Assim,
uma redução de preços pela empresa é improvável neste momento, dizem os
especialistas.
Mas
os analistas também não acreditam em nova alta para corrigir a defasagem atual
— estimada entre 5% e 10%, ante quase 40% no início de março, quando o petróleo
chegou próximo a US$ 140 e o dólar ainda era negociado acima de R$ 5.
Quanto
aos efeitos na inflação em geral, há quem defenda que seria necessário um dólar
em queda por período mais longo para que a mudança do câmbio tenha efeitos em
itens como alimentos e bens industriais.
E
mesmo quem acredita que a queda já dura tempo relevante admite que, quando o
dólar sobe, os repasses são sempre mais rápidos do que quando ele cai.
"Existe
uma resistência maior dos empresários em dar descontos", observa Rafaela
Vitória, economista-chefe do Banco Inter.
Entenda
o atual cenário para os preços dos combustíveis, o que leva Brasil a ter
gasolina mais cara do que seus vizinhos da América do Sul e o que esperar da
inflação em geral, diante do atual cenário de queda do dólar.
Gasolina
pode ficar mais barata com queda do dólar?
Os
especialistas aqui são unânimes: neste momento, isso é improvável.
Étore
Sanchez, economista-chefe da gestora de recursos Ativa Investimentos, lembra
que, em primeiro lugar, é preciso diferenciar preços da Petrobras e preços dos
combustíveis na bomba.
A
Petrobras controla os preços nas refinarias, o começo da cadeia da gasolina que
chega aos postos. A gasolina vendida nas refinarias é de tipo A e não possui
etanol. Já a gasolina que se compra nos postos é de tipo C, com a adição de
etanol feita pelas distribuidoras.
Segundo
estimativa da Petrobras, o peso da gasolina comercializada pela empresa no
preço final do produto vendido ao consumidor é de cerca de 38%, com o restante
do preço formado pelo custo do etanol adicionado, impostos e a margem de
distribuição e revenda.
"A
gasolina A não tem ainda um potencial de queda, ainda vemos uma defasagem com
relação ao preço internacional, mesmo com o câmbio cotado abaixo de R$
4,80", diz Sanchez.
Segundo
o economista, a defasagem está atualmente em cerca de 7%, comparado a quase 40%
no pior momento desse ano, quando o barril de petróleo do tipo brent bateu em
R$ 139, maior valor em 14 anos.
No
cálculo da defasagem, os economistas comparam os preços da Petrobras com o
valor da gasolina no Golfo Pérsico, região onde é produzido o maior volume de
petróleo do mundo, fazendo a conversão cambial entre os dois valores.
A
Petrobras adotou o chamado PPI (Preço de Paridade de Importação) em 2016, após
anos praticando preços controlados, sobretudo no governo de Dilma Rousseff
(PT). O controle de preços era uma forma de mitigar a inflação, mas causou
grandes prejuízos à petroleira.
"Vemos
uma defasagem entre 5% e 10%, tanto no diesel, como na gasolina na média da
última semana. É uma defasagem relativamente baixa e que a Petrobras deve
carregar ainda por um tempo, para observar a tendência das duas variáveis
[petróleo e câmbio]", diz Rafaela Vitória, do Inter.
"O
cenário mais provável hoje é de uma estabilidade dos preços. Parando de subir,
a inflação tende a perder força, mas uma queda dos preços da gasolina na bomba,
com o petróleo ainda próximo dos US$ 110, é difícil", afirma a analista.
Quanto
ao pacote de medidas aprovadas em março no Congresso para tentar frear a alta
dos combustíveis, as leis que criam um fundo para estabilização de preços e
auxílios para categorias como motoristas de aplicativo, taxistas e entregadores
foram aprovadas no Senado, mas ainda precisam passar pela Câmara.
Já a
mudança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre
combustíveis, aprovada nas duas casas, ainda está travada na etapa da
regulamentação pelos Estados, que devem perder bilhões em arrecadação com a
medida.
Por
que gasolina é mais cara no Brasil do que nos vizinhos?
Segundo
os especialistas, são dois os motivos principais: a política de preços de cada
país e a carga de impostos.
Países
que têm gasolina muito mais barata do que a do Brasil, como Venezuela e
Argentina, praticam intervenções estatais nos preços, como subsídios pesados no
caso venezuelano e congelamento de valores, no caso argentino.
Conforme
o levantamento mais recente do projeto Global Petrol Prices, feito em 21 de
março, o Brasil tem atualmente a segunda gasolina mais cara entre as principais
economias sul-americanas, atrás apenas do Uruguai.
"Cada
país tem uma política de preço diferente e uma tributação diferente", diz
Pedro Rodrigues, sócio da consultoria CBIE Avisory e diretor do CBIE (Centro
Brasileiro de Infraestrutura).
"Na
Venezuela, por exemplo, a PDVSA (petroleira estatal venezuelana) praticamente
dá a gasolina para as pessoas de graça. Há um subsídio muito grande da estatal
ao combustível, ao ponto que o litro da gasolina na Venezuela custa mais barato
que um litro de água", observa.
"Já
a Argentina congelou preços para controlar a inflação, impedindo os agentes do
setor de reajustar valores", acrescenta.
Segundo
Rodrigues, no entanto, esse tipo de política é problemática. "Cria
artificialidades, leva a desabastecimento e gera incentivos econômicos
errados", afirma.
Rodrigues
observa que a tributação reflete diferentes entendimentos das sociedade sobre o
uso de combustíveis.
Nos
Estados Unidos, por exemplo, a taxação de combustíveis é baixa, por ser um país
cuja economia é muito centrada no automóvel, que definiu até mesmo o modelo de
urbanização das cidades. Já o Reino Unido tributa pesadamente os combustíveis
fósseis, a partir de um entendimento de que seu uso precisa ser desincentivado,
priorizando o transporte público.
"Política
tributária não tem pior ou melhor, é uma questão de escolha da sociedade",
diz Rodrigues.
Segundo
ele, no Brasil, uma reforma tributária poderia, por exemplo, reduzir a
tributação do diesel, gás de cozinha e energia elétrica, já que são bens essenciais.
E a
inflação, pode melhorar com a queda do dólar?
Aqui,
os economistas têm visões diferentes, mas acabam todos admitindo que o efeito
para a inflação deve ser pouco.
"No
curtíssimo prazo, o câmbio bate na inflação através dos combustíveis, devido à
política de paridade de preços", explica Sanchez, da Ativa Investimentos.
"Como não estamos vendo potencial para reajuste baixista [da gasolina],
mesmo com o alívio do câmbio, por essa via não deve haver impacto."
Já
para as cadeias onde o câmbio tem influência por caminhos mais longos — como a
importação de componentes que entram em produtos industriais e as commodities
agrícolas usadas na ração animal —, seria necessário um real valorizado por
mais tempo para que houvesse impacto favorável, avalia o economista.
Sanchez
estima que o dólar deve chegar ao fim de 2022 cotado a R$ 5,40, pois, na
avaliação dele, o nível atual, abaixo de R$ 5,80, não é compatível com os
"fundamentos" da economia brasileira, como a frágil situação das
contas públicas do governo federal.
Já
Rafaela Vitória, do Banco Inter, projeta um dólar a R$ 5 no fim do ano e
acredita que o câmbio já está em baixa a tempo suficiente para ter um efeito
positivo na economia, posto que ele fechou 2021 cotado a quase R$ 5,60 e
acumula três meses de queda, chegando a R$ 4,75 na sexta-feira (25/3).
"Podemos
falar num impacto positivo sim, é uma queda já de três meses", afirma.
"Mas
vale lembrar que, quando o dólar sobe, os repasses são mais rápido do que
quando o dólar cai. Para baixo, existe uma resistência maior. Historicamente,
mesmo em períodos de valorizações mais significativas e duradouras [do real em
relação ao dólar] o impacto é menor do que quando acontece uma depreciação do
câmbio", acrescenta a economista.
"É doloroso subir preços, mas uma
vez que subiu, dar descontos é ainda mais difícil." (BBC)
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