O
novo coronavírus, que já infectou mais de 2 mil pessoas em surto na China e
atingiu outros 12 países, é transmissível em seu período de incubação, ou seja,
antes dos sintomas aparecerem, segundo autoridades chinesas.
Até o domingo (26), 81 mortes por causa
do vírus foram confirmadas no país. O ministro da Saúde chinês, Ma Xiaowei,
disse que a capacidade do vírus de se espalhar parece estar aumentando.
Diversas cidades chinesas adotaram restrições
significativas de viagens. A cidade de Wuhan, onde o surto começou, está em
total quarentena.
As infecções estavam em um "estado crucial de
contenção", segundo Ma Xiaowei. Autoridades anunciaram que a venda de
animais selvagens está proibida no país todo. Acredita-se que o vírus surgiu em
animais, mas nenhuma causa foi oficialmente identificada.
Em humanos, o período de
incubação — no qual a pessoa tem a doença, mas nenhum sintoma — varia entre um
e 14 dias, segundo as autoridades. Sem os sintomas, a pessoa
pode não saber que tem a infecção, mas já estar espalhando a doença.
Dificuldade na contenção
A descoberta é um avanço significativo no entendimento
sobre o vírus e fará com que a China tenha que ir mais longe para impedir sua
disseminação.
Conhecido como Sars, o último surto mortal de
coronavírus a atingir a China, em 2002, era contagioso apenas a partir do
momento em que os sintomas apareciam. O mortal vírus do Ebola também só
transmissível por quem está com os sintomas.
Isso facilita a contenção da doença, pois basta
identificar e isolar pessoas que estão doentes e monitar qualquer um com que elas
tenham entrado em contato.
Doenças que se espalham antes de você saber que está
doença são mais difíceis de conter — um bom exemplo é o vírus da gripe, que
além de tudo também sofre muitas mutações (dificultando a vacina).
O estágio atual de perigo não é o mesmo de algumas
doenças que se tornaram pandemias mundiais, como a gripe suína. Mas parar uma
doença que pode ser transmitida antes dos sintomas aparecerem será um trabalho
muito mais difícil para as autoridades chinesas.
Como está a situação em Wuhan?
O prefeito da cidade, Zhou Xianwang, disse que a
estimativa é de mil novos pacientes nos próximos dias.
Acidade tem tido filas nos hospitais de pacientes
buscando tratamento.
Zhou afirmou que um aumento em doações de particulares
ajudou a reduzir a falta de alguns equipamentos médicos.
A britânica Sophia, que está
na cidade em quarentena, disse à BBC que as pessoas estão trancadas em suas
casashádias.
"Descobrimos sobre o
vírus em 31 dezembro", afirma ela. "Só ficou pior e pior. Agora a
situação está realmente ruim."
Sem táxis nas ruas, motoristas voluntários têm levado
as pessoas aos hospitais lotados.
"Não há carros, então ficamos responsáveis por
trazer as pessoas ao hospital e levá-las de volta para casa. Depois fazemos um
desinfecção. Tudo de graça", disse o voluntário Yin Yu à agência AFP.
O que é o vírus?
Nomeado oficialmente de 2019-nCoV, o novo coronavírus
é similar a outros dois identificados nas últimas décadas.
Um deles foi responsável por causar a Síndrome
Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês), e matou 774 das 8.098
infectadas em uma epidemia que começou na China em 2002.
Outro esteve por trás da Síndrome Respiratória do
Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), que matou 858 dos 2.494 pacientes
identificados com a infecção desde 2012 nesta região do mundo.
Até o momento, entre os quase 3 mil casos notificados
do 2019-nCoV, houve 81 mortes — todas na China.
O novo vírus causa infecção respiratória aguda.
Sintomas começam com uma febere, seguida de tosse seca
e, depois de uma semana, leva a falta de ar. Ainda não há cura nem vacina.
Como o vírus se espalhou?
A disseminação rápida da doença coincide com o
festival do Ano Novo Chinês, um dos períodos em que mais há viagens internas na
China.
Da cidade de Wuhan, onde vivem 11 milhões de pessoas,
a doença se espalhou para cidades vizinhas e outras províncias.
Fora da China, um pequeno
número de infecções foi confirmado em países vizinhos, como Japão, Taiwan,
Nepal, Tailândia, Vietnã, Coreia do Sul e Singapura.
Também foram confirmados
casos na Austrália, nos EUA e na França.
Qual o risco do surto chegar
ao Brasil?
No momento, nenhum caso do 2019-nCoV foi confirmado no
Brasil — e, segundo o governo federal e epidemiologistas ouvidos pela BBC News
Brasil, mesmo que isso ocorra, o risco é baixo de que haja um surto por aqui.
O infectologista Benedito Antonio Lopes da Fonseca,
professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo, avalia que não há motivos para a população brasileira ter receios no
momento sobre o surto do 2019-nCoV ao Brasil.
"Com o Sars, houve uma grande epidemia na China e
pequenos surtos em outros países, mas acabou ali. Uma grande vantagem da
globalização é que as medidas de contenção de epidemias são colocadas em
prática muito mais rápido do que no passado", afirma Fonseca.
"É preciso avaliar a movimentação de pessoas
entre esta região da China e o Brasil. Se for baixo, acredito que o risco é
mínimo, quase inexistente, de o vírus chegar ao país."
O infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que o novo coronavírus é
preocupante por ser desconhecido, mas que sua disseminação, na China e
internacionalmente, é aparentemente mais "suave" do que as do Sars e
do Mers.
"Pelo tempo desde que a doença começou até agora,
o número de casos notificados, de casos graves e de mortes ainda é baixo,
especialmente levando em conta o tamanho da população chinesa", afirma
Boulos.
O médico afirma que a possibilidade do novo
coronavírus chegar ao Brasil existe, mas é "baixa, pouco provável".
"Isso não descarta a necessidade de ficarmos alerta. Mas o Brasil tem
outras doenças mais alarmantes com que devemos nos preocupar."
Ambos os infectologistas concordam que, diante desta
situação, não é necessário fazer a triagem de passageiros em portos e
aeroportos do país.
Mas recomendam que sejam tomadas algumas medidas
nestes locais para orientar os passageiros, por meio de cartazes nos terminais
e avisos sonoros nos aviões, para que busquem um posto de saúde caso tenham
sintomas como febre e problemas respiratórios.
"Se virar uma emergência global, vai ser
necessário ter um controle muito mais rígido das fronteiras", alerta
Fonseca.
(Fonte: BBC)
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