Mesmo os
estudantes brasileiros mais ricos tiveram desempenhos abaixo da média
internacional — e muito abaixo de estudantes com o mesmo nível socioeconômico
em países com o mesmo perfil do Brasil.
O Pisa, que avalia
o desempenho de estudantes de 15 e 16 anos, é realizado a cada três anos pela OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 81 países, entre membros e
parceiros da organização. A avaliação mais recente deveria ter sido feita em
2021, mas foi adiada um ano (para 2022) por causa da pandemia de covid-19. Os
resultados foram divulgados nesta terça (5/11).
A média de pontos
do Brasil (veja os gráficos abaixo) foi de 379 em Matemática, 93 pontos
abaixo da média da OCDE (de 472 pontos).
Em leitura, os
resultados brasileiros foram de 410 pontos, 66 pontos abaixo da média (de 476).
O Brasil teve 82
pontos a menos do que a média (de 485) em ciências, com um resultado de 403
pontos.
Menos afetado pela
pandemia
Em comparação com
os resultados de 2018, a média de resultados nos países caiu 10 pontos em
leitura e quase 15 pontos em Matemática.
A tendência de
queda é anterior à pandemia de covid-19, aponta o relatório, mas a pandemia
contribuiu para o agravamento da tendência.
A Alemanha, por
exemplo, teve uma queda na média de 25 pontos em Matemática, enquanto os EUA
tiveram uma queda de 13 pontos na área.
Já o Brasil teve
uma queda de 5 pontos em Matemática, de 3 em leitura e de 1 em ciências.
"É uma queda
bem menor do que a dos outros países. Muito pequena e considerada
estatisticamente irrelevante pela OCDE", diz Olavo Nogueira Filho, diretor
executivo da ONG Todos Pela Educação. "É um resultado bem melhor do que
esperávamos, considerando que o Brasil foi um dos países que ficou mais tempo
com as escolas fechadas."
No Brasil, 74% dos
alunos relataram que o prédio da escola onde estudam ficou fechado por mais de
três meses devido à covid-19. Em média, o índice foi de 51% dos estudantes
relatando o mesmo cenário nos países da OCDE.
Segundo Nogueira,
tudo indica que, se não fosse a pandemia, o Brasil teria tido uma melhora nos
resultados.
Países que tiveram
melhora no desempenho foram exceção. É o caso de Singapura, que teve os
melhores resultados em todos os quesitos (575 em Matemática, 543 em leitura, e
561 em ciência). Em comparação com 2018, isso foi um aumento de 6 pontos na
média em Matemática, uma queda de 7 em leitura e um aumento de 10 em ciência.
Já o Japão teve uma melhora de 9 pontos em Matemática, 12 em leitura e 17 em
ciência.
Analisando um
cenário mais amplo, diz a OCDE, é possível dizer que o Brasil tem tido um
desempenho praticamente estagnado em Matemática, leitura e ciência desde 2009.
Com a queda mais
acentuada dos outros países entre 2018 e 2022, o Brasil subiu algumas posições
no ranking: seis posições em Matemática (de 71º para 65º); cinco posições em
leitura (de 57º para 52º) e duas posições em ciências (de 64º para 62º).
No entanto, o país
continua com um desempenho muito baixo, diz Nogueira, e em uma posição muito
abaixo de outros países com características parecidas — renda per capita,
investimento em educação, etc.
"Você tem
países mais desenvolvidos que estão estagnados também há muito tempo, mas em um
patamar alto. Nós estamos estagnados em um patamar muito baixo", diz
Nogueira. "Mesmo que a gente faça uma leitura positiva (sobre o Brasil não
ter caído tanto com a pandemia), esses patamares brasileiros são
inaceitáveis."
Baixo desempenho
mesmo entre os mais ricos
Como em todas as
outras edições da avaliação, realizada desde 2000, os resultados de 2022
mostram que o status socioeconômico dos alunos está diretamente relacionado ao
desempenho no exame em Matemática. Essa área do conhecimento foi o foco da
edição do ano passado. O fator socioeconômico é responsável por 15% da variação
no desempenho dos alunos tanto no Brasil quanto na média da OCDE.
No entanto, mesmo
os alunos mais ricos no Brasil tiveram um desempenho em Matemática abaixo da
média da OCDE.
O perfil social,
cultural e econômico do Pisa é calculado de tal forma que todos os estudantes
que realizam o teste podem ser comparados com alunos do mesmo nível
socioeconômico independentemente do país onde vivem.
Os alunos
brasileiros em todos os estratos sociais tiveram um desempenho em Matemática
abaixo dos alunos com perfil socioeconômico parecido em países com o mesmo
perfil do Brasil, como Turquia e Vietnã, diz o relatório da OCDE.
E mesmo o
desempenho dos 25% mais ricos não ficou acima da média de 472 pontos da OCDE
(de alunos de todos os estratos sociais). Em comparação, os 25% mais ricos da
Turquia e do Vietnã fizeram mais de 500 pontos em Matemática.
"No Brasil,
temos não só um problema na educação pública, mas também na educação
privada", diz Nogueira.
"Por exemplo,
a atratividade da carreira docente, a formação inicial dos professores, a
formação de diretores escolares. De modo geral, isso é muito parecido para o
sistema público e o sistema privado — com exceção das escolas de ultra elite,
os 1% mais ricos", afirma.
Segundo Nogueira,
esses dados — similares aos de anos anteriores — demonstram que muitos
problemas educacionais brasileiros também estão presentes “no grosso das
escolas particulares”.
"É uma
falácia acreditar que basta estar numa escola particular que o resultado vai
superior ao da escola pública. Isso não é verdade", diz.
O que é o Pisa
O Pisa é o
principal exame internacional em educação e mede, a cada três anos, o
desempenho de estudantes de 15 e 16 anos — idade em que a maioria dos alunos
caminha para o fim do ciclo da educação básica.
A medição ocorre
por meio de um teste computadorizado de duas horas de duração nas competências
de leitura, Matemática e ciências.
O objetivo não é
medir conhecimentos específicos (por exemplo, se os alunos sabem aplicar
determinada fórmula matemática), mas sim se as escolas são capazes de prepará-los
para a vida adulta, de acordo com Andreas Schleicher, coordenador do Pisa.
Na prática, o que
o exame avalia é se esses estudantes são capazes de entender plenamente um
texto, formular, empregar e interpretar conhecimentos matemáticos em diferentes
contextos e compreender conceitos, dados e fenômenos científicos que lhes
permitam engajar-se na sociedade como um "cidadão letrado".
Na edição de 2022,
cerca de 690 mil estudantes fizeram a prova no mundo todo, uma amostra que
representa 29 milhões de adolescentes de 15 anos.
No Brasil, 10.798
alunos de 599 escolas completaram a prova de Matemática. Eles representam cerca
de 2,3 milhões de alunos de 15 anos (cerca de 76% da população total com esta
idade).
(Fonte: BBC)
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