
O psicanalista e escritor Contardo Calligaris é um
dos intelectuais mais influentes em atividade no Brasil. Em entrevista ao
programa Impressões, da TV Brasil,
que vai ao ar hoje (16) às 21h, o italiano radicado no Brasil fala do
comportamento dos jovens e adolescentes e também manifesta a sua visão sobre o
sentido da vida.
Na conversa, ele revela os motivos que o fizeram refletir sobre esse tema. “Deve ser porque a minha [vida] está acabando e é sempre um bom momento para pensar,” declara, aos risos.
“Esse
assunto de alguma forma sempre me preocupou, mas não é um assunto realmente
para jovens. Então, esse questionamento existe, mas é um tipo de meditação para
que seja frutífero. É uma meditação para o último terço
da vida”, acrescenta.
Para Calligaris, a
felicidade não se restringe ao conceito de juventude. “As pessoas da terceira idade, contrariamente ao que os
adultos e os jovens imaginam, não são as mais infelizes. Ao contrário. Vivem
melhor, porque são as pessoas que vivem com mais atenção a sua própria vida. No
fundo é uma questão de atenção. Um dos problemas da insatisfação contemporânea
é que somos extremamente desatentos”, afirma.
Sobre os valores adotados
pela juventude, o psicanalista lembra os tempos em que era terapeuta de
adolescentes. Diz que o Brasil convive com um verdadeiro
"espantalho", que é a obsessão com o vestibular e o ingresso nas
universidades.
“Você ouve pais falando como se a adolescência inteira fosse só um exercício de preparação para o vestibular. O problema é que o sentido da vida é estudar para entrar na universidade. Mas a gente tem que pensar, ou pelo menos se colocar uma vez essa pergunta: - E se meu filho, minha filha, se eles - Deus não queira – morressem amanhã? É muito importante que a vida deles tenha valido a pena”.
“Você ouve pais falando como se a adolescência inteira fosse só um exercício de preparação para o vestibular. O problema é que o sentido da vida é estudar para entrar na universidade. Mas a gente tem que pensar, ou pelo menos se colocar uma vez essa pergunta: - E se meu filho, minha filha, se eles - Deus não queira – morressem amanhã? É muito importante que a vida deles tenha valido a pena”.
Sobre o sentimento de
felicidade, é categórico: “Não é
nem exato dizer que eu busco a alegria, mas eu prezo a alegria. A felicidade
sempre me faz a impressão de uma coisa um pouco estúpida. Uma espécie de
propaganda de margarina numa manhã falsamente ensolarada”. E é crítico em
relação a esse sentimento fabricado pela superexposição nas redes sociais. “As
contas de facebook e de instagram são, de certa forma, a mesma coisa que uma
fotografia com um falso sorriso. São fundadas na pretensão de mostrar aos
outros uma esperança, um pouco triste...de suscitar a inveja dos outros”.
Para o psicanalista, a
sociedade é vítima de uma cultura que a convence de que o sentido da vida está
após a morte, no futuro e até mesmo nos próximos projetos que serão realizados.
Na visão de Calligaris, o trajeto percorrido é que deve ser valorizado. Na sua
opinião, é preciso praticar um olhar diferenciado diante do cotidiano.
“Valorizar a vida da gente não significa, necessariamente,
querer ter comportamentos e gestos
heroicos que mereçam registros na televisão. Valorizar a vida é saber
transformar a ida de cada dia à padaria da esquina, numa aventura de descoberta
dos outros, do que acontece na rua, do cachorro com o qual você cruza”.
“O sentido da vida é
a própria vida. Isso pode parecer uma total trivialidade, mas para a maioria
das pessoas é um escândalo. Pouquíssimas pessoas conseguem viver pensando que o
sentido da vida está na vida e, vou dizer mais, é a própria vida”. (Ag. Brasil)
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