Bolsonaro admitiu posteriormente
ter utilizado um ferro de solda durante a madrugada de sábado
(22/11) para tentar violar a tornozeleira, mas afirmou que interrompeu a ação
por conta própria e comunicou posteriormente o ocorrido aos agentes
responsáveis pelo monitoramento.
O jornal The
New York Times destacou o fato na reportagem "Como uma
tornozeleira eletrônica sabotada pôs fim à prisão domiciliar de
Bolsonaro".
"Inicialmente,
Bolsonaro disse à polícia que havia batido a tornozeleira eletrônica, causando
seu mau funcionamento, segundo um relatório da autoridade prisional", diz
o diário americano.
"Mas quando um agente no local perguntou sobre as marcas de queimadura no dispositivo, Bolsonaro admitiu ter usado um ferro de solda para tentar derretê-lo. Em um vídeo da conversa divulgado pelas autoridades, Bolsonaro pode ser ouvido aparentemente dizendo à agente que havia começado a queimar a tornozeleira horas antes."
"Na ordem de
prisão emitida no sábado, o juiz Alexandre de Moraes, responsável pelo caso,
afirmou que as autoridades esgotaram todas as medidas cautelares", diz
ainda o NYT.
Em sua decisão,
Moraes também afirma ter identificado um risco concreto e iminente de fuga após
o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho, convocar uma "vigília"
em apoio ao pai nas proximidades da residência do ex-presidente.
Em nota, a defesa
do ex-presidente disse que a decisão de Moraes causou "profunda
perplexidade, principalmente porque, conforme demonstra a cronologia dos fatos
está calcada em uma vigília de orações".
"A
Constituição de 1988, com acerto, garante o direito de reunião a todos, em
especial para garantir a liberdade religiosa. Apesar de afirmar a 'existência
de gravíssimos indícios da eventual fuga', o fato é que o ex-presidente foi
preso em sua casa, com tornozeleira eletrônica e sendo vigiado pelas autoridades
policiais", disseram seus advogados.
"Além disso, o
estado de saúde de Jair Bolsonaro é delicado e sua prisão pode colocar sua vida
em risco. A defesa vai apresentar o recurso cabível."
Ainda no sábado,
Paulo Cunha Bueno, advogado do ex-presidente, falou a jornalistas que "a
tornozeleira é uma narrativa que tenta justificar o injustificável", mas
não respondeu sobre a violação causada por Bolsonaro no equipamento.
A BBC News Brasil
questionou a defesa de Bolsonaro sobre a tentativa do ex-presidente de violar a
tornozeleira, como ele próprio
admitiu à PF, mas não recebeu resposta até o momento.
Em uma reportagem,
a agência de notícias Reuters destacou o depoimento de Bolsonaro durante a
audiência de custódia de sua prisão realizada no domingo (23/11).
"Bolsonaro
afirma que medicamentos o fizeram adulterar dispositivo de rastreamento, o que
levou à sua prisão", diz o título da matéria.
"Em uma
audiência de custódia de 30 minutos no domingo, Bolsonaro negou qualquer
intenção de fugir ou tentar remover a tornozeleira eletrônica", afirma a
agência.
"Ele atribuiu
seu comportamento a uma mistura de medicamentos anticonvulsivantes prescritos
por diferentes médicos para seus soluços crônicos, o que o levou a imaginar que
havia equipamentos de escuta dentro do dispositivo de rastreamento."
O ex-presidente
relatou que estava fazendo uso de pregabalina — medicamento indicado para o
tratamento de dores crônicas e dores de origem neurológica — e de sertralina —
antidepressivo indicado para o tratamento de depressão e transtornos de
ansiedade.
De acordo com
Bolsonaro, a associação desses remédios teria provocado efeitos colaterais. Ele
relatou ter acreditado que a tornozeleira eletrônica pudesse conter um
dispositivo de escuta clandestino, o que teria motivado sua tentativa de mexer
no equipamento.
O jornal francês Le
Monde classificou a decisão de Moraes como uma "surpresa" para o
Brasil.
"Jair
Bolsonaro passou sua primeira noite na prisão – mas um pouco antes do que
esperava. Em uma decisão que pegou o Brasil de surpresa, os tribunais ordenaram
a prisão preventiva do ex-presidente de extrema-direita no sábado, 22 de
novembro", diz o diário.
"Bolsonaro
estava em prisão domiciliar rigorosa desde agosto, mas colocado atrás das
grades de forma dramática em Brasília neste fim de semana", diz ainda o
tabloide britânico The Sun.
"As
autoridades disseram que foi uma medida preventiva para impedir uma tentativa
de fuga que se suspeitava ter sido planejada para aquele mesmo dia."
O caso também foi
destaque no jornal argentino Clarín e no site da emissora Al Jazeera, do Catar.
"Durante a
audiência de domingo em Brasília, o ex-presidente disse a um juiz que estava
tendo 'alucinações' de que havia um dispositivo de escuta em sua tornozeleira
eletrônica, de acordo com os autos do processo", narra o Clarín.
"O tribunal
manteve o mandado de prisão preventiva contra Bolsonaro e declarou que 'não
houve abuso ou irregularidade por parte dos policiais responsáveis'", diz
ainda a reportagem.
A Al Jazeera também
contextualizou o caso de Bolsonaro, explicando que o ex-presidente foi
condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro por
"tentar dar um golpe de Estado e manter-se na presidência após a sua
derrota para Luiz Inácio Lula da Silva em 2022".
"Na
segunda-feira, o mesmo painel votará sobre a ordem de prisão preventiva",
diz a reportagem no site da emissora.
A Al Jazeera
destacou que "o presidente Lula fez seus primeiros comentários sobre a
prisão de seu antecessor em uma reunião do Grupo dos 20 (G20) na África do Sul.
'O tribunal decidiu, está decidido. Todos sabem o que ele fez', disse Lula aos
jornalistas."
(Fonte: BBC)



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