Histórico sobre
58ª C.F. - EDUCAÇÃO
Ninguém desconhece a importância do Tema – Fraternidade e Educação – e de seu Lema Bíblico, tirado do Livro dos Provérbios 31, 26: ‘fala com sabedoria, ensina com amor’. Tema e Lema, reconhecidamente, desafiadores e exigentes, que se impõem no anúncio do Evangelho e na promoção do bem comum.
Mais uma vez estamos convidando todo o povo brasileiro a redescobrir os princípios fundamentais de uma educação que humanize, que promova a dignidade humana e que construa a paz.
Segundo a proposta do Papa Francisco, seu Pacto Educativo Global se insere na compreensão de um mundo fraterno, em que a Educação é um meio pelo qual se pode criar a verdadeira solidariedade, mesmo reconhecendo as desigualdades sociais, a falta de oportunidades e de equidade no acesso a uma educação de qualidade em que os pobres são os mais prejudicados.
O Hino da 58ª CF – 2022, apesar de parecer longo, coloca em relevo sua mensagem principal. Senão, vejamos:
É tarefa e missão
da Igreja/ Boa nova no amor proclamar,
No diálogo com a
cultura/ Para a vida florir, fecundar,
O que em redes se
vai construir/ E a pessoa humana formar.
Quando o anseio
do conhecimento/ Ultrapassa barreiras, fronteiras,
Se destaca o
ensinamento/ Oriundo da fé verdadeira,
Que nos faz nesta
ação solidários/ Para o bem, condição que é certeira.
Refrão:
E quem fala com sabedoria/ É aquele que
ensina com amor,
Sua vida em total maestria/ É pra nós
luz, caminho, vigor.
Educar é atitude
sublime/ Que prepara a vida futura,
Compreendendo o
presente, pensamos/ Ensinar é proposta segura
Para, enfim,
destacar-se a atitude/ Dos que em Cristo são nova criatura.
O convívio em
níveis fraternos/ Traz em nós o sentido discreto
Na harmonia com
os seres viventes/ E no agir, o equilíbrio completo;
Consigamos também
aprender/ E educar para o amor e o afeto.
O caminho nos
quer convertidos/ Mergulhar no mistério profundo;
Para que na
Páscoa busquemos/ Compaixão no cuidado com o mundo,
Conformados em Cristo
seremos/ Aprendizes do dom tão fecundo.
Quando a plena
mudança atingir/ Relações tão humanas, libertas,
Novos rumos em
redes seremos/ Gerações solidárias e abertas,
Na esperança de
rostos surgirem/ Assumindo missões tão concretas.
E na casa comum
que sonhamos/ Onde habitam cuidado e respeito.
Educar é o verbo
preciso/ A cumprir neste chão grandes feitos;
Para o mundo
poder imitar/ Quem na vida é o Mestre perfeito.
Pedagogicamente é
preciso/ Escutar, meditar, compreender,
Para que aprendamos
com o Cristo/ O caminho da cruz percorrer
E na escola da
sua existência/ O evangelho seguir e viver.
Lendo e relendo este belo poema de Eurivaldo Silva Ferreira, que se encaixa tão bem na melodia de Miguel Philippi, percebe-se que o Hino da 58ª CF deste ano é a expressão poética e musical da mensagem que se quer passar para todo o país, tendo em vista o Tema da Educação e Fraternidade sob o Lema, tirado de Provérbios 31,26: fala com sabedoria, ensina com amor.
O
Eurivaldo é leigo, mestre em Teologia, especialista em Liturgia
pela PUC – SP e membro da Equipe de Reflexão do Setor de Música Litúrgica da
CNBB. Já o compositor, Miguel é maestro em dois corais: o de
Nossa Senhora da Lapa e o Vozes do Mar. Ambos são dedicados à Educação na
formação integral da pessoa humana, com destaque, no refrão, para a pessoa de
Cristo que “fala com sabedoria e ensina
com amor”, cuja vida “em total
maestria, é para nós luz, caminho e vigor”.
Durante
esses 40 dias da Quaresma, culminando com a celebração da Páscoa, a Igreja do
Brasil não está torcendo por este ou aquele modelo educativo como única via de
solução, mas está provocando uma reflexão onde a experiência da tradição cristã
pode contribuir para mudar esse cenário.
Temos certeza de que educar é muito mais do que
instruir ou transmitir conhecimento. Educar é um ato de amor e de esperança no
ser humano. Educamos porque acreditamos na pessoa, em suas capacidades, em seus
dons, talentos e na arte de superação em meio à dor e ao sofrimento.
Em
todo o Brasil se tem refletido sobre uma cena ocorrida com Jesus, relatada no
Evangelho de João 8,1-11 em que o Mestre “fala
com sabedoria e ensina com amor”. Ele se encontrava no Templo, muito
cedinho, ensinando, e o povo o escutava, atentamente. De repente, uma mulher “surpreendida em adultério” é colocada entre
Jesus e seus acusadores e todas as atenções se voltam para ela. Fora apanhada
em adultério. A lei é rigorosa para com ela, embora em Deuteronômio 22,22
afirme que “tanto o homem como a mulher
deveriam receber igual condenação”. Os acusadores ignoraram este detalhe e
partiram pra cima de Jesus para pô-lo à prova: “qual seria seu modo de agir em relação à mulher adúltera”. Jesus
ficou tranquilo, vendo naquele momento, uma boa ocasião para “educá-los”. Percebendo a malícia de
escribas e fariseus que o queriam acusar e condenar, mediante sua resposta,
Jesus inclinou-se, ficou perto da mulher, começou a escrever no chão, os
pecados de cada um deles e deu a sábia sentença: “quem dentre vós não tiver pecado atire-lhe a 1ª pedra”. É claro que,
ninguém se atreveu. Saíram de mansinho. E Jesus concluiu, indicando um novo
caminho àquela que era adúltera: “eu
também não te condenarei; vai e não peques mais”.
O
perdão é a manifestação amorosa da graça de Deus. Seguindo a pedagogia de Jesus,
a mulher perdoada e educada pelo amor entendeu toda a lição: converteu-se e
ficou com o coração transbordante de amor e perdão.
Esta
CF está nos estimulando a trabalhar por uma educação que humanize e encontre
caminhos promotores de vida fraterna. Quando não há fraternidade,
conscientemente cultivada, quando não há vontade política de concretizá-la,
traduzindo-a em uma educação para a fraternidade,
dificilmente o diálogo, a descoberta da reciprocidade e o enriquecimento mútuo
serão alcançados como valores.
Nosso
sempre atualizado pedagogo, Paulo Freire, referência mundial em Educação, diz
que “quando a educação não é libertadora,
o sonho do oprimido é ser opressor”.
É
dele também o pensamento de quem não é ‘terrivelmente
pedagogo’, mas afirma com sabedoria: “a
educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem” e acrescenta: “o educador se eterniza em cada ser que
educa”.
Juntando
nossas reflexões sobre Carnaval, Quaresma, Campanhas da Fraternidade, e esta
58ª sobre Educação, daria para se ter uma ideia do que a Igreja quer com
movimentos de evangelização deste nível. Aproveitemo-los.
(*) Mons. ASSIS ROCHA - Sacerdote aposentado, Mestre e Doutor em Comunicação Social, residente em Bela Cruz – CE.
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