quarta-feira, 25 de maio de 2022

Varíola dos macacos: 10 razões para otimismo

Antes de conseguirmos deixar para trás a pandemia de covid-19, outro vírus, o da varíola dos macacos, chega com força no contexto global.

A varíola dos macacos é uma doença viral rara e endêmica em alguns países africanos. No entanto, em poucos dias, dezenas de casos da doença foram confirmados em pelo menos 12 países fora da África. O primeiro apareceu no Reino Unido e foi relatado no dia 7 de maio. O paciente tinha viajado recentemente para a Nigéria, onde acredita-se que tenha contraído o vírus antes de voltar ao Reino Unido.

A detecção do vírus em uma infinidade de pacientes e em populações distantes entre si, ao redor do mundo, em poucos dias, causou um alerta científico, sanitário, administrativo e social. Os casos relatados até o momento não têm ligações com viagens feitas para áreas endêmicas, mas é possível que algum evento de massa recente tenha atuado como um foco amplificador.

As investigações epidemiológicas estão em andamento. À medida em que a vigilância aumenta em países não endêmicos, é muito provável que mais casos de varíola dos macacos sejam identificados e confirmados.

Sem dúvida, a situação indica que estamos no início de uma possível epidemia e que é importante conscientizar a sociedade, fornecer orientação técnica, fortalecer e apoiar os sistemas de vigilância e diagnóstico, além de prevenir o desenvolvimento do surto, proteger os agentes de saúde e informar sobre as características da doença.

É necessário estar em alerta e ser cauteloso. Mas, felizmente, nem tudo são más notícias. A seguir, veja alguns motivos para ter otimismo em relação à doença.

1. É um vírus conhecido

Não estamos lidando com um novo e desconhecido agente patogênico. O vírus foi descoberto em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colônias de macacos mantidas para fins de pesquisa.

O primeiro caso humano de varíola dos macacos foi relatado em agosto de 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, o vírus foi estudado e os casos e surtos que ele causou foram monitorados.

2. É um vírus relativamente estável

A varíola dos macacos é um vírus de DNA relativamente grande, que sofre mutações a uma taxa mais lenta do que os vírus de RNA, como coronavírus ou vírus influenza. Os vírus de DNA têm sistemas melhores para detectar e reparar mutações do que os vírus de RNA, o que significa que é improvável que o vírus da varíola dos macacos tenha sofrido mutações repentinas ou em alta taxa para alcançar uma relevante transmissão humana ou manifestar alta variabilidade.

Isso significa que, uma vez superada a doença, o indivíduo adquire imunidade de longo prazo contra o vírus. Dois grupos genéticos do vírus da varíola dos macacos foram identificados até o momento: o clado da África Ocidental e o clado da África Central.

Ambos estão geograficamente separados e têm diferenças epidemiológicas e clínicas definidas. A sequência de DNA mostra que o vírus que causa o surto atual é um tipo leve que circula na África Ocidental e está intimamente relacionado aos vírus da varíola dos macacos, detectados no Reino Unido,

Cingapura e Israel em 2018 e 2019.

3. Parte da população mundial já possui algum grau de imunidade

O vírus da varíola dos macacos, o da varíola humana e o vírus vaccinia são orthopoxvirus intimamente relacionados. O sucesso da campanha de vacinação contra a varíola fez com que a doença fosse declarada erradicada em 1980.

Dados históricos sugerem que a vacina contra varíola tem uma eficácia de 85%. Então, as pessoas que foram vacinadas contra varíola, que são grande parte daquelas com mais de 45 anos de idade, são menos vulneráveis ​​ao vírus.

4. Sabemos como a doença é transmitida

A transmissão zoonótica de animal para humano pode ocorrer através do contato direto com sangue, fluídos corporais, membranas mucosas ou lesões cutâneas de animais infectados. Comer carne crua ou mal cozida de animais infectados é um fator de risco. A transmissão de animal para humano também pode ocorrer através de uma mordida ou arranhão.

O vírus também entra no corpo através de rupturas na pele (mesmo que sejam insignificantes), no trato respiratório ou nas membranas mucosas.

A transmissão de pessoa para pessoa pode ocorrer por meio do contato próximo, por meio de partículas de gotículas e secreções respiratórias, além de lesões na pele de uma pessoa infectada ou objetos recentemente contaminados. A transmissão também pode ocorrer através da placenta da mãe para o feto ou durante o contato próximo durante e após o nascimento.

Conhecer as vias de transmissão permite estabelecer medidas de prevenção eficazes.

O primeiro caso recente no Reino Unido foi identificado em 7 de maio

5. A transmissão de humano para humano é considerada moderada e pouco eficiente

Esta é a primeira vez que cadeias de transmissão da doença foram relatadas na Europa, sem ligações epidemiológicas conhecidas com a África Ocidental ou Central. Os meios de transmissão mais prováveis ​​da doença são por meio de gotículas e/ou contato com lesões infectadas.

A maioria dos casos relatados na Europa ocorreu em homens jovens. Muitos deles dizem fazer sexo com homens. A transmissão entre parceiros sexuais é aumentada devido ao contato íntimo durante a relação sexual com lesões cutâneas infecciosas. A probabilidade de transmissão entre indivíduos sem contato próximo é considerada baixa.

6. A manifestação clínica da varíola dos macacos é geralmente leve

A varíola dos macacos é geralmente uma doença autolimitada, com sintomas que duram entre duas a quatro semanas. Historicamente, a taxa de mortalidade de casos de varíola no contexto africano variou de zero a 11% na população em geral.

A mortalidade é maior em crianças, adultos jovens e pessoas imunossuprimidas.

O clado da África Ocidental, o tipo identificado até agora na Europa, tem uma taxa de mortalidade de cerca de 3,6% (estimada a partir de estudos em países africanos).

Casos graves podem ocorrer, mas a maioria das pessoas se recupera da doença em algumas semanas.

7. Os sintomas da doença são característicos e evidentes

O vírus é fácil de rastrear porque, ao contrário do SARS-CoV-2, que pode se espalhar de forma assintomática, a varíola dos macacos não costuma passar despercebida. Em grande parte, devido às lesões na pele que a doença provoca.

Além disso, os sintomas da varíola dos macacos (febre, dor de cabeça intensa, inflamação dos gânglios linfáticos, dores nas costas, dores musculares e fraqueza) facilita o diagnóstico da doença e a detecção de pessoas infectadas.

Do primeiro ao terceiro dia após o aparecimento da febre, aparece uma erupção cutânea característica. Ela atinge o rosto (em 95% dos casos), as palmas das mãos e as solas dos pés (em 75% dos casos). A mucosa oral, genitália e conjuntiva, assim como a córnea, também são afetadas.

A erupção progride sequencialmente de máculas (lesões com base plana) para pápulas (levemente elevadas), vesículas (preenchidas com líquido claro), pústulas (preenchidas com líquido amarelado) e crostas que secam e caem. O número de lesões pode variar de algumas a vários milhares.

8. Existem métodos de detecção rápidos e eficazes

A detecção do DNA do vírus da varíola dos macacos é feita por uma reação em cadeia da polimerase em tempo real, a partir de lesões cutâneas suspeitas.

Esse processo está bem estabelecido em muitos laboratórios na Europa, América e África. Os especialistas preferem retirar amostras de feridas, secreções nasais e fluidos aspirados a partir da lesão para detectar a doença com mais precisão.

Protocolos recentes de PCR em tempo real podem diferenciar não apenas o vírus da varíola dos macacos de outros ortopoxvírus, mas também entre os dois clados diferentes.

9. Temos vacinas eficazes

As vacinas originais (primeira geração) contra a varíola não estão mais disponíveis no mundo. Mas foram desenvolvidas novas vacinas de segunda e terceira geração, baseadas no vírus vaccinia.

Esses imunizantes demonstram atividade tanto contra a varíola humana como a varíola dos macacos.

As vacinas Acam2000 e Aventis Pasteur Smallpox Vaccine (APSV) são baseadas no vírus vaccinia de replicação atenuada. A vacina Jynneos, chamada de Imvanex na União Europeia e Imvamune no Canadá, é uma vacina de terceira geração que contém um vírus Ankara vaccinia modificado (MVA-BN), que não se replica no corpo humano, mas é capaz de provocar uma poderosa resposta imune contra varíola humana e a varíola dos macacos.

A Jynneos é a única vacina não replicante contra a varíola dos macacos e a varíola aprovada pelo FDA para uso não militar.


10. Existem tratamentos antivirais eficazes

Os medicamentos Cidofovir e o Brincidofovir demonstraram atividade contra o poxvírus, em estudos in vitro e em animais. O brincidofovir demonstrou ser um potente inibidor do DNA polimerase de uma ampla variedade de vírus de DNA de fita dupla, como o da varíola dos macacos.

O Tecovirimat (ST-246) também é eficaz no tratamento de doenças induzidas por ortopoxvírus e ensaios clínicos em humanos indicam que a droga é segura e tolerável com apenas pequenos efeitos colaterais. O medicamento é indicado para o tratamento da varíola bovina, varíola dos macacos e varíola humana em adultos e crianças com peso corporal a partir de 13 kg.

Apesar das boas notícias em relação à varíola dos macacos, devemos ser cautelosos e permanecer vigilantes porque ainda há perguntas sem resposta. Algumas estão relacionadas com a possibilidade de que o aumento repentino de casos se deva a uma mutação que permite que este vírus seja transmitido mais facilmente do que os do passado, de que ele conseguiu se espalhar silenciosamente e que cada um dos focos pode ser rastreado até uma única origem ou a várias simultâneas.

Ainda assim, espera-se que o surto atual não exija estratégias de contenção além daquelas que envolvem da vacinação em anel, que rastreia e imuniza todas as pessoas que tiveram contato direto com um infectado. 

(BBC)

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