Um comitê especial
da Organização Mundial da Saúde (OMS) se reunirá novamente nesta quinta-feira
(30/01) para decidir se o surto do novo coronavírus é ou não
uma emergência de saúde pública de interesse internacional.
Ao anunciar a nova
reunião, o diretor-geral da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesus, explicou que
apenas 1% dos mais de 6 mil casos confirmados até agora do vírus descoberto em
dezembro foram registrados fora da China.
Mas ele destacou
que já foram notificadas transmissões do novo coronavírus em ao menos outros
três países. "O potencial de maior disseminação global é o motivo pelo
qual convoquei o comitê", disse Ghebreyesus.
A decretação de
uma situação de emergência de saúde pública de interesse internacional é uma
medida usada raramente, apenas para eventos mais graves que podem demandar
ações globais para conter a transmissão de uma doença.
O que é uma
situação de emergência internacional?
A OMS a define
oficialmente como um "evento extraordinário que constitui um risco à saúde
pública para outros Estados por meio da disseminação internacional de doenças e
potencialmente exige uma resposta internacional coordenada".
Ela é decretada a
partir de uma recomendação feita por um comitê de especialistas ao
diretor-geral da agência.
Este grupo já
havia se reunido no final da semana passada, por dois dias seguidos. Na
ocasião, a OMS concluiu que ainda era cedo para considerar o surto era uma
situação de emergência internacional e que mais informações eram necessárias
para tomar essa decisão.
A situação era,
naquele momento, bem diferente de agora. Havia pouco menos de 600 casos
confirmados na China e outros sete países, e menos de 20 mortes causadas pelo
2019-nCov, como é chamado oficialmente o novo coronavírus.
Também não havia
sido registrada a transmissão do vírus fora da China. Desde então, eventos
deste tipo foram notificados por Alemanha, Japão e Vietnã.
Ao mesmo tempo, já
há mais de 7 mil casos confirmados em um total de 16 países e 170 mortes, todas
na China.
Por estes motivos,
infectologistas ouvidos pela BBC News Brasil consideram provável que seja
decretada uma situação de emergência pela OMS ao fim da nova reunião de seu
comitê.
Novo coronavírus foi descoberto em dezembro na China
Decisão permitiria
mobilizar mais recursos para conter surto
Rivaldo Venâncio,
coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), destaca que, na semana passada, a agência já havia
informado que a decisão de não decretar uma situação de emergência não havia
sido unânime. Isso indica que alguns membros do comitê já haviam identificado
que esta medida seria necessária.
E, na
segunda-feira passada, a OMS admitiu ter ocorrido um "erro de
redação" na divulgação da avaliação de risco global da epidemia, até então
identificado como "moderado" em seus relatórios e que passou a ser
descrito como "elevado".
No entanto, a
agência disse que a avaliação da situação permanece a mesma desde 22 de
janeiro, com um risco "muito alto" na China, e "alto"
regionalmente e no restante do mundo.
"Mesmo que
eles não decretem uma situação de emergência, devem elevar o nível de alerta
quanto ao surto e apontar que o problema pode ser mais grave do que imaginavam,
porque houve em uma semana uma evolução razoável do surto e dia após dia quase
dobrou o número de casos registrados", diz Venâncio.
"Isso abre
caminho para tomar uma série de medidas como liberar mais rapidamente o teste
de medicamentos e vacinas e pedir que sejam publicadas informações de
observações clínicas e laboratoriais de casos do vírus."
'Situação é
preocupante, mas não há motivo para pânico'
Kleber Luz,
professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, avalia ser provável que a OMS decrete uma situação de
emergência por causa da rápida evolução do surto e porque isso facilita o
combate ao vírus.
"Se isso
ocorrer, vai haver uma maior mobilização dos organismos de saúde de todos os
países, tenham sido eles afetados ou não, e há como obter um volume maior de
recursos financeiros e de pessoal e permitir que uma vacina seja desenvolvida
mais rapidamente", diz Luz.
"Decretar uma
emergência não bloqueia a doença, mas facilita seu enfrentamento."
Benedito da
Fonseca, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo, explica que os casos de transmissão fora da China são
preocupantes, porque, a partir deles, é possível que ocorram outros contágios
que deem origem a surtos locais.
"Emergência é
uma palavra forte. O número de casos vem crescendo rapidamente, mas, ainda que
este coronavírus pareça ser mais transmissível que outros que causaram surtos
no passado, ele aparentemente é menos letal", diz Fonseca.
"Então, é de
fato uma situação com a qual devemos ficar muito preocupados, mas não pode
haver pânico."
(BBC)
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