Os dias e as semanas que antecedem a Black Friday refletem esse desejo
febril. Não é possível entrar em lugar nenhum online sem ser bombardeado com
anúncios e ofertas de promoções supostamente especiais para o período que
antecede o Natal.
E os varejistas físicos também adoram fazer promoções. Enfrentar uma
longa fila com outros caçadores de ofertas do lado de fora das grandes lojas no
dia seguinte ao Natal se tornou uma espécie de tradição festiva.
Mas nem sempre é um evento totalmente civilizado. Recentemente, quando a
marca francesa premium de utensílios de cozinha Le Creuset realizou uma
liquidação relâmpago na cidade inglesa de Andover, a polícia foi chamada para
controlar a multidão.
As pessoas haviam viajado quilômetros de distância e esperado horas para
colocar as mãos em algumas panelas e frigideiras chiques com desconto.
Em edições anteriores da Black Friday, os caçadores de ofertas se
envolveram em brigas físicas pelos produtos mais populares.
Nos EUA, chegou a ser criado um site para
registrar os ferimentos — e até mesmo as mortes — que aconteciam durante o
evento anual de compras.
Parece, então, que os produtos com desconto, sejam eles televisores,
utensílios de cozinha ou bolsas, são itens altamente valorizados na sociedade
moderna.
Isso se deve, em parte, a uma resposta química no nosso cérebro, que nos
estimula a comprar algo quando nos deparamos com preços reduzidos.
Quando vemos uma etiqueta de preço que consideramos um bom negócio, a
parte do nosso cérebro que lida com o prazer (o núcleo accumbens) é ativada.
Isso significa que as pessoas sentem um alto nível de satisfação quando
encontram e compram uma pechincha.
O núcleo accumbens, junto a outras regiões do cérebro relacionadas à
recompensa, também desempenha um papel no processamento emocional, em grande
parte combinado ao neurotransmissor dopamina.
A dopamina é um neurotransmissor que ajuda a controlar os centros de
recompensa e prazer do cérebro — e está associada à sensação de felicidade.
Quando as pessoas veem fotos de coisas que desejam comprar, a região do
cérebro com receptores de dopamina é ativada.
Elas recebem uma "dose" de dopamina quando fazem as compras e,
portanto, sentem-se bem com o que estão fazendo.
Soma-se a isso o fato de que a dopamina também torna as pessoas mais
impulsivas na tomada de decisão, e é fácil entender por que os consumidores ficam
entusiasmados com os descontos.
A emoção da caçada
Portanto, se os consumidores gostam de se sentir recompensados e
gratificados, cabe aos varejistas oferecer essas recompensas e gratificações.
E eles trabalham arduamente para fazer isso, usando uma variedade de
estratégias para ajudar os consumidores a obter sua dose de dopamina.
Entender os fundamentos psicológicos das compras é como ter um kit de
ferramentas de persuasão para lojas de grande e pequeno porte.
Uma destas ferramentas envolve
ofertas de compras que ficam disponíveis apenas por curtos períodos de tempo,
para gerar um senso extra de urgência.
Isso aumenta ainda mais os
níveis de adrenalina, o que faz com que as pessoas se sintam tontas de
excitação com a perspectiva de conseguir uma pechincha, e é uma das razões
pelas quais vemos as vendas vinculadas a um determinado dia, semana ou mês.
Um cronômetro de contagem
regressiva em um site tem um efeito semelhante, fazendo com que os consumidores
sintam que podem perder a oportunidade, a menos que ajam imediatamente.
A boa notícia é que os
consumidores podem, na verdade, resistir aos seus impulsos biológicos e se
conter para não se deixar levar por uma pechincha. No entanto, é necessário
algum autocontrole.
Ao se deparar com um produto
barato, não ceda à tentação e compre-o imediatamente. Leve um tempo para
decidir.
Se você estiver fisicamente na
loja e preocupado com a possibilidade de outra pessoa comprar, leve o item com
você e caminhe um pouco.
Com o tempo, a urgência da sua
reação inicial vai diminuir. E, à medida que a pressa passar, você
provavelmente vai se sentir menos compelido a comprá-lo.
O mesmo princípio se aplica
online. Pare por um momento, afaste-se da tela e faça outra coisa por um tempo
para diminuir um pouco a vontade de comprar uma pechincha.
Seja qual for o item e por maior
que seja o desconto, você pode acabar percebendo que ele não é tão essencial
para sua vida quanto seu cérebro pensava inicialmente.
Cathrine Jansson-Boyd é
professora de psicologia do consumidor na Universidade Anglia Ruskin, no Reino
Unido.
(Fonte: BBC)
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