Vinte empresas brasileiras vão participar de um experimento sobre a semana de 4 dias de trabalho a partir de setembro. Nesta primeira fase, o modelo vai avaliar as estratégias das empresas para se adaptarem diante da nova carga horária (confira lista completa abaixo).
Será que elas vão liberar os
funcionários para “sextar” mais cedo? Ou o ideal é começar a semana mais tarde,
na terça? E se a folga for na manhã de segunda e na tarde de sexta?
Durante os três meses primeiros meses
do experimento, as empresas vão continuar na semana de 5 dias até definirem sua
estratégia, comunicar os clientes e outras possíveis organizações que serão
impactadas.
A redução para a semana de 4 dias
começa em seguida, em dezembro ou janeiro. Veja como vai funcionar:
- A jornada será reduzida, mas o salário é o
mesmo;
- A iniciativa deve durar até 9 meses e será
dividida em 2 etapas: planejamento (3 meses) e execução (6 meses);
- A primeira fase do projeto-piloto vai envolver
pelo menos 400 funcionários de áreas como saúde, escritórios, varejo,
entre outros.
A iniciativa, que começou em 2019 na
Nova Zelândia, ganhou força na pandemia, e é conduzida pela ONG britânica 4 Day
Week Global e pela brasileira Reconnect Happiness at Work. A Fundação Getúlio
Vargas (FGV) será responsável por avaliar
de forma qualitativa o processo no Brasil.
A equipe, que atua com pesquisadores
da Universidade de Cambridge, da Boston College e do grupo independente de
pesquisas Autonomy, já passou por empresas do Reino
Unido, Austrália, Estados Unidos, Islândia, Portugal, entre
outros países.
Segundo Paul Ferreira, professor de
Estratégia e Liderança da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-EAESP), para se adaptarem à nova jornada, as
empresas terão que redefinir as tarefas de acordo com o tempo disponibilizado.
"Será preciso identificar em
cada uma das áreas como é possível ganhar tempo e isso ser economicamente
viável para adaptar as novas rotinas", explica.
Quais empresas vão
participar?
Entre as empresas confirmadas para
participar da iniciativa, que é paga, estão empresas de consultoria, de
alimentação, hospital, editoras, produtoras de vídeo e de conteúdo, agências de
comunicação, arquitetura, contabilidade e escritório de advocacia (veja a lista completa
abaixo). Algumas
empresas não autorizaram a divulgação de participação.
- A maioria dos participantes são pequenas e
médias empresas, que têm de 10 a 100 funcionários;
- As companhias estão localizadas nos seguintes
estados: São Paulo (capital e
Campinas), Rio de Janeiro (capital), Minas Gerais (Belo Horizonte) e Rio Grande do Sul (Porto Alegre).
- O modelo 100-80-100 vale
para todas as organizações: 100% do salário, trabalhando 80% do tempo e
mantendo 100% da produtividade.
Quais os principais
desafios do projeto?
ÁREA JURÍDICA E SINDICATOS: A jornada de 4
dias por semana não tem impedimento legal. A Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) impõe limites máximos de jornada e impede a redução de salários, mas não
proíbe diminuição de carga horária.
Somente em casos em que a alteração
possa afetar acordos coletivos, é necessário buscar a chancela de sindicatos
dos trabalhadores, ressalta a advogada Fernanda Borges Darós, sócia da Silveiro
Advogados.
FORMATOS DIFERENTES: A transição para
a semana de trabalho mais curta não deve seguir um formato único e poderá ser
customizada para a produtividade não cair, segundo o professor Ferreira, da
FGV.
Durante esse período, as empresas vão
ter acesso a cursos, treinamentos, palestras sobre produtividade, diagnóstico
organizacional das equipes e acompanhamento individualizado.
DIÁLOGOS E NEGOCIAÇÕES: Segundo os
organizadores, para a iniciativa funcionar, será preciso comunicação ampla,
adesão das lideranças e engajamento dos funcionários.
"Os acordos podem ser feitos de
forma individual, já que vão causar impacto direto na carreira do trabalhador.
A comunicação precisa ser clara desde o início, pois isso vai garantir maior
confiança por parte dos trabalhadores, que sentirão seguros dentro do novo
modelo", afirma Ferreira.
Não é para todo
mundo
A semana de 4 dias ainda não é para
todas as áreas. Em atividades essenciais ou de atendimento ao público, por
exemplo, provavelmente seria necessário investir na contratação de mais
profissionais, avaliam especialistas. Essas demandas devem ser analisadas no
decorrer do processo do experimento.
“Essas adaptações seriam mais
difíceis em linhas de produção e na área de logística. Mas é uma tendência e as
empresas que se adaptarem mais rápido e encontrarem soluções para isso terão um
diferencial para atrair e reter talentos", observa o diretor regional da
Robert Half Lucas Nogueira.
O contexto econômico inviabilizaria a
adoção em larga escala da jornada reduzida no país, opina o economista e
professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) João Rogerio Sanson.
"Esse tipo de discussão tem
ocorrido em países com várias vezes a renda por pessoa do Brasil. Se essa renda
parar de crescer ou cair um pouco, ainda há recursos para utilizar em
atividades domésticas e mitigar a situação de quem está em pobreza absoluta. A
decisão coletiva sobre isso, ao final, depende da influência política de cada
grupo."
Empresas
participantes do projeto-piloto
Das 20 organizações que aderiram ao
teste até o momento, somente 16 autorizaram divulgar seus nomes. Confira a
lista:
- Hospital Indianópolis (saúde);
- Editora Mol, Smart Duo (especializada em
projetos arquitetônicos);
- Thanks for Sharing (tecnologia especializada
em conteúdo em vídeo e storytelling);
- Oxygen (hub de conteúdos em inovação);
- Haze Shift (consultoria de inovação e
transformação digital);
- GR Assessoria Contábil (contabilidade);
- Alimentare (prestação de serviços em
alimentação coletiva);
- Ab Aeterno (estúdio de produção editorial);
- Grupo Soma (eventos);
- Brasil dos parafusos (atacado de materiais de
construção);
- Innuvem Consultoria (tecnologia);
- Inspira Tecnologia (tecnologia);
- PN Comunicação Visual (design gráfico);
- Clementino & Teixeira (escritório jurídico);
- Plonge Consultoria (recursos humanos); e
- Vockan (tecnologia).
(g1)
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