A declaração foi dada após questionamento da relatora da comissão,
senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre se ele havia recebido alguma espécie de
garantia de proteção do ex-presidente. Delgatti respondeu:
"Ele me disse que estaria salvando o Brasil, precisava ajudá-lo a
garantir a lisura das eleições. A ideia ali era que eu receberia um indulto do
presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava
com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de
acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no
dia", afirmou o hacker. "Se um juiz te prender, eu vou mandar prender
o juiz", teria dito o ex-presidente.
No encontro, que teria sido intermediado pela deputada federal Carla
Zambelli (PL-SP), o hacker afirma que o ex-presidente questionou se ele
conseguiria invadir urnas eletrônicas, para testar a lisura dos equipamentos.
"Apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli, de um encontro
com o Bolsonaro, que foi no ano de 2022, antes da campanha. Ele queria que eu
autenticasse... autenticasse a lisura das eleições, das urnas. E por ser o
presidente da República, eu acabei indo ao encontro. [...] Lembrando que eu
estava desamparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que eu
fui até eles."
Delgatti afirmou que, no primeiro encontro - um café da manhã com cerca
de 3 horas de duração -, a conversa girou em torno das urnas eletrônicas, mas que
Bolsonaro não entendeu a parte técnica e ordenou que ele fosse enviado ao
Ministério da Defesa.
"A ideia era falar sobre as urnas, a lisura das urnas, e a eleição.
Até que o presidente me disse: a parte técnica não entendo, vou te enviar ao
Ministério da Defesa e lá você explica isso", afirmou Delgatti.
Delgatti diz que foi acompanhado por Marcelo Campos até o Ministério da
Defesa, onde esteve outras quatro vezes.
Na Defesa, o hacker diz ter sido recepcionado pelo então ministro, o
general do Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e teve reuniões com
técnicos do Ministério. Delgatti diz ter produzido, juntamente com os técnicos
da Defesa, o relatório enviado por militares ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
Código-fonte 'fake'
Além da invasão às urnas, Delgatti foi aconselhado a criar um
"código-fonte falso" para sugerir que a urna eletrônica era
vulnerável e passível de fraude. A proposta teria partido do marqueteiro Duda
Lima em uma reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a deputada
Carla Zambelli e outras pessoas ligadas à parlamentar.
"A segunda ideia era, no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna
emprestada da OAB, acredito. E que eu colocasse um aplicativo meu lá e
mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro", disse
Delgatti.
Questionado por Eliziane, o hacker reafirmou que não chegou a operar com
o código-fonte original do TSE.
"Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do
TSE. E nesse código-fonte, eu inserisse essas linhas, que eles chamam de
'código malicioso', porque tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na
eleição", pontuou
Grampo contra Moraes
Ainda durante os encontros, Delgatti ouviu que o governo já tinha
conseguido grampear o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de
Moraes. E que Bolsonaro teria, nessa reunião, sugerido que Delgatti
"assumisse a autoria" do grampo.
"Segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era
tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas
comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse
grampo", diz o hacker.
Segundo Delgatti, a ideia por trás dessa estratégia era evitar
questionamentos "da esquerda" – já que, por ter hackeado autoridades
ligadas à operação Lava Jato, em anos anteriores, ele gozaria de certo
prestígio entre os opositores de Bolsonaro.
"Lembrando que, à época, eu era o hacker da Lava Jato, né. Então,
seria difícil a esquerda questionar essa autoria, porque lá atrás eu teria
assumido a 'Vaza-Jato', que eu fui, e eles apoiaram. Então, a ideia seria um
garoto da esquerda assumir esse grampo", relatou.
(JB)
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