As farmacêuticas Pfizer e BioNTech anunciaram nesta quarta-feira
(18/11) que a vacina que estão desenvolvendo contra o coronavírus tem 94% de eficácia entre pessoas com mais de 65 anos.
O anúncio, baseado na conclusão da fase 3 de testes, acontece poucos dias depois de duas empresas que também trabalham em vacinas contra o coronavírus publicarem dados novos sobre eficácia de seus produtos.
Na
segunda-feira (16/11), a empresa americana Moderna publicou dados preliminares
sobre sua nova vacina contra a Covid-19 que apontam uma eficácia de quase 95%.
Os desenvolvedores da vacina russa Sputnik V publicaram
resultados similares. Além disso, a chinesa Sinovac anunciou que sua
vacina, a CoronaVac, é segura e conseguiu
induzir a produção de anticorpos em 97% de seus voluntários
testados.
Agora a
Moderna e a Pfizer/BioNTech disseram que planejam pedir aprovação para
distribuírem suas vacinas nas próximas semanas.
Mas ainda
que esses anúncios encham as pessoas de otimismo, especialistas pedem
cautela: a maioria dos dados publicados até agora são preliminares e muitas
perguntas centrais sobre essas vacinas ainda precisam ser respondidas.
As três
vacinas que até agora divulgaram dados sobre eficácia (da Pfizer/BioNTech, da
Moderna e a Sputnik V) foram testadas em dezenas de milhares de pessoas, não
apresentaram problemas significativos de segurança e nem reportaram reações
adversas inesperadas nos voluntários.
No entanto,
ainda não se sabe quanto tempo dura a imunidade oferecida pela vacina. Os
voluntários precisarão ser acompanhados durante muito mais tempo para que essa
dúvida seja esclarecida.
Além
disso, nenhuma das empresas apresentou uma análise detalhada de sua eficácia em
diferentes faixas etárias, embora Tal Zaks, diretor-médico da Moderna, tenha
dito à BBC que seus dados preliminares sugerem que a vacina "não parece
perder sua potência" em pessoas mais velhas.
Ainda não
se sabe se as vacinas simplesmente evitam que as pessoas adoeçam gravemente ou
se também podem ajudar a impedir a propagação do vírus de uma pessoa para
outra.
E é muito
importante lembrar que todas as empresas ainda estão testando seus produtos,
então os números finais de eficácia podem mudar.
Resultados
que superam as expectativas
Antes de
a Pfizer e a BioNTech anunciarem em 9 de novembro que sua vacina contra o
coronavírus funciona em 9 de 10 casos, a comunidade científica acreditava que
uma eventual vacina bem sucedida protegeria em torno de 50%
das pessoas imunizadas.
Mas essa
hipótese conservadora caiu por terra logo que saíram os relatórios na semana
passada, indicando que não apenas uma vacina pode ser aprovada como também uma
que seja altamente eficaz.
Os dados
dessas três vacinas que compartilharam relatórios preliminares aumentam a esperança de que as outras que também estão em
desenvolvimento também funcionem.
O
professor Peter Openshaw, do Imperial College de Londres, disse à BBC que as
notícias sobre a vacina da Moderna, a última a publicar seus dados, são
"extremamente emocionantes".
"Aumenta
consideravelmente o otimismo de que teremos uma seleção de boas vacinas nos
próximos meses", disse ele, antes de acrescentar que são necessários
detalhes mais completos do que os publicados recentemente para cantar vitória.
Múltiplas
vacinas
Stephen Evans, professor de farmacoepidemiologia da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM, na sigla em inglês), concorda que os anúncios dos desenvolvedores de vacinas são animadores.
"O fato de as três vacinas serem mais de 90% eficazes significa que é quase certo que encontraremos várias vacinas que funcionam e protegem contra a SARS-CoV-2. É uma porcentagem muito maior do que qualquer um de nós, especialistas de campo, esperavam", disse ele em entrevista à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).
Todos
esses resultados levam a outra pergunta central: quão próximos estamos da tão
esperada vacina?
Em
primeiro lugar, os estudos de cada fabricante precisam conseguir mostrar que a
vacina é completamente segura e que evita que as pessoas adoeçam ou pelo menos
ajuda a reduzir o número de mortos.
Os órgãos
reguladores devem então aprovar (ou não) cada uma das vacinas antes de elas
serem distribuídas para a população.
Para o
professor Stephen Evans, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de
Londres, estamos mais perto de obter uma vacina do que se pensava.
"As
empresas devem fornecer aos reguladores um relatório completo da fase 3
dos testes, que será avaliado em conjunto com os outros relatórios de
fases anteriores dos testes. Tudo isso pode acontecer até o início de janeiro,
mas reguladores têm dito que algumas vacinas terão pelo menos uma autorização
de uso emergencial e já poderiam ser distribuídas às pessoas logo menos."
Entenda
cada fase dos testes para vacinas
No
entanto, para que milhões de pessoas comecem a ser vacinadas, Evans estima que
provavelmente teremos que esperar talvez até março. Esse ritmo também será
diferente a depender do país.
"Muito
provavelmente os países ricos terão acesso à vacina mais cedo do que aqueles
com menos recursos, mas a diferença deve ser pequena."
"Os
Estados Unidos provavelmente terão acesso a quase todas as vacinas rapidamente.
No Reino Unido, por exemplo, a previsão é que a Moderna chegue um pouco mais
tarde, se chegar."
A Coalizão
para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi, na sigla em inglês) se
comprometeu a trabalhar para que a vacina chegue aos países de baixa e média
renda, plano que inclui o imunizante desenvolvido pela empresa Moderna.
Evans
está otimista com o sucesso do plano, mas alerta que a colaboração dos governos
envolvidos será essencial para ele dar certo.
Obstáculos
pela frente
Quando
uma vacina for finalmente aprovada, mais obstáculos restarão pela frente. Um
deles será chegar a bilhões de pessoas em todo o mundo.
Para
armazenar a vacina Pfizer, por exemplo, ela precisa ser mantida em ultrafrio, em torno de -75°C, embora possa ser mantida
na geladeira por cinco dias. Isso representa sérios problemas logísticos
para transportar a vacina até lugares remotos.
A vacina
da Moderna parece ser mais fácil de armazenar, pois pode ser mantida a -20°C
por até seis meses e mantida em freezer normal por até um mês.
A
Pfizer/BioNTech acredita que será capaz de fornecer 50 milhões de doses até o
final deste ano e cerca de 1,3 bilhão até o final de 2021, enquanto a Moderna
espera ter até 1 bilhão de doses em todo o mundo no próximo ano.
Outra que
gera grandes expectativas é a vacina produzida pela parceria AstraZeneca/
Oxford, que concordou em fornecer 2 bilhões de doses globalmente, caso seja
aprovada.
Em alguns
países, como o Reino Unido e o Brasil, os idosos devem ter prioridade
na obtenção da vacina, enquanto em outros, como a França, será dada
prioridade também a pessoas que realizam trabalhos considerados de risco, como
motoristas ou vendedores.
'Guerra
das vacinas' no Brasil
O Brasil
tem ainda mais um obstáculo particular à eventual distribuição de vacinas a
serem aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Grande
parte da estratégia do país está se fiando em duas candidatas: a
AstraZeneca/Oxford e a Sinovac.
A
primeira recebeu um aporte bilionário do governo federal para produção em
território nacional pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mas a dupla
desenvolvedora ainda não divulgou resultados preliminares da fase 3 de estudos
sobre o tamanho de sua eficácia.
A
segunda, chamada de CoronaVac, é produzida pela fabricante chinesa Sinovac, e
acabou envolvida numa ruidosa disputa política entre o presidente da República,
Jair Bolsonaro, e o governador paulista, João Doria.
Essa
briga tem afetado o cronograma de estudos, análises e liberações ligadas à
CoronaVac.
O governo
de São Paulo, por meio do Instituto Butantan (que fabricará o imunizante no
país), prevê a produção de 46 milhões de doses ainda neste
ano, mas o embate político pode empurrar esse prazo.
A
expectativa do governo é que a campanha de vacinação em São Paulo comece
até fevereiro de 2021.
Bolsonaro
disse ainda que o governo federal não comprará nenhuma
vacina oriunda da China, mesmo que seja aprovada pela Anvisa e sofre
pressão de militantes de direita da sua base de apoio. Costumam circular em
grupos de WhatsApp de apoiadores do governo teorias conspiratórias contra a
vacina desenvolvida pela Sinovac.
Na
terça-feira (17/11), um estudo publicado na revista científica The Lancet
apontou que a CoronaVac é segura e conseguiu induzir a produção de anticorpos
em quase todos os voluntários que receberam a vacina nas fases anteriores dos
testes. Mas só dados preliminares da fase 3, como os divulgados pela Moderna ou
pela Pfizer/BioNTech, serão capazes de apontar a dimensão da eficácia do
imunizante e sua segurança.
Doria
reage afirmando que "a vacina do Butantan é a vacina do Brasil, de todos
os brasileiros" e pediu a Bolsonaro que tivesse "grandeza para
liderar o país" durante a pandemia, e que evitasse contaminar o combate à
pandemia com uma disputa ideológica. (G1)
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