segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O que a imprensa internacional falou sobre episódio com tornozeleira eletrônica de Bolsonaro

A tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de interferir em sua tornozeleira eletrônica durante o final de semana foi destaque na imprensa internacional.

A violação do equipamento foi um dos motivos alegados pelo juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para decretar a prisão preventiva do ex-presidente na Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, em Brasília.

Bolsonaro admitiu posteriormente ter utilizado um ferro de solda durante a madrugada de sábado (22/11) para tentar violar a tornozeleira, mas afirmou que interrompeu a ação por conta própria e comunicou posteriormente o ocorrido aos agentes responsáveis pelo monitoramento.

O jornal The New York Times destacou o fato na reportagem "Como uma tornozeleira eletrônica sabotada pôs fim à prisão domiciliar de Bolsonaro".

"Inicialmente, Bolsonaro disse à polícia que havia batido a tornozeleira eletrônica, causando seu mau funcionamento, segundo um relatório da autoridade prisional", diz o diário americano.

"Mas quando um agente no local perguntou sobre as marcas de queimadura no dispositivo, Bolsonaro admitiu ter usado um ferro de solda para tentar derretê-lo. Em um vídeo da conversa divulgado pelas autoridades, Bolsonaro pode ser ouvido aparentemente dizendo à agente que havia começado a queimar a tornozeleira horas antes."

"Na ordem de prisão emitida no sábado, o juiz Alexandre de Moraes, responsável pelo caso, afirmou que as autoridades esgotaram todas as medidas cautelares", diz ainda o NYT.

Em sua decisão, Moraes também afirma ter identificado um risco concreto e iminente de fuga após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho, convocar uma "vigília" em apoio ao pai nas proximidades da residência do ex-presidente.

Em nota, a defesa do ex-presidente disse que a decisão de Moraes causou "profunda perplexidade, principalmente porque, conforme demonstra a cronologia dos fatos está calcada em uma vigília de orações".

O ex-presidente Jair Bolsonaro (ao fundo, à direita) atrás de 
uma porta de vidro na sede da Polícia Federal em Brasília

"A Constituição de 1988, com acerto, garante o direito de reunião a todos, em especial para garantir a liberdade religiosa. Apesar de afirmar a 'existência de gravíssimos indícios da eventual fuga', o fato é que o ex-presidente foi preso em sua casa, com tornozeleira eletrônica e sendo vigiado pelas autoridades policiais", disseram seus advogados.

"Além disso, o estado de saúde de Jair Bolsonaro é delicado e sua prisão pode colocar sua vida em risco. A defesa vai apresentar o recurso cabível."

Ainda no sábado, Paulo Cunha Bueno, advogado do ex-presidente, falou a jornalistas que "a tornozeleira é uma narrativa que tenta justificar o injustificável", mas não respondeu sobre a violação causada por Bolsonaro no equipamento.

A BBC News Brasil questionou a defesa de Bolsonaro sobre a tentativa do ex-presidente de violar a tornozeleira, como ele próprio admitiu à PF, mas não recebeu resposta até o momento.

Em uma reportagem, a agência de notícias Reuters destacou o depoimento de Bolsonaro durante a audiência de custódia de sua prisão realizada no domingo (23/11).

"Bolsonaro afirma que medicamentos o fizeram adulterar dispositivo de rastreamento, o que levou à sua prisão", diz o título da matéria.

"Em uma audiência de custódia de 30 minutos no domingo, Bolsonaro negou qualquer intenção de fugir ou tentar remover a tornozeleira eletrônica", afirma a agência.

"Ele atribuiu seu comportamento a uma mistura de medicamentos anticonvulsivantes prescritos por diferentes médicos para seus soluços crônicos, o que o levou a imaginar que havia equipamentos de escuta dentro do dispositivo de rastreamento."

O ex-presidente relatou que estava fazendo uso de pregabalina — medicamento indicado para o tratamento de dores crônicas e dores de origem neurológica — e de sertralina — antidepressivo indicado para o tratamento de depressão e transtornos de ansiedade.

De acordo com Bolsonaro, a associação desses remédios teria provocado efeitos colaterais. Ele relatou ter acreditado que a tornozeleira eletrônica pudesse conter um dispositivo de escuta clandestino, o que teria motivado sua tentativa de mexer no equipamento.

O jornal francês Le Monde classificou a decisão de Moraes como uma "surpresa" para o Brasil.

Convocação de vigília por Flávio foi citada por Moraes para determinar prisão preventiva de Bolsonaro

"Jair Bolsonaro passou sua primeira noite na prisão – mas um pouco antes do que esperava. Em uma decisão que pegou o Brasil de surpresa, os tribunais ordenaram a prisão preventiva do ex-presidente de extrema-direita no sábado, 22 de novembro", diz o diário.

"Bolsonaro estava em prisão domiciliar rigorosa desde agosto, mas colocado atrás das grades de forma dramática em Brasília neste fim de semana", diz ainda o tabloide britânico The Sun.

"As autoridades disseram que foi uma medida preventiva para impedir uma tentativa de fuga que se suspeitava ter sido planejada para aquele mesmo dia."

O caso também foi destaque no jornal argentino Clarín e no site da emissora Al Jazeera, do Catar.

"Durante a audiência de domingo em Brasília, o ex-presidente disse a um juiz que estava tendo 'alucinações' de que havia um dispositivo de escuta em sua tornozeleira eletrônica, de acordo com os autos do processo", narra o Clarín.

"O tribunal manteve o mandado de prisão preventiva contra Bolsonaro e declarou que 'não houve abuso ou irregularidade por parte dos policiais responsáveis'", diz ainda a reportagem.

A Al Jazeera também contextualizou o caso de Bolsonaro, explicando que o ex-presidente foi condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro por "tentar dar um golpe de Estado e manter-se na presidência após a sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva em 2022".

"Na segunda-feira, o mesmo painel votará sobre a ordem de prisão preventiva", diz a reportagem no site da emissora.

A Al Jazeera destacou que "o presidente Lula fez seus primeiros comentários sobre a prisão de seu antecessor em uma reunião do Grupo dos 20 (G20) na África do Sul. 'O tribunal decidiu, está decidido. Todos sabem o que ele fez', disse Lula aos jornalistas."

(Fonte: BBC)

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