Para
Juliana Brandão, pesquisadora sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
os números confirmam um padrão que se repete ano após ano. “A gente
infelizmente está vivendo aí um padrão que vem se repetindo desde que o Fórum
trabalha com esses dados, que é um aumento sistemático do número de
feminicídios.”
A
maioria das vítimas era mulher negra (63,6%), tinha entre 18 e 44 anos (70,5%),
foi assassinada dentro de casa (64,3%), por um homem (97%), geralmente o
companheiro ou ex-companheiro (79,8%), e morta com arma branca (48%), como
facas, ou por arma de fogo (23,6%).
Brandão
destaca que os feminicídios são evitáveis e refletem a ausência de medidas de
proteção mais eficazes. “O feminicídio representa, na verdade, o ápice da
violência. E o que a literatura tem nos dito […] é que é uma ocorrência
evitável”, afirma. “Essa ocorrência representa a nossa falência, enquanto
sociedade, de proteger essa mulher”, lamenta.
A
pesquisadora também critica a subnotificação e a dificuldade em classificar
corretamente os casos. “Para que um assassinato contra uma mulher seja
considerado feminicídio, preciso que aquele agente público que recebe essa
notícia da violência contra a mulher assim enquadre essa ocorrência”, explica.
Segundo
o levantamento, 121 das mulheres assassinadas em 2023 e 2024 estavam sob medida
protetiva. Ainda assim, mais de 101 mil ordens desse tipo foram descumpridas
apenas em 2024.
Crimes
raciais e de ódio
Outro
dado preocupante do anuário é o avanço dos crimes
raciais e de ódio. Os registros de injúria racial, racismo e
racismo por homofobia ou transfobia saltaram de 12.813 em 2023 para 18.200 em
2024, uma alta de 41,4%. Já os casos de racismo foram de 14.919 para 18.923
(alta de 26,3%).
Em
Minas Gerais, os casos de injúria racial mais que dobraram: de 727 para 1.828
(crescimento de 151,5%). Em São Paulo, os registros de injúria passaram de
3.932 para 7.153 (variação de 81,9%), e os de racismo de 4.804 para 8.221
(70,7%).
Para
Brandão, esse crescimento tem dois lados. “Temos tido mais oportunidade de
falar sobre a questão racial no Brasil, e as vítimas […] têm procurado cada vez
mais os canais oficiais para denunciar esse tipo de ocorrência.” Ao mesmo
tempo, ela aponta que a lei não tem sido suficiente para inibir os autores
desses crimes.
A
pesquisadora também chama atenção para a violência contra a população LGBT+,
alertando para a falta de dados oficiais sistemáticos. “Infelizmente, o que
vemos também é um quadro que é uma padronização de uma certa desinformação com
relação a esses casos”, afirma.
“Na
medida em que eu não consigo nomear essa violência que está acontecendo, eu não
consigo também enfrentá-la. E isso é muito grave”, completa. Para ela, o novo
anuário evidencia uma “política de desinformação que acaba afastando a produção
de evidências” e, com isso, dificulta a formulação de políticas
públicas eficazes.
Para
ouvir e assistir
O
jornal Conexão BdF vai
ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na
Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
(Brasil de Fato)
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