
A Série A do campeonato italiano usou imagens de
macacos em uma campanha contra o racismo, menos
de três semanas depois de os clubes terem se comprometido a combater o
"grave problema" que permeia o futebol no
país.
Os cartazes da
campanha "Não ao racismo" — que serão exibidos na sede da Liga
Italiana, em Milão — retratam três macacos com rostos pintados.
"Mais uma
vez o futebol italiano deixa o mundo sem palavras. É difícil imaginar no que a
Série A estava pensando, quem eles consultaram?", afirmou a organização
Fare Network, que luta contra a discriminação no futebol europeu.
"Em
um país em que as autoridades fracassam em lidar com o racismo semana após
semana, a Série A lançou uma campanha que parece uma piada de mau gosto."
"Essas
criações são uma afronta; vão ser contraproducentes e continuam a desumanizar
os afrodescendentes."
"Chegou a
hora dos clubes progressistas da Liga fazerem ouvir sua voz", completou.
A Kick It Out,
organização que luta pela igualdade e inclusão do futebol, também classificou a
iniciativa como contraproducente:
"O
uso de macacos pela Série A em sua campanha contra o racismo é completamente
inadequado, mina qualquer intenção positiva e será contraproducente."
"Esperamos
que a liga avalie e substitua as imagens da campanha".
Sequência
de casos de racismo
A campanha foi
lançada após uma série de episódios racistas protagonizados nos estádios do
país.
Em novembro, o
atacante Mario Balotelli, do Brescia, ouviu insultos racistas da arquibancada —
e chamou os torcedores que o ofenderam de "mente pequena" e
"imbecis".
Em setembro, o
jogador Romelu Lukaku, da Inter de Milão, também foi alvo de racismo — logo
depois que o belga marcou um gol de pênalti contra o Cagliari, os torcedores do
time adversário começaram a imitar sons de macaco. Ao comentar o episódio, ele
afirmou que o futebol estava dando um passo atrás.
Mais tarde, o
clube da Sardenha foi absolvido da acusação de entoar cânticos racistas,
levando o presidente da organização antidiscriminatória Fare Network a dizer
que as autoridades italianas de futebol e seus sistemas disciplinares para combater
o racismo "não eram adequados para o propósito".
No início deste
mês, o jornal italiano Corriere dello Sport foi criticado pela manchete
"Black Friday", ao lado de fotos do zagueiro Chris Smalling, da Roma,
e do atacante, Lukaku, da Inter, antes de uma partida entre os dois times.
O especialista
em futebol europeu James Horncastle criticou a Série A pelos cartazes.
"A questão
é como a Liga não consegue ver como isso é uma colaboração carregada e
equivocada para uma iniciativa contra o racismo", afirma.
"Se você se
perguntava por que um grupo seleto de clubes da Série A está combatendo o
racismo com as próprias mãos, a fé na liga é sub-zero."
'Somos
todos macacos'
Em entrevista
coletiva na segunda-feira, o autor dos cartazes, o artista plástico Simone Fugazzotto,
que sempre usa macacos em seu trabalho, explicou o conceito por trás do uso dos
animais:
"Para um
artista, não há nada mais importante do que tentar mudar a percepção das coisas
por meio de seu próprio trabalho."
"Decidi
retratar macacos para falar sobre racismo porque eles são a metáfora dos seres
humanos. No ano passado, eu estava no estádio para ver Inter x Napoli [partida
em que o zagueiro Kalidou Koulibaly, do Napoli, foi alvo de ofensas raciais] e
me senti humilhado, todo mundo estava gritando 'macaco' para o Koulibaly, um
jogador que eu respeito."
"Eu sempre
pintei macacos nos últimos cinco a seis anos. Então pensei em fazer esse
trabalho para ensinar que somos todos macacos. Fiz o macaco ocidental com olhos
azuis; o macaco asiático com olhos amendoados; e o macaco negro posicionado no
centro, de onde vem tudo. O macaco se torna a fagulha para ensinar a todos que
não há diferença, não há homem ou macaco, somos todos iguais. Somos todos
macacos", acrescentou.
O
diretor-executivo da Série A, Luigi de Siervo, afirmou, por sua vez, que a Liga
está comprometida a combater "todas as formas de preconceito".
"O
compromisso da Liga contra todas as formas de preconceito é forte e concreto,
sabemos que o racismo é um problema endêmico e muito complexo, que abordaremos
em três níveis diferentes; o cultural, por meio de obras como as de Simone; o
esportivo, com uma série de iniciativas em conjunto com clubes e jogadores, e o
repressivo, em colaboração com a polícia." (Fonte: BBC)
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