas que, se algo parecido acontecesse, seria algo fora da
normalidade democrática. O deputado disse que citou apenas uma
brincadeira que diz ter ouvido na rua. Eduardo Bolsonaro afirmou ainda que se
foi infeliz e atingiu alguém pede desculpa tranquilamente e diz que não era
intenção dele.
Ele disse que a divulgação do vídeo
não é motivo para alarde e visa a atingir o pai, Jair Bolsonaro. Eduardo diz
que tem a consciência tranquila e que o momento é de acalmar os ânimos que,
segundo ele, são inflados propositadamente para criar uma atmosfera de
instabilidade. O deputado concluiu que se alguém defender que o STF precisa ser
fechado, de fato, essa pessoa precisa de psiquiatra.
A assessoria do Supremo Tribunal Federal informou que o presidente do STF,
ministro Dias Toffoli, deve se manifestar ainda hoje sobre as declarações do deputado
Eduardo Bolsonaro. O PSL partido de Jair Bolsonaro, ainda não se manifestou. A Procuradoria Geral da República
informou que não vai se manifestar. (BBC)
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