quarta-feira, 28 de maio de 2025

Por que alguns americanos veem a América Latina como o 'quintal dos EUA'?

"A Doutrina Monroe está morta".

A sentença foi dada em novembro de 2013, no fim do encontro da Organização dos Estados Americanos (OEA) daquele ano, sediado na Cidade da Guatemala, no país centro-americano.

Ela foi sucedida por calorosos aplausos de uma plateia em pé, toda formada por representantes de governos latino-americanos e caribenhos.

O sentenciador: John Kerry, então Secretário de Estado dos Estados Unidos sob administração do então presidente Barack Obama.

Kerry representava ali o país que, justamente, havia elaborado a doutrina dois

Dizia ele que, em vez da antiga relação "interventora" dos EUA, inaugurava-se uma era em que os países americanos se veriam "como iguais, compartilhando responsabilidades, cooperando sobre os assuntos de segurança e aderindo não mais a uma doutrina, mas a decisões tomadas conjuntamente".

"Mas a Doutrina Monroe nunca esteve tão viva", observa Carlos Gustavo Poggio, que leciona Ciência Política na universidade Berea College, nos EUA, e também na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

"Ainda mais vendo uma Casa Branca [sob administração do republicano Donald Trump] cuja cabeça está no século 19".

Essa é sua reação às declarações recentes de Pete Hegseth, o atual secretário de Defesa estadunidense.

Em abril, Hegseth afirmou ao programa The Will Cain Show, do canal Fox News — alinhado ao governo Trump —, que os EUA devem recuperar a influência no seu "quintal" (a palavra em inglês foi backyard), "perdida" para a China.

Hegseth se referia à tensão que a Casa Branca, sob Trump, estabeleceu com o governo do Panamá pelo controle do canal marítimo que cruza o país, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. Com isso, economizaria dias de viagem de navios que precisam passar de um lado ao outro do continente.

Construído pelos americanos de 1904 a 1914, o Canal do Panamá está sob controle do país centro-americano desde 1999.

O atual governo dos EUA diz que os panamenhos violaram os Tratados Torrijos-Carter quando aderiram, em 2017, à Iniciativa Cinturão e Rota, o grande projeto de expansão comercial da China conhecido como "nova rota da seda".

Os tratados foram assinados nos anos 1970 para "devolver" o canal ao Panamá a partir de 1999.

Já José Raúl Molino, o presidente panamenho eleito há um ano em um pleito marcado por intervenções judiciais, tem reforçado que as decisões sobre o canal são tomadas apenas pelo seu país.

Dias antes da entrevista de Hegseth à Fox, a Autoridade do Canal do Panamá (entidade que gerencia a passagem marítima) havia divulgado um comunicado conjunto com o próprio secretário reafirmando a soberania panamenha sobre o canal, mas autorizando a intensificação da presença militar americana no país.

Em fevereiro, Mulino recebera a visita do secretário de Estado de Trump, Marco Rubio, logo após o presidente americano dizer que, se fosse preciso, usaria força bélica para retomar a estrutura.

O acordo parecia ter passado incólume, mas, nos últimos dias, quase todas as cidades panamenhas foram tomadas por protestos contra, entre outras coisas, o acordo com os EUA.

Até o dia 14 de maio, 196 pessoas tinham sido detidas. Praticamente todas estradas que conectam o Panamá aos países vizinhos foram fechadas pelos manifestantes.

Segundo reportagem da BBC, a China foi responsável por cerca de 21% da carga transportada pelo canal entre outubro de 2023 e setembro de 2024. O país asiático foi o segundo maior usuário da passagem, atrás apenas dos Estados Unidos.

LEIA A REPORTAGEM COMPLETA CLICANDO ABAIXO:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy704d4z0ylo

 

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