O levantamento mostra que os 10% da população
com maior rendimento domiciliar por pessoa tiveram, no ano
passado, renda mensal média de R$ 7.580. Já os 40% dos brasileiros com
menor rendimento obtiveram R$ 527. Ambos os valores são os maiores
registrados para cada faixa de renda.
Em comparação mais extrema, o 1% da população com
maior rendimento tinha renda mensal (R$ 20.664) que chegava a 39,2
vezes à dos 40% de menor renda. Em 2019, a diferença era de 48,9 vezes – a
maior já registrada.
Redução da diferença
A diferença de 14,4 vezes entre os 10% das maiores
faixas de renda e os 40% das menores é a mesma de 2022. Em 2019, antes da
pandemia de covid-19, a relação estava em 16,9 vezes. O ponto mais desigual -
17 vezes - foi atingido em 2021, auge da pandemia.
A série histórica do IBGE teve início em 2012,
quando a relação era de 16,3 vezes. Desde então, os menores rendimentos
cresceram em proporções superiores aos do topo da pirâmide. Por exemplo, os 5%
menores rendimentos tiveram evolução de 46,5%, e os localizados entre 5% e 10%
menores subiram 29,5%. Na outra ponta, a faixa dos 10% maiores cresceu 8,9%.
Em janela de tempo mais curta, também é
possível encontrar um estreitamento da diferença. Em 2019, os 40% da população
com menores rendas tiveram evolução nos rendimentos de 19,2%. Já os 10% com
maiores rendimentos aumentaram registraram aumento de 1,51%.
Entre 2022 e 2023, enquanto o rendimento médio
domiciliar por pessoa cresceu 11,5%, o segmento dos 5% mais pobres teve
elevação de 38,5%.
Fatores
Para o analista da pesquisa, Gustavo Geaquinto,
três fatores podem explicar o crescimento mais intenso da renda dos grupos mais
pobres da população. Um deles está relacionado aos programas sociais, em
especial o Bolsa Família, que chegou a R$ 600, com inclusão de R$ 150 por
criança de até 6 anos e o adicional de R$ 50 por criança ou adolescente (de 7 a
18 anos) e por gestante.
Outra explicação é a expansão do mercado de
trabalho, com a entrada de 4 milhões de pessoas no número de ocupados. “Pessoas
que não recebiam o rendimento de trabalho passaram a receber”.
O pesquisador cita ainda o aumento do salário
mínimo acima da inflação. “O que afeta não apenas o rendimento do
trabalho, mas também o rendimento de aposentadorias e pensões e outros
programas sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC - um salário
mínimo por mês ao idoso com idade igual ou superior a 65 anos ou à pessoa com
deficiência de qualquer idade).
Em 2023 o salário mínimo teve dois reajustes e, em
maio, passou a valer R$ 1.320..
A pesquisa do IBGE classifica como rendimento todo
o dinheiro obtido por meio de trabalho (considerando pessoas com 14 anos
ou mais de idade), aposentadoria, pensão, aluguel e arrendamento, pensão
alimentícia, doação e mesada de quem não é morador do domicílio, e a categoria
outros, que inclui rentabilidades de aplicações financeiras, bolsas de estudos
e programas sociais do governo - como Bolsa Família/Auxílio Brasil,
seguro-desemprego e BPC.
Massa de rendimento
Outra forma de observar a desigualdade no país é ao
analisar a distribuição da massa de rendimentos a cada segmento da
população. Em 2023, essa massa foi a maior já estimada para o país, alcançando
R$ 398,3 bilhões, um crescimento de 12,2% a mais que o de 2022, quando foi
de R$ 355 bilhões.
A parcela da população brasileira com os 10% dos
menores rendimentos respondia por apenas 1,1% dessa massa. Ou seja, de cada R$
100 de rendimento do país, R$ 1,1 era recebido por 10% da população com menor
renda.
Já os 10% dos brasileiros no topo da pirâmide recebiam
41% da massa de rendimentos. Isto é, de cada R$ 100, R$ 41 foram recebidos
pelos 10% de maior renda. Para se ter uma ideia do tamanho da concentração, os
80% dos brasileiros com menores renda detinham 43,3% da massa nacional.
Entre 2022 e 2023, a desigualdade entre topo e base
da pirâmide piorou um pouco. A participação dos mais ricos passou de 40,7% para
41% da massa. Para os mais pobres houve acréscimo de 1 para 1,1%. Comparando
antes e depois da pandemia, houve redução da desigualdade. A participação dos
mais ricos caiu de 42,8% (recuo de 1,8 ponto percentual); e a dos mais pobres
subiu de 0,8% (elevação de 0,3 ponto percentual).
Índice de Gini
A pesquisa do IBGE mostra o comportamento do Índice
de Gini, uma ferramenta que mede a concentração de renda da população. O
indicador varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de zero, menor a
desigualdade.
O indicador de 2023 ficou em 0,518, o mesmo de 2022
e o menor já registrado pela série histórica iniciada em 2012. O ponto mais
desigual foi em 2018, quando alcançou 0,545.
O analista Gustavo Geaquinto explica que se a
análise fosse apenas com o rendimento proveniente do trabalho, haveria pequena
variação positiva do Índice de Gini, ou seja, aumento da desigualdade. Mas o
movimento foi compensado por efeitos de programas sociais.
“Esse efeito, sobretudo do Bolsa Família,
contrabalançou isso, beneficiando principalmente os domicílios de menor
renda, de forma a manter a estabilidade desse indicador”, diz.
(Ag. Brasil)
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