Do alto do trio elétrico, ao menos 20 políticos ligados ao grupo armamentista anunciaram que irão concorrer em outubro com pautas como ampliar ainda mais a flexibilização para compra de armas no Brasil, diminuir preços de armamentos e munições para CACs (colecionadores, atiradores desportivos e caçadores) e aumentar a quantidade clubes de tiro.
A
agenda central do movimento, contudo, é a reeleição de Jair Bolsonaro.
Presidente
do Proarmas, o advogado Marcos Pollon também anunciou no encontro sua
pré-candidatura a deputado federal por Mato Grosso do Sul. Do alto do trio
elétrico, a campanha foi referendada por outros políticos. “Muitas candidaturas
são importantes, mas têm duas que é fundamental [sic]. Uma é a reeleição do
nosso presidente Bolsonaro […], mas tem outra também que é muito importante em
todo o Brasil. Eu quero deixar aqui uma mensagem e um apelo a todos de Mato
Grosso do Sul: se Pollon faz o que faz sem um mandato, imagine esse homem com
um mandato de deputado federal. Essas duas candidaturas são fundamentais, Jair
Messias Bolsonaro para presidente e Marcos Pollon para deputado federal pelo
estado de Mato Grosso do Sul”, disse o deputado estadual Coronel Feitosa
(PL-PE), ao lado de Pollon, que segurava uma bandeira de Pernambuco.
Até
o dia 16 de agosto, vigora o chamado período de pré-campanha eleitoral. Segundo
a Resolução nº 23.624, de 2019, pedidos explícitos de votos são proibidos.
Denúncias de cidadãos sobre propaganda eleitoral antecipada precisam ser
apresentadas pelos Ministérios Públicos Eleitorais (MPE), que serão analisadas
pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE). Segundo levantamento do Estadão, em maio deste ano já havia 30
representações por propaganda eleitoral antecipada no TSE. A violação das
regras de propaganda antecipada pode ser punida com multa.
O
deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) foi ao lado de Pollon a principal
liderança do evento, discursando diversas vezes. Chegou a ironizar o uso da Lei
Rouanet para artistas que se posicionam contrários ao armamento — “Ah tá, vocês
são contra dar dinheiro para artista? Como é que o pessoal vai se quarentenar
com queijo brie e vinho caro se não tiver uma leizinha Rouanet para esse pessoal?”,
disse. Em abril, a Agência Pública revelou que a Lei Rouanet foi indicada pelo
ex-secretário de fomento à cultura para criação de conteúdo armamentista num
evento realizado pelo Proarmas. Além de Eduardo Bolsonaro, estava no evento o
filho mais novo do presidente, Jair Renan.
A
passeata também foi marcada por demonstrações de apoio dos políticos aos CACs,
grupo que passou de meio milhão de pessoas registradas em janeiro deste ano e
que é uma das principais bases de apoio a Bolsonaro.
“Quem quer trocar sua arma por um livro? Quem quer trocar seu clube de tiro por um clube de leitura?”, provocou do trio Julia Zanatta (PL), pré-candidata a deputada federal por SC, em alusão à fala do ex-presidente Lula de que fecharia clubes de tiro.
Chope,
churrasco e sorteio de arma
Após
a passeata na Esplanada dos Ministérios, que ocorreu das 10h às 15h, o evento
do Proarmas seguiu até a noite em um clube da Associação Geral dos Servidores
da Polícia Civil do Distrito Federal (Agepol). A confraternização privada, que
custou R$ 200 de entrada, serviu chope, churrasco e uma prática proibida por
portaria do Ministério da Economia: o sorteio de arma de fogo.
O
sorteio foi anunciado de maneira disfarçada dois dias antes da passeata em um
vídeo transmitido ao vivo pela página de Marcos Pollon no YouTube. Nele, Pollon
diz que será sorteada uma “furadeira”. Segundo a reportagem apurou, esse é um
código para arma de fogo. O vídeo foi removido do canal de Pollon durante a
tarde deste domingo.
“Aqui,
na descrição do vídeo tem um link para o pessoal adquirir os convites para o
nosso churrasco […] e a gente está vendo uma forma de presentear quem for no
9/7 com o sorteio de uma furadeira, então estamos pensando em fazer uma
furadeira para quem é do Brasil todo e uma para quem é do DF e região. A gente
vai disponibilizar um link na internet onde você se cadastra, vai ser feito um
sorteio pela loteria federal e lá no evento já recebe o voucher de uma
furadeira”, disse Pollon no vídeo.
A
reportagem questionou por email o Proarmas sobre o sorteio e também a retirada
do vídeo do canal, que não respondeu até a publicação.
A
denominação de furadeira gerou confusão até mesmo dentro do grupo Proarmas:
“Movimento armamentista sorteando Furadeira ? Ano que vem vamos sortear pelo
menos uma G2C galera. Kk”.
A
dúvida foi explicada por outros participantes: “Furadeira e Guarda Chuva, quem
acompanha o Pollon sabe kkkkkk”, disse outro membro. “As plataformas proíbem a
comercialização deste tipo de ‘furadeira’. Por isso usamos alguns códigos para
não sofrermos sanções. Quando o Pollon fala ‘furadeira’, é curta e de porte,
quando ele fala ‘guarda-chuva’ e longa e portátil, podendo ser de alma lisa
também”, disse um terceiro homem. “É uma ‘furadeira’ Glock G17”, completou um
quarto homem.
Segundo
a portaria Nº 20.749, de setembro de 2020, “armas e munições, explosivos, fogos
de artifício ou de estampido” não poderão ser objeto de operação filantrópica,
mediante distribuição de prêmios. A portaria também estabelece que “a
distribuição de prêmios mediante sorteio, vale-brinde, concurso ou operação
assemelhada realizada por organizações da sociedade civil, com o intuito de
arrecadar recursos adicionais destinados à sua manutenção ou custeio, depende
de prévia autorização do Ministério da Economia”.
Já
as regras do YouTube não permitem conteúdo destinado à venda direta de armas de
fogo, que ensinem a fabricar armas, munição e certos acessórios, e também como
instalá-los. O YouTube também afirma não permitir transmissões ao vivo que
mostrem pessoas segurando ou disparando uma arma de fogo.
“Estes
códigos para disfarçar têm sido comuns em grupos proarmas e de CACs. Isto ajuda
a dissimular ilegalidades, como a prática de sorteio e propaganda de armas (que
são proibidas). E ainda ajuda a evitar remoção de conteúdo pelas redes
sociais”, disse o gerente do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani. “Nos últimos
três anos temos visto este tipo de sorteio ilegal com mais frequência, tanto em
entidades da sociedade civil e até igrejas, mas também em órgãos públicos como
guardas municipais. O que é obviamente grave. Em um cenário atual em que o
presidente fala de armas todo dia, parece haver uma tolerância velada a este
tipo de prática”, completou.
Em Goiás,
um sorteio de pistola realizado por guardas civis da Rondas Ostensivas
Metropolitanas (Romu) está sendo apurado pelo Ministério Público estadual.
Segundo a portaria do Ministério da Economia, a fiscalização compete à própria
pasta junto a órgãos públicos federais, estaduais ou municipais. Infrações à
norma podem levar à multa, cassação do funcionamento da organização e proibição
de realização de novos sorteios.
A
reportagem apurou que o sorteio aconteceu por volta das 21h. Uma mulher foi a
vencedora. (Bruno Fonseca - Jornal do Brasil)
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