O governo turco, que
recebeu as delegações da Rússia e da Ucrânia, disse que o resultado desta terça
representa o progresso mais significativo desde o início da guerra, em
fevereiro. Mas, apesar dos sinais positivos, autoridades dos Estados Unidos e
do Reino Unido reagiram com cautela.
O presidente dos Estados
Unidos, Joe Biden, disse que não vai tirar conclusões antes de ver as ações da
Rússia.
"Veremos se irão
fazer o que estão sugerindo", afirmou.
O secretário de Estado
americano, Antony Blinken, disse ainda não ter visto "sinais de seriedade"
por parte da Rússia sobre buscar a paz.
"Existe o que a
Rússia diz e existe o que a Rússia faz. Estamos focados neste último",
disse Blinken em entrevista coletiva durante visita ao Marrocos. "E o que
a Rússia está fazendo é a contínua brutalização da Ucrânia e de sua população,
que continua enquanto falamos."
Um porta-voz do
primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que a Grã-Bretanha quer que
as forças russas deixem completamente a Ucrânia. "Julgaremos Putin e seu
regime por suas ações, não por suas palavras", afirmou o porta-voz.
Em entrevista à agência
russa de notícias TASS, o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, disse
que as negociações foram "construtivas", mas esclareceu que a
promessa de reduzir atividade militar ainda não significa um cessar-fogo imediato.
"Isso não é um
cessar-fogo, mas esse é nosso desejo, gradualmente atingir uma desescalada do
conflito pelo menos nessa frente", disse Medinsky.
Entre os temas tratados
nas negociações está a neutralidade da Ucrânia, que seria protegida por
garantias de segurança de um grupo de dez países, entre os quais os cinco
membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia, Estados Unidos,
Reino Unido, França e China). '
A Ucrânia desistiria de
aderir à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e se comprometeria em
não colocar em seu território armas de destruição em massa, tropas estrangeiras
ou bases militares internacionais.
Também foi discutido o
futuro da Crimeia, península ucraniana anexada pela Rússia em 2014 sob oposição
da Ucrânia e de países ocidentais. A proposta seria a de uma "pausa por 15
anos", período no qual seriam conduzidas negociações bilaterais sobre o
status da Crimeia, sem hostilidades militares.
Foi também discutida a
possibilidade de um encontro entre os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e
da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Segundo o governo turco, o próximo passo
envolveria negociações entre os ministros do Exterior de ambos os países, que
fariam ajustes finais sobre questões mais complexas.
Depois que os pontos para
um acordo fossem moldados e aprovados pelos ministros, um encontro entre os
dois presidentes poderia ocorrer.
Segundo o governo
ucraniano, qualquer acordo teria de passar por referendo e ser ratificado pelos
parlamentos dos países que vão oferecer garantias de segurança.
Durante o encontro na
Turquia, o governo russo disse ainda que a Ucrânia deve seguir a Convenção de
Genebra em relação ao tratamento de prisioneiros de guerra russos. Houve
denúncias de abusos cometidos pelo Exército ucraniano.
"Acho que há algum
progresso, mas não estou muito otimista", diz à BBC News Brasil o cientista
político Eugene Finkel, professor da Universidade Johns Hopkins. "Mesmo
que os russos estejam negociando de boa fé, as questões que permanecem sem
solução têm importância enorme."
Entre essas questões,
Finkel destaca o futuro dos territórios ucranianos ocupados pela Rússia, não
apenas a Crimeia, mas também Donbas [onde estão localizadas as regiões
separatistas de Donetsk e Luhansk], que o governo russo não reconhece como
parte da Ucrânia.
"Pelo que ouvimos
hoje, o melhor cenário é o congelamento do conflito como está por 15
anos", ressalta Finkel. "E não acredito que a maioria da população
ucraniana irá apoiar (esse plano)."
Finkel também destaca
entre as grandes questões sem solução as sanções de vários países contra a
Rússia. "Não vejo as sanções sendo levantadas quando o conflito ficar
congelado", observa. (BBC)
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