quinta-feira, 1 de novembro de 2018

LITERATURA CEARENSE: Convivência intensa e prazerosa no Seminário de Sobral (Por Antonio dos Santos Soares Cavalcante*)


Já fiz parte de legião de seminaristas que viajava de Crateús a Sobral, todos os anos nos meses de fevereiro e agosto para o Seminário Menor de São José de Sobral. A viagem já era um momento de muitas alegrias e, naturalmente, algumas surpresas. As alegrias vinham do reencontro com os colegas que entravam em cada um das estações que ficavam no caminho. Tínhamos, logo na primeira parada, em Sucesso, os primeiros encontros. Daí em diante novos reencontros. Entrava a turma de Nova Russas, que não era pequena. Vinham depois os colegas de Ipueiras, Poranga e Ararendá. No Ipu, entravam também os que vinham da Serra Grande e que, de lá, haviam saído na madrugada para pegar o trem ali. E assim íamos em frente: Reriutaba, Amanaiara, Cariré e chegávamos a Sobral no comecinho da tarde.


As surpresas e, até um pouco de tristeza nos vinham quando recebíamos informações de que algum colega havia deixado a batina. Esta era a expressão da época, aplicada aos que haviam desistido de continuar no Seminário de Sobral. Causava-nos tristeza porque era como se um irmão tivesse abandonado a família. Mesmo de origens diferentes, de cidades diferentes, de idades diferentes, nós nos sentíamos muito irmãos. O espírito de fraternidade que o Seminário imprimia era tão forte que, ainda hoje, todos de cabelos brancos, nos sentimos irmãos. Os nossos reencontros demonstram isto. É como se voltássemos no tempo e nos víssemos meninos daqueles tempos em que estudávamos juntos, rezávamos juntos, brincávamos juntos.

Meus pais, em Crateús, foram João Melo Cavalcante e Leonor Soares Cavalcante, hoje falecidos. Ele à época, comerciante, mas muito atencioso aos estudos dos filhos. Guardo bem na lembrança os cuidados que me dedicava a primeira professora, Francisca Rosa, a Madrinha Francisca. Da infância, tenho lembranças de muitos companheiros de estudo e brincadeiras:  Melinho, Antonio Machado, Edmilson Barbosa e Cleyton Machado.

Numa cidade, importante para toda a região, mas ainda pequena, à época, a Igreja Católica pelos seus eventos religiosos sempre despertava muita atenção.  O vigário Padre José Maria Bonfim, tinha um cuidado especial com as vocações sacerdotais, semeando a ideia do sacerdócio e buscando junto às famílias aqueles meninos que despertavam mais possibilidades de chegarem ao sacerdócio. Por esta razão, Crateús tinha o maior grupo de Seminaristas, depois de Sobral, a sede da diocese, sob o comando de Dom José Tupinambá da Frota. Aquela quantidade de jovens seminaristas que se destacavam na comunidade e chamavam atenção pelo uso da batina, despertava curiosidade e, ao mesmo tempo, vontade de participar daquele seleto grupo. Pela aproximação de minha família com a paróquia, fui um dos escolhidos.

Foram seis anos de convivência intensa e prazerosa no Seminário de Sobral. Pelas minhas características pessoais, sempre fui muito bem acolhido entre os colegas. Era sempre convidado para participar de eventos festivos ou culturais. Tive a oportunidade de participar de sessões do Grêmio Literário, de peças de teatro que foram marcantes para minha vida futura.
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Um dos pontos importantes do Seminário de Sobral era a disciplina. Não como algo que nos era imposto, mas que cumpríamos pela convicção de sua importância. Era assim que os nossos professores e dirigentes nos ensinavam. Cultivamos hábitos que ainda hoje nos acompanham positivamente.

Guardo, com prazer, muitas lembranças do Seminário. Algumas, no entanto, foram mais marcantes. A Semana da Pátria que passávamos na Serra da Meruoca, todos os anos, era um  momento inesquecível.  Ali Dom José havia construído um prédio, exclusivamente, para acolher os seus seminaristas naquele período. Era uma semana dedicada ao lazer. Fazíamos escaladas pelos morros que circundam a cidade, em grupos separados e que iam reencontrar-se no alto dos morros, seguindo apenas os sinais convencionais usados pelos escoteiros. Nós éramos organizados em pequenas patrulhas. Eram sinais marcados nos chão e nós os íamos descobrindo para avançar na caminhada.

Outra lembrança foi a morte de D. José Tupinambá da Frota. Já estávamos recolhidos aos dormitórios quando o Bosco que tinha mais ligações com o Palácio do Bispo, em voz alta, informou, falando com alguém que estava na entrada do Seminário: Dom José morreu!. Embora já esperássemos, aquele frase foi um choque para todos nós. E aquela noite foi totalmente diferente, na expectativa do dia seguinte em que nos depararíamos com o corpo do grande responsável pelo desenvolvimento de Sobral e, especialmente, de nosso Seminário.

Muitos outros momentos estão em nossos corações pela importância que o Seminário teve em nossas vidas. Mas chegou um momento que descobri que o meu caminho seria outro e deixei o Seminário. Mas continuei os estudos nos colégios Cearense, São João e Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, concluindo em 1968. Casei-me com Ana Maria e tivemos: Antonianna, Médica; João Jorge, Administrador de Empresas e Marianna, Advogada e Publicitária. Nos deram os netos David, Isabela, Nicholas, Gabriela e Pedro.

No início da década de 70 entrei para a política e exerci cinco mandatos consecutivos de Deputado Estadual: 1971-1975, 1975-1979, 1979-1983, 1983-1987 e 1987-1991 (Constituinte), e oito anos como Deputado Federal nas legislaturas de 1991-1995 e 1995-1999Tendo ocupado diversas funções, dentre elas de Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (1980-1982) tendo assumido assumiu por diversas vezes a chefia do Governo Estadual; Na Câmara dos Deputados: Ocupei diversas funções em várias Comissões fundamentais do Poder Legislativo Federal. CARGOS PÚBLICOS: Secretário de Administração do Governo do Estado do Ceará (1981-1985).

CONDECORAÇÕES e TÍTULO DE CIDADANIA – Pelo meu desempenho como parlamentar, recebi o reconhecimento de várias instituições de diversos estados que me concederam condecorações. Os municípios de Nova Russas, Altaneira, Nova Olinda, Santana do Cariri, Novo Oriente e Santa Quitéria, no Ceará, me concederam Títulos de Cidadania. Em, nome do Brasil, estive em vários países em Missão Oficial.

Fui Deputado Estadual de atuação destacada. Sempre recebi votação expressiva nas Regiões Centro-Oeste e Cariri, sendo bem votado em todo o Estado do Ceará. Recebi, como Deputado Estadual, a maior votação obtida por um Deputado no Estado do Ceará.

Como candidato a Deputado Estadual e Federal, obtive em Crateús, a terra natal, as maiores votações registradas até então.

Atualmente, sócio da Empresa SANCTORUM, no segmento de representações, seguros e comércio em geral. Fundador e sócio com o filho, João Jorge Cavalcante, da RÁDIO VALE DO RIO POTY em Crateús, Ceará.



(*) Antonio dos Santos Soares Cavalcante, betanista, crateuense, ex deputado estadual e federal por vários mandatos. Hoje empresário, em Fortaleza.

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