Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais 2023, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quarta-feira (6).
A pesquisa faz uma
análise das condições de vida da população brasileira em 2023, incluindo
mercado de trabalho, indicadores de rendimentos, condições de moradia e
educação. Um dos cortes traça o perfil da população conhecida popularmente como
“nem-nem” (nem estuda, nem trabalha).
O instituto,
porém, prefere a sigla “Neno” para definir os jovens que “não estudam e nem
estão ocupados”. E, apesar de uma queda de 14,3% em relação ao ano anterior,
consequência de um reaquecimento do mercado de trabalho, o padrão demográfico
dos Neno continua sem alteração. A ampla maioria é feminina, com
4,7 milhões de mulheres pretas ou pardas e 2,1 milhões de brancas.
E o principal
motivo que as tirou do mercado de trabalho foi o cuidado. Mais de 2 milhões disseram que não buscaram trabalho porque precisavam cuidar dos afazeres domésticos ou tomar conta de
parentes.
Outras 553 mil mulheres que procuravam emprego também
mencionaram esses fatores como impeditivos. Ao todo, portanto, mais de 2,5
milhões de mulheres não trabalharam em 2022 para cuidar de parentes ou de
tarefas domésticas.
A título de
comparação, o contingente de homens que saíram do mercado pelo mesmo motivo e
não procuravam emprego foi de 80 mil — número que não representa
nem 4% do total de mulheres na mesma situação. O principal motivo alegado por
eles foram os problemas de saúde, com 420 mil.
Entre aqueles que queriam trabalhar, apenas 17 mil mencionaram questões domésticas. A alegação mais recorrente, para 356 mil homens, é a de que não havia trabalho na localidade. Entre as mulheres, 484 mil mulheres disseram o mesmo.
Vale mencionar que essa diferenciação
acontece porque os jovens Neno podem estar fora da força de trabalho ou
desocupados. Já quem procura emprego é considerado desocupado pelo IBGE. Em 2022, 65,9%
estavam fora da força de trabalho e 34,1% desocupados.
Por diferentes motivos — como estudo, falta
de trabalho disponível ou cuidado — 4,7 milhões de jovens não procuraram
trabalho e nem gostariam de trabalhar, segundo o instituto.
Veja
os números de gênero e raça:
- Entre os jovens de 15 a 29 anos do
país, 10,8
milhões não estudavam nem estavam ocupados em 2022;
- Um em cada cinco
jovens brasileiros desta faixa
etária (22,3%) faziam parte do grupo dos Neno;
- Do total, 6,9 milhões são
mulheres e 3,9 milhões são homens;
- Também do total, 7,4 milhões são
pretos ou pardos (67,6%) e 3,4 milhões são brancos
(31,5%);
- No corte de raça, o maior grupo são as mulheres pretas
ou pardas, com 4,7 milhões (43,3%);
- Já o menor grupo são os homens brancos, com 1,2 milhão
(11,4%);
- Mulheres brancas são 2,1 milhões (20,1%) e
homens pretos ou pardos, 2,6 milhões (24,3%);
Negros e mulheres têm rendimentos piores
A pesquisa do IBGE evidencia também dados
clássicos da desigualdade no mercado de trabalho.
No quesito renda,
por exemplo, os profissionais brancos continuam a ganhar 61,4% a mais
por hora trabalhada que pretos e pardos. A métrica vale para todos
os níveis de instrução, mas a média geral é de R$ 20 por
hora para brancos e de R$ 12,40 para negros.
Além disso, a
série histórica do IBGE mostra que essa distorção de raça pouco se mexeu ao
longo dos últimos 10 anos. Em 2012, a média de rendimentos de brancos era 69,8%
maior que de negros.
Dividido por
instrução, a diferença mais relevante é no nível mais alto de instrução, o
ensino superior. A diferença chega a 37,6%, sendo R$ 35,30 para brancos versus
R$ 25,70 para pretos e pardos.
Veja abaixo as demais, sempre
com rendimento de brancos sendo o maior:
- Total: R$ 20 x R$ 12,40
- Sem instrução ou
fundamental incompleto: R$ 10,90 x
R$ 8,40
- Fundamental
completo: R$ 11,60 x
R$ 9,30
- Médio
completo: R$ 14,10 x R$
11,10
- Superior
completo: R$ 35,30 x R$
25,70
O IBGE mostra, por
fim, que o país prossegue com forte diferenciação na distribuição de atividades
de trabalho, que impactam nos salários. Enquanto brancos são maioria em setores
como Informação e Serviços Financeiros, pretos e pardos são mais numerosos em
atividades como Serviços Domésticos (66,4%), Construção (65,1%) e Agropecuária
(62%).
No recorte por
gênero, a média de rendimentos de homens é 14,9% maior que de mulheres. No
ensino superior, a relação sobe para 43,2% — diferença ainda mais agressiva que
o corte interracial. Além disso, o nível de ocupação dos homens
alcançou 63,3% e o das mulheres, 46,3%.
Quanto à qualidade
de emprego, os pretos e pardos ficam bem atrás dos brancos. As mulheres do
grupo compõem o maior percentual de informalidade no mercado de trabalho, com
46,8% das profissionais. Os homens negros não ficam tão atrás, com 46,6%.
Em comparação,
mulheres brancas na informalidade são 34,5%. Os homens brancos, novamente no
menor contingente, são 33,3% informais.
Informais são
empregados e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, trabalhadores por
conta própria e empregadores que não contribuem para a previdência social, além
de trabalhadores familiares auxiliares. Em 2022, 40,9% dos
trabalhadores do país estavam em ocupações informais.
Mas há também os
dados de subutilização, que são pessoas desocupadas, subocupadas por
insuficiência de horas ou na força de trabalho potencial — aqui se encaixam os
Neno. E para a taxa composta de subutilização, os índices também mais elevados
são para as mulheres e para as pessoas de cor ou raça preta ou parda.
A taxa de
subutilização para homens era de 16,8%, enquanto chegava a 25,9% para as
mulheres. Entre os brancos, eram 16,2%. Para negros, 24,6%.
(g1)
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