Já fiz parte de legião de
seminaristas que viajava de Crateús a Sobral, todos os anos nos meses de
fevereiro e agosto para o Seminário Menor de São José de Sobral. A viagem já
era um momento de muitas alegrias e, naturalmente, algumas surpresas. As alegrias
vinham do reencontro com os colegas que entravam em cada um das estações que
ficavam no caminho. Tínhamos, logo na primeira parada, em Sucesso, os primeiros
encontros. Daí em diante novos reencontros. Entrava a turma de Nova Russas, que
não era pequena. Vinham depois os colegas de Ipueiras, Poranga e Ararendá. No
Ipu, entravam também os que vinham da Serra Grande e que, de lá, haviam saído
na madrugada para pegar o trem ali. E assim íamos em frente: Reriutaba,
Amanaiara, Cariré e chegávamos a Sobral no comecinho da tarde.
As surpresas e, até um pouco
de tristeza nos vinham quando recebíamos informações de que algum colega havia
deixado a batina. Esta era a expressão da época, aplicada aos que haviam
desistido de continuar no Seminário de Sobral. Causava-nos tristeza porque era
como se um irmão tivesse abandonado a família. Mesmo de origens diferentes, de
cidades diferentes, de idades diferentes, nós nos sentíamos muito irmãos. O
espírito de fraternidade que o Seminário imprimia era tão forte que, ainda hoje,
todos de cabelos brancos, nos sentimos irmãos. Os nossos reencontros demonstram
isto. É como se voltássemos no tempo e nos víssemos meninos daqueles tempos em
que estudávamos juntos, rezávamos juntos, brincávamos juntos.
Meus pais, em Crateús, foram João
Melo Cavalcante e Leonor Soares Cavalcante, hoje falecidos. Ele à época,
comerciante, mas muito atencioso aos estudos dos filhos. Guardo bem na
lembrança os cuidados que me dedicava a primeira professora, Francisca Rosa, a
Madrinha Francisca. Da infância, tenho lembranças de muitos companheiros de
estudo e brincadeiras: Melinho, Antonio Machado, Edmilson Barbosa e
Cleyton Machado.
Numa cidade, importante para
toda a região, mas ainda pequena, à época, a Igreja Católica pelos seus eventos
religiosos sempre despertava muita atenção. O vigário Padre José
Maria Bonfim, tinha um cuidado especial com as vocações sacerdotais, semeando a
ideia do sacerdócio e buscando junto às famílias aqueles meninos que
despertavam mais possibilidades de chegarem ao sacerdócio. Por esta razão,
Crateús tinha o maior grupo de Seminaristas, depois de Sobral, a sede da
diocese, sob o comando de Dom José Tupinambá da Frota. Aquela quantidade de
jovens seminaristas que se destacavam na comunidade e chamavam atenção pelo uso
da batina, despertava curiosidade e, ao mesmo tempo, vontade de participar
daquele seleto grupo. Pela aproximação de minha família com a paróquia, fui um
dos escolhidos.
Foram seis anos de convivência
intensa e prazerosa no Seminário de Sobral. Pelas minhas características
pessoais, sempre fui muito bem acolhido entre os colegas. Era sempre convidado
para participar de eventos festivos ou culturais. Tive a oportunidade de
participar de sessões do Grêmio Literário, de peças de teatro que foram
marcantes para minha vida futura.
.
Um dos pontos importantes do
Seminário de Sobral era a disciplina. Não como algo que nos era imposto, mas
que cumpríamos pela convicção de sua importância. Era assim que os nossos
professores e dirigentes nos ensinavam. Cultivamos hábitos que ainda hoje nos
acompanham positivamente.
Guardo, com prazer, muitas
lembranças do Seminário. Algumas, no entanto, foram mais marcantes. A Semana da
Pátria que passávamos na Serra da Meruoca, todos os anos, era
um momento inesquecível. Ali Dom José havia construído um
prédio, exclusivamente, para acolher os seus seminaristas naquele período. Era
uma semana dedicada ao lazer. Fazíamos escaladas pelos morros que circundam a
cidade, em grupos separados e que iam reencontrar-se no alto dos morros, seguindo
apenas os sinais convencionais usados pelos escoteiros. Nós éramos organizados
em pequenas patrulhas. Eram sinais marcados nos chão e nós os íamos descobrindo
para avançar na caminhada.
Outra lembrança foi a morte de
D. José Tupinambá da Frota. Já estávamos recolhidos aos dormitórios quando o
Bosco que tinha mais ligações com o Palácio do Bispo, em voz alta, informou,
falando com alguém que estava na entrada do Seminário: Dom José
morreu!. Embora já esperássemos, aquele frase foi um choque para todos
nós. E aquela noite foi totalmente diferente, na expectativa do dia seguinte em
que nos depararíamos com o corpo do grande responsável pelo desenvolvimento de
Sobral e, especialmente, de nosso Seminário.
Muitos outros momentos estão
em nossos corações pela importância que o Seminário teve em nossas vidas. Mas
chegou um momento que descobri que o meu caminho seria outro e deixei o
Seminário. Mas continuei os estudos nos colégios Cearense, São João e Faculdade
de Direito da Universidade Federal do Ceará, concluindo em 1968. Casei-me com
Ana Maria e tivemos: Antonianna, Médica; João Jorge, Administrador de Empresas
e Marianna, Advogada e Publicitária. Nos deram os netos David, Isabela,
Nicholas, Gabriela e Pedro.
No início da década de 70 entrei para a política e
exerci cinco mandatos consecutivos de Deputado Estadual: 1971-1975,
1975-1979, 1979-1983, 1983-1987 e 1987-1991 (Constituinte), e oito anos
como Deputado Federal nas legislaturas de 1991-1995 e
1995-1999. Tendo ocupado
diversas funções, dentre elas de Presidente da Assembleia Legislativa do Estado
do Ceará (1980-1982) tendo assumido assumiu por diversas vezes a chefia do
Governo Estadual; Na Câmara dos Deputados: Ocupei diversas funções em várias
Comissões fundamentais do Poder Legislativo Federal. CARGOS
PÚBLICOS: Secretário de Administração do Governo do Estado do Ceará
(1981-1985).
CONDECORAÇÕES e TÍTULO DE CIDADANIA – Pelo meu desempenho
como parlamentar, recebi o reconhecimento de várias instituições de diversos
estados que me concederam condecorações. Os municípios de Nova Russas,
Altaneira, Nova Olinda, Santana do Cariri, Novo Oriente e Santa Quitéria, no
Ceará, me concederam Títulos de Cidadania. Em, nome do Brasil, estive em vários
países em Missão Oficial.
Fui Deputado Estadual de atuação destacada. Sempre
recebi votação expressiva nas Regiões Centro-Oeste e Cariri, sendo bem votado
em todo o Estado do Ceará. Recebi, como Deputado Estadual, a maior votação
obtida por um Deputado no Estado do Ceará.
Como candidato a Deputado Estadual e Federal,
obtive em Crateús, a terra natal, as maiores votações registradas até então.
Atualmente, sócio da Empresa SANCTORUM, no segmento
de representações, seguros e comércio em geral. Fundador e sócio com o filho,
João Jorge Cavalcante, da RÁDIO VALE DO RIO POTY em Crateús, Ceará.
(*) Antonio dos Santos Soares Cavalcante, betanista, crateuense, ex deputado estadual e federal
por vários mandatos. Hoje empresário, em Fortaleza.
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