
Hoje, as
reivindicações consonantes são aprovação da reforma da Previdência, combate à
corrupção e apoio a Jair Bolsonaro (PSL).
Na época, porém, as
pautas não eram exatamente essas -elas sofreram uma reviravolta em meio ao
racha de grupos de direita e à divisão dentro do partido do próprio presidente
da República sobre a pertinência de ir às ruas.
Quando foram gestados,
os atos foram apresentados principalmente como uma mobilização contrária ao STF
(Supremo Tribunal Federal) -embora a defesa da Previdência e do pacote
anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça) também estivesse colocada.
Depois, as
manifestações pró-governo ganharam impulso como uma tentativa de resposta aos
protestos do último dia 15 de maio, contrários ao bloqueio de recursos da
educação determinado por Bolsonaro e que levaram milhares de pessoas às ruas em
mais de 170 cidades brasileiras.
De lá pra cá, na
esteira dos embates entre Bolsonaro e o Congresso, ganhou força o
descontentamento com o centrão (grupo informal com cerca de 200 deputados de
partidos como PP, DEM, PRB, MDB e Solidariedade). E o lema "Brasil contra
o centrão" ganhou corpo - é nome do principal ato marcado para este
domingo em São Paulo, na av. Paulista, a partir das 14h.
Na live de abril,
que começou com o Hino Nacional e terminou com um pai-nosso, os representantes
dos movimentos falam em "manifestação contra Gilmar Mendes e [Dias]
Toffoli", em "ditadura do Judiciário", que as ruas darão
"resposta imediata ao STF", que o STF é uma "vergonha
nacional" e até em "derrubar o STF, que só tem canalha,
vagabundo".
Willian Bull, do
Movimento Avança Brasil, um dos principais envolvidos nos atos, diz no vídeo
que "os movimentos estão baseados na Constituição, mas estão baseados
principalmente naquilo que rege a população, que é um negócio chamado vergonha
na cara e que está faltando muito em várias instituições que representam o
Estado brasileiro, mas não estão representando a população".
O pano de fundo, em
abril, era o inquérito aberto por Toffoli para apurar fake news e ofensas ao
STF, o que foi visto pelos movimentos como uma mordaça. "Isso estava a
flor da pele. [...] Mobilizou a fala de todos nós, inclusive a minha. A carga
das falas se deveu à circunstância do momento", diz Bull à reportagem.
"Quando a gente
percebeu que o centrão estava tomando esse protagonismo no sentido de criar
obstáculos para manter esse patrimonialismo, esse toma lá, dá cá, [...] até
suplantou essa indignação com o inquérito [das fake news]", completa.
A derrota de Moro
para o centrão, que retirou o Coaf (órgão que faz relatórios sobre
movimentações financeiras suspeitas) do Ministério da Justiça, foi a
gota-d'água para que a revolta se concentrasse nos parlamentares.
De acordo com Bull,
a sociedade está vigilante e cansou de ver a agenda de 58 milhões de eleitores
de Bolsonaro emparedada pela barganha. "Se o Congresso não está fazendo
seu papel, será que estamos vivendo numa democracia?", questiona.
"O que eu vejo
é uma mobilização espontânea de todo cidadão que quer ver o Congresso
destravado", diz Edson Salomão, do Direita São Paulo. Na opinião de
organizadores ouvidos pela reportagem, as dificuldades de Bolsonaro em fazer
avançar sua pauta no Congresso não se devem a falhas na articulação política,
mas a chantagens do centrão.
Isabella Trevisani,
ativista que se identifica como "a menina censurada pelo STF", por
ter sido alvo de buscas da Polícia Federal no inquérito das fake news após
críticas à corte, estava presente no dia 12.
"O STF vem aí
desrespeitando a Constituição, desrespeitando nosso povo e nós não podemos
admitir que ladrões de toga, como esses ministros que estão aí, que são uma
vergonha nacional, continuem deturpando a verdade, continuem roubando,
continuem mentindo, continuem liberando bandidos", disse.
Em vídeo de sexta
(24) no seu Facebook, um banner diz que a manifestação é pela reforma da
Previdência, porém, em seguida, há trecho de um discurso em que ela prega
"fora todos os ministros".
Também em vídeos de
maio, o canal Giro de Notícias, que endossa as convocações, fala em
intervenção. Já o Direita São Paulo mantém na sua lista de reivindicações da
manifestação a CPI da Lava Toga, para investigar o que consideram abusos do
Judiciário.
Procurados pela
reportagem, os movimentos rechaçaram as pautas radicais. Conforme publicou o
jornal Folha de S.Paulo, os grupos passaram a adaptar o discurso para ampliar
adesão.
"Todo mundo
está dizendo que não aderiu no início porque os atos eram antirrepublicanos,
mas nós nunca tivemos essa pauta de fechamento do Congresso e do STF, é um
absurdo total", afirma Bull.
"Isso é
informação plantada para desmoralizar o ato. Pode ter cartazes nesse sentido, é
a manifestação da liberdade de expressão, mas os organizadores não falam essa
língua", diz Ana Cláudia Graf, dos Ativistas Independentes.
A retórica
agressiva, ainda usada por alguns apoiadores das manifestações em redes
sociais, afastou os movimentos que tradicionalmente mobilizaram atos de
direita, como o MBL e o Vem Pra Rua.
Mesmo o PSL, partido
de Bolsonaro, decidiu não dar apoio formal à convocação, mas liberou seus
filiados a participarem. O presidente da sigla, Luciano Bivar, disse não ver
sentido nas manifestações.
Para incentivar a
ideia de que se trata de um ato espontâneo, Bolsonaro também desistiu de
participar e aconselhou ministros a fazerem o mesmo, embora apoie as
manifestações. Seus filhos endossaram o ato nas redes.
Assim como os
movimentos de direita, os parlamentares do PSL se dividiram. A líder de
governo, Joice Hasselmann (SP), e a deputada estadual Janaina Paschoal (SP)
criticam os atos.
"Pelo amor de
Deus, parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade.
Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações!", tuitou
Janaina, abrindo conflito com sua bancada na Assembleia Legislativa de São
Paulo.
Outros nomes, como
Major Olímpio (SP) e Douglas Garcia (SP), que é membro do Direita São Paulo,
estarão nas ruas. A deputada federal Carla Zambelli (SP), por exemplo, reclama
que a manifestação foi difamada e volta à carga contra o STF, que formou
maioria para definir homofobia como crime na quinta (23).
"Segundo as
'mentes brilhantes' da esquerda, eleitor de Bolsonaro indo às ruas é 'ameaça à
democracia', mas ministro do STF usurpando a competência legislativa do
Congresso, não", tuitou.
Ao longo da semana,
a manifestação também ganhou apoio de monarquistas, do Clube Militar (com cerca
de 38 mil sócios, entre militares da ativa, da reserva e civis) e do Brasil
200, movimento de empresários que reúne nomes como Flávio Rocha (Riachuelo) e
João Appolinário (Polishop).
Entre os caminhoneiros,
há divisão: muitos defendem o presidente contra o Congresso e o STF, mas outros
dizem que não irão às manifestações e criticam a situação da categoria. Parte
deles é defensora de intervenção militar.
O apoio aos atos é
tímido entre um dos pilares da eleição de Bolsonaro, os evangélicos. O deputado
federal Silas Câmara (PRB-AM), presidente da frente evangélica, diz ser a favor
de que o povo se manifeste, mas não tocou no assunto em suas redes. "Só
não irei porque estou de licença médica, mas caso estivesse bom iria",
disse à reportagem.
O deputado Pastor
Marco Feliciano (Podemos-SP) tuitou "pelo fim dos conchavos de
gabinete". "Desde quando protestar é flertar com a ditadura? [...]
Domingo todo mundo na rua de verde e amarelo, a favor de Bolsonaro contra as
corporações que tomaram o país de assalto!", convocou. Ele também não sabe
se irá, pois tem compromissos no interior.
OS PROTESTOS
CONVOCADOS PARA DOMINGO (26)
Pautas oficiais:
- Defesa da reforma
da Previdência;
- Defesa do pacote
anticrime de Moro;
- Apoio à Lava Jato
e ao combate à corrupção;
- Votação nominal na
MP da reforma administrativa, com a manutenção do Coaf com Moro;
- Defesa de medidas
de Bolsonaro, como contingenciamento de gastos e decreto de armas.
Quem vai participar:
- Clube Militar;
- Nas Ruas;
- Ativistas
Independentes;
- Movimento Avança
Brasil;
- Direita São Paulo;
- Patriotas Lobos
Brasil;
- Movimento Brasil
200;
- Outros grupos de
direita.
Quem não vai
participar e por quê:
- Movimento Brasil
Livre, critica pautas radicais como o fechamento do Congresso e do STF;
- Vem pra Rua, diz
ter como pilar ser um movimento suprapartidário, o que não condiz com um ato de
apoio a determinado governo;
- Partido Novo,
afirma que "em manifestações com pautas diversas e sem objetivo
claro", entende que cabe ao cidadão decidir quanto ao apoio, e não ao
partido;
- Deputada estadual
Janaina Paschoal (PSL-SP), criticou a conduta inicial do governo de fomentar os
protestos e defende que o presidente "aprenda a ouvir críticas".
Divididos:
Caminhoneiros, dois
líderes afirmaram que irão aos protestos, mas parte da categoria ainda não tem
certeza se irá aderir.
(Fonte: Jornal do
Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário