Tal solenidade preparará para no dia 21 de junho comemorarmos 63 anos de instalação da Rádio Educadora em Sobral. Depois de feitos os demorados e necessários ajustes técnicos, estamos preparados para deixar a tradicional faixa AM, de ondas médias, para funcionar em FM, plenamente, de maneira digital como quase todo o mundo conectado com a Internet. Isto significa dizer – em poucas palavras e sem muito aprofundamento para entender – “que diversos processos manuais ficaram de lado para darem lugar à automatização que a nova tecnologia nos proporciona com muitos momentos de bem-estar”. É a isto que chamo de adesão à era digital. Parabéns, Radio Educadora! Para aqui chegarmos, passamos por uma longa e difícil trajetória.
No final da década de 1959 - início da de 1960
era presidente da República Federativa do Brasil, Juscelino Kubitschek, ex-seminarista, ex-aluno dos Padres
Lazaristas no Caraça - MG, e ousado administrador em tudo o que fazia. Basta
analisar o seu slogan de metas de trabalho: fazer
o Brasil crescer 50 anos em Cinco.
Juscelino tinha pressa. Tinha que fazer muito,
em pouco tempo. Queria construir no seu momento presente, o que o Brasil fosse
precisar mais tarde e deu início, com ousadia e planejamento à indústria
brasileira, às fábricas de automóveis, às refinarias de petróleo, à frota naval,
à marinha mercante nacional, à transferência da Capital do Rio de Janeiro para
o Planalto Central, enfim, motivou, investiu, construiu não só sob o aspecto
material, mas cuidou da educação como sua principal meta. Não queria o povo só
para trabalhar pesado. Tinha também que pensar, ativar os conhecimentos,
aprender para ser mais. Não era o ter que era mais importante.
Os números estatísticos da época mostravam o
Brasil ocupando o 6º lugar entre os países com maior índice de analfabetos:
cerca de 70% do povo. Tinha que ser feita uma campanha cerrada para reverter
esse quadro. Com o seu conhecimento com bispos e sacerdotes da Igreja, motivou
a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB a organizar um processo
sistemático de Escolas Radiofônicas que atingisse e se espalhasse por todo o
país, sobretudo no interior. Junto à ideia e ao convite para que os Bispos
assumissem tão importante tarefa, facilitou para as Dioceses que quisessem
colaborar, com a criação de emissoras de rádio entregues à administração diocesana,
com a finalidade primeira de educar através de um Movimento de Educação de Base
que se espalhasse por todo o país, sobretudo pelo interior, através de Rádios
Educativas. Foi grande o número de Emissoras AM, em 1º lugar com finalidade
educativa em sua programação, tendo nos demais programas a possibilidade de
vender espaços comerciais que ajudassem na manutenção das Emissoras.
A arquidiocese de Natal, no Nordeste, já era
conhecida pelo avançado modelo de ação pastoral, pela coragem do arcebispo Dom
Eugenio Sales e condução que ele dava à sua ação evangelizadora. Motivou os
outros 02 bispos da Província do RN – Caicó e Mossoró – e em nome dos três,
viajou pra Colômbia para ver uma experiência ousada e corajosa desenvolvida
pelo Pe. Salcedo, em Sutatenza, usando uma “radinho comunitária” que atingia a todos.
Foi a Sutatenza, na Colômbia, conhecer o Pe.
Salcedo e sua experiência de evangelizar e educar pelo Rádio. Não se contentou
em ouvir falar ou saber por ouvir dizer ou ainda por simples leitura. Foi em
busca do desconhecido. Pousou em Bogotá e logo procurou a direção de Sutatenza:
cerca de 120 km em mais de 03 horas por estrada carroçável. O próprio taxista
desconhecia. Nas cercanias da Cidade, cumprimentou um transeunte camponês e lhe
perguntou como chegar até o Padre Salcedo. Ao que o homem respondeu: “Buenos dias, Mons. Eugênio”. Pelos
trajes, foi fácil identificar o bispo. Mas, saber o seu nome!... “Como sabes que eu sou D. Eugenio”? Ao
que o homem retrucou: “o Padre Salcedo
avisou hoje, pelo Rádio, muito cedo, que ia chegar um bispo do Brasil, chamado
Dom Eugenio. Deve ser o Senhor”.
Dom Eugenio, que fizera tão longa viagem para
ver se funcionava o sistema de Rádio, comprovou logo, na chegada, que o método
era infalível. Trouxe para a Província do Rio Grande do Norte e dali, em pouco
tempo, se espalhou por todo o Brasil. Estava instalado o desejo do Presidente
Juscelino com a parceria da CNBB, disseminando por toda parte, o MEB (Movimento
de Educação de Base) através do Rádio que já se estava instalando nas Capitais
e pelo interior numa concessão especial do Governo em parceria com a CNBB no
uso concreto da tecnologia a serviço da educação do homem do campo.
Como no Rio Grande do Norte, através das
Rádios Rurais de Natal, Caicó e Mossoró, aqui no Ceará surgiram as Rádios:
Assunção Cearense, em Fortaleza, e Educadoras: do NE, em Sobral, do Cariri, no
Crato, Jaguaribana, em Limoeiro do Norte e Educadora de Crateús. Era a nossa
Rede Católica de Rádios, comprometida com a Educação, comandada pelo MEB.
Disto, o nosso amigo e colega, Leunam Gomes, entende. Pode colaborar muito na
reflexão.
Ele começou mesmo na Rádio Educadora do NE, em
Sobral, indo para a Rádio Assunção, em Fortaleza e seguindo para a Educadora do
Maranhão, com estágios dentro e fora do Brasil. Foi e é um “expert” em MEB e Educação.
Todas essas Emissoras, como o MEB, giram em torno
dos 60 anos. Foram constituídos como sociedade civil, de direito privado, sem
fins lucrativos, com o objetivo de alfabetizar, conscientizar e evangelizar
jovens e adultos. Sua sede em Brasília - tanto para a CNBB, como para o MEB – comandava
as Diretrizes Pastorais, bem como, as ações voltadas para a Educação Popular no
Norte, Nordeste e Centro Oeste, com todo o vapor até 1964. A inspiração maior
vinha do Professor e Pedagogo, Paulo Freire, com seu transformador processo de
educação, voltado para áreas populacionais do país, em que os indicadores socioeconômicos
revelavam situação abaixo da linha de pobreza. É claro que esse conteúdo ideológico, essa
ousadia de educação voltada para o social não estava na mente dos militares que
encabeçaram o golpe. O MEB foi uma de suas primeiras vítimas: teve monitores
presos, escolas radiofônicas fechadas, salões paroquiais invadidos,
rádios-cativos sintonizados nas Rádios Educativas quebrados ou levados, enfim,
materiais de trabalho, apreendidos porque “tudo
era comunismo e era contra a revolução”, diziam.
A aniversariante Rádio Educadora, partícipe em toda esta história, unida a tantas outras coetâneas Emissoras, está merecendo esta promoção de entrar na era digital: modernizar-se para melhor servir, ter uma programação cheia de mais conteúdo, mais sabedoria, mais consciência nas mensagens anunciadas e mais clareza na transmissão da Palavra de Deus que nunca foi alienadora. Ela sempre foi transformadora, conscientizadora. Nunca precisamos de ideias políticas, militares, impostas por quem quer que seja para fazer nossa Missão.
(*) Mons. ASSIS ROCHA - Sacerdote aposentado, Mestre e Doutor em Comunicação Social, residente em Bela Cruz – CE.
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