A turbulência causada pela guerra pode distorcer nossa percepção de quem está ganhando, quem está perdendo e quanto tempo tudo isso irá durar. Embora ninguém possa oferecer respostas definitivas, as pesquisas acadêmicas sobre as guerras nos dão algumas indicações sobre como o conflito na Ucrânia poderá desenvolver-se.
Pesquisas indicam que o caminho para a guerra relembra um jogo de
negociação, em que os países competem sobre questões territoriais e de
recursos, até o patriotismo ou o estilo de governo. Em vez de ir à guerra, o
que é muito caro, os Estados concorrentes preferem resolver esses desacordos
pacificamente.
Idealmente, os dois lados baseiam-se nas suas probabilidades relativas
de ganhar uma guerra hipotética. Às vezes, isso não é possível e acontece a
guerra.
A guerra, normalmente, é o resultado de um desses problemas.
Primeiramente, os Estados poderão não ter informações suficientes para
determinar suas probabilidades relativas de sucesso.
Em segundo lugar, os dois lados poderão não confiar que um acordo
celebrado hoje será honrado amanhã. E, por fim, os países poderão não ser
capazes de resolver a questão contenciosa, especialmente quando tensões
étnicas, religiosas ou ideológicas estão envolvidas.
Segundo esse enfoque, a guerra terminará quando o problema que a causou
for resolvido com lutas no campo de batalha. O tempo de duração e a forma dos
combates dependem do tipo e da extensão do problema.
No caso da Ucrânia, aparentemente os dois lados não tinham informações
precisas sobre suas probabilidades relativas de sucesso. O sucesso na guerra é
um produto de dois fatores críticos: a capacidade de lutar e a disposição para
sofrer custos.
Era claramente evidente que o exército russo era e é muito superior ao
da Ucrânia, em termos de quantidade de armas e de soldados. Mas o que não era
evidente para os russos até o início dos combates é que o povo ucraniano está
muito mais disposto a lutar do que eles haviam previsto.
A Rússia agora sabe que calculou mal a disposição do povo ucraniano, mas
a dimensão desse erro de cálculo ainda é desconhecida. O problema é que é
difícil para a Ucrânia demonstrar o quanto ela está disposta a sofrer custos,
enquanto a Rússia está inclinada a desconfiar de qualquer tentativa ucraniana
de comunicar essa disposição, antevendo exageros do oponente para obter um
acordo mais favorável.
Isso indica que os dois lados terão dificuldades para resolver o
problema de informação. Quando isso acontece, os países frequentemente acabam
travando guerras de desgaste que duram até que um dos lados se renda.
As guerras exigem apoio e aprovação tácita dentro do país.
Independentemente do estilo de governo, todo líder nacional depende do apoio de
um grupo de pessoas ou de uma coalizão para permanecer no poder.
Vladimir Putin depende dos oligarcas, da máfia russa e dos militares
para sua sobrevivência. E, embora Putin tenha tentado formar uma fortaleza
financeira que permitisse proteger os interesses dos oligarcas, as sanções
impostas pelo ocidente prejudicaram a maior parte dos seus esforços.
O custo da guerra já é muito alto para os oligarcas e só aumentará ao
longo do tempo. Quando uma parcela suficiente da coalizão de Putin voltar-se
privadamente contra a guerra, Putin será pressionado a encerrar o conflito para
não se arriscar a perder o poder. Mas a dúvida é sobre qual é esse limite e se
existem alternativas viáveis que atendam melhor aos interesses dessa coalizão.
Os custos da guerra
Putin também depende, ainda que em menor grau, do apoio da população em
geral. O povo está pagando os custos da guerra na forma de inflação, declínio
da economia e mortes no campo de batalha.
Até agora, Putin protegeu-se desses custos de três formas:
primeiramente, ele emprega um sistema seletivo de alistamento, que o resguarda
do custo total das mortes no campo de batalha.
Em segundo lugar, ele controla o sistema de imprensa estatal e censurou
outras organizações midiáticas, limitando as informações disponíveis para o
público em geral. E, como não há eleições livres e justas, a única forma que o
povo russo tem para derrubar Putin é a mobilização em massa e a revolução.
Já o cálculo para a Ucrânia é muito mais direto. A Ucrânia é um país
democrático que busca agressivamente a integração com o restante da Europa.
Isso significa que a disposição da população em geral a enfrentar os altos
custos é da maior importância.
Sem massa crítica de apoio, a resistência ao exército russo cairá e a
Ucrânia perderá a guerra. Mas a feroz determinação do povo ucraniano até aqui
indica que isso não ocorrerá no futuro próximo.
À medida que as táticas russas tornam-se mais agressivas, o povo
ucraniano vem pagando custos cada vez mais altos. Se observarmos a disposição
média dos ucranianos a sofrer e lutar se reduzir, esta será uma causa de
preocupação.
Para isso, os governos ocidentais intensificaram o auxílio humanitário e
de defesa para a Ucrânia, a fim de garantir que o apoio ucraniano à guerra se
mantenha.
Por fim, parece que essa guerra não terminará rapidamente, já que levará
bastante tempo para que um dos lados faça com que o outro desista do conflito.
Ou a transição das forças armadas russas para o bombardeio indiscriminado de
alvos civis terá sucesso e destruirá a resistência ucraniana, ou as mortes nos
campos de batalha e os sofrimentos econômicos domésticos conseguirão vencer a
vontade de lutar da Rússia.
Não há um resultado provável nas próximas semanas ou meses, o que
significa que as pessoas em todo o mundo podem apenas assistir aos horrores da
guerra se desdobrando e aguardar o que irá acontecer. (BBC)
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