Crianças com menos de cinco anos poderão se vacinar
e, em paralelo, menores de 15 anos também têm a chance de atualizar a caderneta
vacinal. As imunizações são feitas gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de
Saúde) e ocorrem até o dia 9 de setembro.
A faixa de cobertura vacinal recomendada para a
poliomielite, de acordo com a Fiocruz, é de 80%. Em 2021, a imunização contra a
poliomielite foi de apenas 67,1%.
"Um dos motivos prováveis dessa queda vacinal
é a falsa sensação de proteção de doenças que não conhecem. A pólio, junto com
sarampo, já foi uma das principais doenças da infância em índice de sequelas e
de mortes, mas os pais e tutores de hoje em dia são de uma geração que foi
muito vacinada, e por isso, não têm experiência com a doença", aponta
Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
O que pode acontecer com quem não é vacinado contra
a poliomielite
A poliomielite é uma doença infecto-contagiosa
causada por um vírus que vive no intestino, chamado poliovírus (existente nos
sorotipos 1, 2 e 3). O agente é capaz de infectar crianças e adultos por meio
do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas
infectadas.
Quando se trata de uma pessoa sem histórico de
vacinação, ou seja, sem a proteção imunológica contra o poliovírus, após uma
infecção, o agente começa a se multiplicar livremente na garganta ou nos
intestinos.
Em seguida, o vírus chega à corrente sanguínea e,
se o quadro não for tratado a tempo, pode atingir o cérebro, causando a chamada
"infecção paralítica".
Nesses casos, mais raros, mas que podem causar
sequelas irreversíveis, o vírus ataca o sistema nervoso destruindo os neurônios
motores e provoca paralisia nos membros inferiores.
Foi o que aconteceu com a célebre artista mexicana
Frida Kahlo, que teve pólio aos seis anos de idade e acabou com sequelas
permanentes nos movimentos das pernas. Posteriormente, por complicações da
doença, a pintora ainda precisou amputar os dedos do pé e, depois, uma das
pernas.
Outra possibilidade é que o vírus, depois de chegar
ao cérebro, cause meningite, inflamação das membranas que revestem o cérebro e
a medula espinhal, que tem como principais sintomas a febre, rigidez da nuca e
náuseas.
Se não for tratado adequadamente, o quadro de
meningite também pode causar sequelas. Entre elas, a perda de audição e visão
parcial ou total, epilepsia e paralisia em um ou ambos os lados do corpo.
Já se forem infectadas as células dos centros
nervosos que controlam os músculos respiratórios e da deglutição, a doença pode
afetar a capacidade da pessoa em respirar de forma normal e se alimentar,
podendo levar à morte.
"As consequências da doença eram muito
importantes e impactaram a vida de muitos brasileiros no passado, já que
praticamente todo mundo tinha alguém na família que sofreu com a doença ou pelo
menos conhecia alguém que foi infectado antes da erradicação da doença",
indica o presidente da SBIm.
Por que a pólio pode voltar se a doença já estava
erradicada?
O Brasil é um dos oito países sul-americanos que
apresentam alto risco de volta da poliomielite, segundo relatório divulgado
pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) em 2021.
Hoje, a doença só existe de forma endêmica
(circulando o ano todo), no Afeganistão e no Paquistão países vizinhos na Ásia
Meridional.
Mas a poliomielite tem aparecido na forma de
"derivado vacinal" nos Estados Unidos, Israel, Inglaterra e outros
países, o que acende um alerta para o mundo todo.
São chamados de "derivados da vacina" os
vírus que circulam a partir de uma forma modificada do vírus originalmente
contido na VOP (a vacina oral da poliomielite).
Conforme explica Juarez Cunha, quando uma criança
recebe a vacina oral (usada no Brasil somente para as doses de reforço), que
utiliza o vírus atenuado (vivo, mas enfraquecido), parte desse vírus pode sair
nas fezes e acabar no esgoto, como foi observado em Londres no último mês de junho, aumentando
o risco de infecção para quem não foi vacinado.
De acordo com um documento da "Polio Global
Eradication Initiative", uma iniciativa da OMS para a erradicação da
doença, em raras ocasiões, quando se replicam no intestino humano, as estirpes
da VOP sofrem mutações genéticas e podem propagar-se nas comunidades que não
estejam totalmente vacinadas contra a pólio, especialmente nas zonas onde não
haja uma boa higiene, onde o saneamento seja deficiente ou onde exista
sobrepovoamento.
"Outras mutações ocorrem à medida que estes
vírus se propagam de pessoa para pessoa e, se um deles conseguir continuar a
propagar-se numa população subvacinada, poderá, com o tempo, sofrer mutação
genética até o ponto de recuperar a capacidade de causar paralisia", diz o
documento.
A experiência demonstra que uma baixa cobertura
vacinal contra a pólio é o principal fator de risco para a emergência e
propagação de um surto por derivados da vacina.
Se a vacina oral for administrada apenas a algumas
pessoas numa grande população suscetível, o vírus da vacina pode continuar a se
multiplicar, mudar geneticamente e infectar não vacinadas. Já uma população que
tenha sido amplamente vacinada estará protegida contra a mutação e propagação
do vírus.
"Para isso, a cobertura vacinal precisa ser
melhor em muitos países, inclusive o Brasil, que antes de 2015 era considerado
um exemplo a ser seguido em termos de imunização contra a pólio", aponta
Gislayne Castro e Souza de Nieto, pediatra e neonatologista e professora do
curso de Medicina da Universidade Positivo, em Curitiba, no Paraná.
Ambos os especialistas consultados pela BBC News
Brasil apontam que, no futuro, a tendência é que somente vacinas de vírus
inativados sejam usadas — no Brasil e em todos os outros países.
Mas essa é uma mudança que deve acontecer de forma
gradual, e enquanto não é concluída, todos os locais onde há baixa cobertura
vacinal estão em risco. "Nos EUA, só o imunizante com vírus inativado é
usado, mas ainda assim foi notificado um caso de infecção por derivado da
vacina.
Provavelmente se deu por alguém que viajou",
aponta Cunha.
Além da necessidade de alta cobertura vacinal,
outro ponto importante no combate de novos surtos é vigilância das
"paralisias flácidas", como são chamados os casos de perda de
movimentos causados pela pólio. "É importante checar se são motivados pela
doença, mas essa é uma vigilância que não estamos conseguimos fazer no
Brasil", indica.
Por fim, a falta de uma vigilância ambiental ativa
que verifique constantemente se há poliovírus circulando nos esgotos também
contribui para que o Brasil fique mais suscetível a novos casos.
Como receber a vacina contra a poliomielite e outras
doenças
A vacinação é a única forma de prevenção da
poliomielite. Para que a criança receba o imunizante, basta que seu responsável
legal a leve até um posto de vacinação.
A campanha nacional contra a pólio busca alcançar
crianças menores de cinco anos que ainda não foram vacinadas com as primeiras
doses do imunizante (que é aplicado aos 2, 4 e 6 meses de idade por meio de
injeção intramuscular) ou que ainda não tomaram as doses de reforço com a
vacina oral bivalente - VOP (gotinha).
Para adolescentes menores de 15 anos, os
imunizantes disponíveis nos postos de vacinação são contra a hepatite,
pneumonia, rotavírus, febre amarela, sarampo, caxumba, rubéola, varicela, HPV,
difteria, meningite, entre outras.
(Fonte: BBC)
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