O
anuário aponta que, ao todo, 68% dos professores da rede pública
têm formação adequada na disciplina da qual dão aula na educação infantil
e no ensino médio. Nos anos iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5ºº
ano, essa porcentagem sobe para 79%. Mas, nos anos finais, do 6º ao 9º ano, cai
para 59% dos docentes formados nas áreas em que lecionam.
“Para
a gente considerar um professor como tendo a formação adequada para a
disciplina que leciona, ele precisa ser licenciado naquela área. Então,
vamos pensar um professor de química, por exemplo, no ensino médio, só é
considerado adequado o professor que é licenciado em química. Se ele é, por
exemplo, licenciado em física e está dando aula de química, não é
considerado adequado”, explica o gerente de Políticas Educacionais do Todos
Pela Educação, Ivan Gontijo.
O
levantamento mostra ainda que, no cenário nacional, considerando tanto as
escolas públicas quanto as privadas, 12,8% dos docentes não possuem graduação.
O percentual é ainda maior na educação infantil, chegando a 20,5% dos
professores sem graduação. Na outra ponta, o ensino médio é a etapa com maior
proporção de profissionais com algum nível de graduação, chegando a 96%.
Também
considerando tanto as redes públicas quanto as privadas, a porcentagem de
professores com licenciatura é 84,5%.
Diante
desse cenário, Gontijo cita algumas possíveis soluções, entre
elas garantir que professores tenham a jornada adequada em uma escola só e
estimular que cursem licenciaturas nas áreas em que atuam.
“Tem
algumas soluções possíveis. Uma delas é, principalmente, garantir uma
alocação de professores que consiga fazer com que deem aula em uma escola só e
tenham cargas horárias completas. Isso é muito importante para garantir
adequação. E também ofertar segundas licenciaturas para professores que já
estão nas redes”, defende.
Salário
Segundo
o levantamento, em 2023 o rendimento médio mensal dos profissionais do
magistério das redes públicas com ensino superior chegou a R$ 4.942,
que representa 86% do rendimento de outros profissionais assalariados com o
mesmo nível de escolaridade, que é R$ 5.747.
Esse
valor representa um aumento em relação ao que era pago em anos anteriores. Em
2013, os professores ganhavam 71% do rendimento de outros profissionais.
Enquanto
o rendimento apresentou melhora, o regime de contratação sofreu precarizações. Segundo a
publicação, a modalidade de contratação em formato temporário disparou de 2013
para 2023 na maioria das redes estaduais, que hoje contam com mais da
metade de seu corpo docente contratada como temporária.
“Cada
vez mais as redes têm contratado professores temporários, inclusive as
estaduais hoje têm mais professores temporários que efetivos”, diz Gontijo.
“Então, a primeira tendência é um pouco mais positiva, olhando essa questão
salarial, e a dos temporários realmente é um efeito bem negativo dos últimos
anos”, acrescenta.
Carreira
e formação
Outro
fator importante para esses profissionais é a existência e a adoção de
critérios de um Plano de Cargo e Carreira. Segundo o anuário, 96,3% das redes
municipais e 100% das estaduais têm esse instrumento. Entre os municípios,
82,9% preveem expressamente o limite de dois terços da carga horária para o
desempenho das atividades de interação com os estudantes, deixando um terço da
carga horária para planejamento de aula e outras atividades docentes, como
previsto na Lei do Piso Nacional do Magistério. Entre os estados, 85,2% preveem
esse limite.
Em
relação à formação, o estudo mostra que o Brasil tem quase dois terços de seus
licenciandos se formando a distância, o equivalente a 67%. Em 2023, foi
superada a marca de 1,1 milhão de matrículas no ensino superior em cursos
voltados à docência nessa modalidade. Em 2013, esse número era menos da metade,
446 mil matrículas.
"Embora
a educação a distância tenha contribuído para a democratização do acesso ao
ensino superior, sua eficácia na formação docente ainda é debatida", diz a
análise no relatório, do coordenador-geral do Movimento Profissão Docente,
Haroldo Corrêa Rocha.
Leis
e políticas públicas
A
valorização docente está prevista em lei, no Plano Nacional de Educação (PNE),
cuja vigência foi prorrogada até o final de 2025. Entre as metas previstas para
serem cumpridas em todo o país está garantir que todos os professores da
educação básica tenham formação específica de nível superior, obtida em
curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
Além
disso, também está previsto na lei que o país deve equiparar o rendimento médio
dos professores ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente. Essa
meta deveria ter sido cumprida até 2020.
O
ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que o governo vai lançar, em
novembro, um conjunto de ações para valorizar os professores brasileiros da
educação básica. Entre as medidas está o Pé-de-Meia para as licenciaturas, ou seja,
bolsas para apoiar estudantes que ingressem na universidade para seguir a
carreira docente.
O Anuário
Brasileiro da Educação Básica 2024 está disponível na íntegra na
internet.
(Ag.
Brasil)
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