segunda-feira, 7 de março de 2022

Que países ajudam a Ucrânia durante invasão russa?

A Ucrânia foi um dos cinco assuntos mais buscados no Google no Brasil na semana encerrada em 4 de março. Segundo dados da ferramenta Google Trends, a procura por respostas sobre invasão russa saltou 550% no período que sucedeu o início da operação militar liderada por Moscou.

Entre as perguntas mais buscadas pelos brasileiros estão aquelas que tentam entender quais países estão prestando assistência aos ucranianos e de que forma esse auxílio vem sendo concedido.

As pesquisas vão desde "Quem vai ajudar a Ucrânia?" até buscas pela assistência específica prestada por algumas nações, como Estados Unidos, Alemanha e Brasil.

Segundo especialistas consultados pela BBC News Brasil, o socorro à Ucrânia tem sido enviado de três diferentes formas: por meio de auxílio armamentício e econômico, acolhimento aos refugiados, e por intermédio de apoio diplomático.

Os principais países envolvidos nos esforços são os aliados na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e na União Europeia (UE) e as nações vizinhas, que têm sido responsáveis por receber a maior parte dos ucranianos fugindo da guerra.

Mas a ajuda não acaba aí. O apoio à Ucrânia também foi manifestado nas vias diplomáticas, por meio de declarações oficiais e votos nas Nações Unidas, por centenas de países que se opuseram à ação militar russa.

"De maneira geral, o mundo tem se mostrado bastante simpático à causa ucraniana. Esse apoio pode ser percebido por meio dos 141 votos a favor da resolução que condenou a Rússia pela invasão na Assembleia-Geral da ONU", avalia Demetrius Pereira, professor de Relações Internacionais da ESPM.

Como os membros da Otan e União Europeia estão ajudando?

Pela primeira vez em sua história, a União Europeia está enviando armamentos para uma nação em guerra.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou no último domingo (27/02) que o bloco concordou em conceder 450 milhões de euros (R$ 2,4 bilhões) para financiar o fornecimento de armas à Ucrânia, e outros 50 milhões de euros (R$ 280 milhões) para equipamento não letal, como combustível e itens de proteção.

Além disso, ao menos 21 países membros do bloco europeu e da Otan ofereceram algum tipo de ajuda de forma individual.

O Departamento de Estado dos EUA, por exemplo, se comprometeu com o equivalente a US$ 350 milhões (R$ 1,7 bilhão) em armas, incluindo mísseis antitanque Javelin, sistemas antiaéreos e coletes à prova de balas.

O presidente da França, Emmanuel Macron, se comprometeu com 300 milhões de euros (R$ 1,6 bilhão) em equipamentos militares e combustíveis para auxiliar o exército ucraniano.

A Alemanha, que mantinha uma prática de longa data de bloquear o envio de armas letais para zonas de conflito, confirmou que forneceria à Ucrânia mil lançadores de granadas antitanque, 500 mísseis Stinger, nove obuseiros e 14 veículos de combate. Em paralelo, o país anunciou a suspensão do bloqueio para envio de armas de fabricação alemã por meio de outros países.

A decisão marca uma mudança importante e poderia abrir espaço para um aumento da ajuda militar à Ucrânia vinda de outros países do continente. Isso porque uma parte das armas fabricadas na Europa são pelo menos parcialmente manufaturadas na Alemanha - o que significa que o país pode interferir na decisão de enviá-las a outras regiões.

Alemanha e Holanda estudam ainda enviar um sistema de defesa aérea conjunto Patriot para um grupo de batalha da Otan na Eslováquia, que faz fronteira com a Ucrânia.

Bélgica, Portugal, Itália, Espanha, Grécia, República Tcheca, Polônia, Romênia, Canadá, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Noruega, Croácia e Eslovênia também forneceram ajuda militar. Israel e Austrália, que não são membros da UE ou da Otan, mas atuam como aliados, também prometeram auxílio.

Alguns países ainda anunciaram envio de ajuda humanitária. Os Estados Unidos afirmaram que pretendem colaborar com US$ 54 milhões (R$ 270 milhões) a serem gastos por organizações não-governamentais ucranianas e o governo britânico decidiu complementar a doação com a mesma quantia.

A Itália enviou 110 milhões de euros (R$ 610 milhões) em ajuda imediata ao governo da Ucrânia, enquanto a Espanha prometeu 20 toneladas de suprimentos. França, Holanda, Turquia e Grécia também prometeram auxiliar com doações que podem ser revertidas em alimentos e medicamentos.

Até o momento, nenhum dos países da Otan ou da União Europeia manifestou intenção de interferir diretamente no conflito, com o envio de tropas.

Segundo especialistas em segurança internacional, as potências buscam minimizar o risco de qualquer conflito ampliado. "O Ocidente e a Otan têm demonstrado que querem evitar um confronto direto na Ucrânia com a Rússia", diz Vicente Ferraro Jr., cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da Universidade de São Paulo (USP).

O analista explica que, de acordo com o Artigo 5º do tratado que rege a Otan, a aliança militar é obrigada a defender qualquer Estado membro que seja atacado. E ao que parece até o momento, o grupo só deve agir nessas circunstâncias.

Sanções econômicasO apoio à Ucrânia também é manifestado no formato de sanções econômicas contra a Rússia.

União Europeia, Estados Unidos, Reino Unido e outros países anunciaram no fim de semana um conjunto sem precedentes de sanções financeiras.

Entre as medidas estão a exclusão de bancos russos do sistema de transferências financeiras internacionais Swift e o congelamento de boa parte das reservas do Banco Central da Rússia mantidas no exterior.

As sanções têm por objetivo levar a economia russa à recessão, pressionando a opinião pública contra a ação militar de Putin no país vizinho.

Quem está recebendo os refugiados?

Outra manifestação importante de apoio à Ucrânia é a acolhida de milhares de pessoas que estão deixando o país.

Segundo o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, 1 milhão de refugiados já fugiram da Ucrânia desde o início da invasão russa.

Estimativas da União Europeia indicam ainda que o total de pessoas tentando deixar o país pode chegar a 4 milhões.

"Em apenas sete dias, testemunhamos o êxodo de um milhão de refugiados da Ucrânia para países vizinhos", escreveu Grandi nas redes sociais. "Para muitos outros milhões, dentro da Ucrânia, é hora de silenciar as armas, para que a assistência humanitária que salva vidas possa ser fornecida", acrescentou.

Demetrius Pereira afirma que os países vizinhos da Ucrânia são os que têm lidado de forma mais intensa com as hordas de ucranianos que atravessa a fronteira todos os dias.

"Polônia, Eslováquia e Romênia são os países que estão recebendo mais refugiados até agora. A Moldávia, apesar de não fazer parte nem da Otan nem da União Europeia é um vizinho que tem ajudado bastante também", diz o especialista.

Segundo a ONU, entre os países que mais receberam ucranianos nos últimos dias, até 3 de março, estão:

-Polônia recebeu 505.582 pessoas-Hungria, 139.686-Moldova, 97.827-Eslováquia, 72.200-Romênia, 51.261-Rússia, 47.800-Belarus, 357

Quase 90 mil pessoas já deixaram esses países em direção a outras nações na Europa.

Na Polônia e em outros países que fazem fronteira com a Ucrânia, refugiados podem ficar em centros de acolhimento se não tiverem amigos ou parentes que possam acomodá-los. Eles recebem comida e atendimento médico. A Polônia também está preparando um trem médico para transportar ucranianos feridos.

Hungria e Romênia estão oferecendo ajuda financeira para aquisição de comida e roupas. Crianças estão recebendo vagas em escolas locais.

A República Tcheca permitirá que os refugiados solicitem um tipo especial de visto para permanecer no país.

Polônia e Eslováquia pediram ajuda à UE em seus esforços de assistência aos refugiados. Em resposta, a Grécia e a Alemanha estão enviando tendas, cobertores e máscaras para a Eslováquia, enquanto a França está enviando medicamentos e outros equipamentos clínicos para a Polônia.

A UE também está se preparando para oferecer, para ucranianos que estão fugindo do conflito, um direito de permanência e trabalho por até três anos em todas as 27 nações do bloco. Eles também devem receber assistência social e acesso a moradia, atendimento médico e escola para as crianças.

Em Irpin, está ocorrendo uma fuga em massa

A China está ajudando?

A China não manifestou qualquer intenção de enviar ajuda econômica ou militar à Ucrânia até o momento.

Ao contrário dos Estados-membros da Otan e da União Europeia, o país asiático tem demonstrado uma posição mais aliada à Rússia - ainda que com um discurso moderado.

A relação diplomática entre Moscou e Pequim, que tem ficado cada vez mais próxima, pôde ser vista na Olimpíada de Inverno, na capital chinesa, com Putin sendo um dos poucos líderes mundiais presentes no evento.

O governo chinês também emitiu pronunciamentos em que classificou as preocupações de Moscou em relação à sua segurança nacional como "legítimas", afirmando que elas deveriam ser "levadas a sério e discutidas".

Na quarta-feira (2/3), Pequim ainda rechaçou a possibilidade de impor sanções contra a Rússia e classificou as penalidades econômicas anunciadas por Estados Unidos e Europa como ilegais.

No entanto, de forma surpreendente, Pequim absteve-se das duas votações realizadas nas Nações Unidas - no Conselho de Segurança e na Assembleia-Geral da ONU - para condenar a invasão russa da Ucrânia.

Segundo analistas consultados pela BBC News Brasil, a forma cautelosa com que Pequim vem lidando com a guerra na Ucrânia é reflexo dos temores do país em relação a possíveis retaliações econômicas e políticas.

"A China tem interesses econômicos gigantescos na Europa e tem que tomar cuidado para que seu apoio a Putin não fique tão óbvio a ponto de provocar reações negativas da França, Alemanha ou do continente em geral", diz o americano Bruce Jones, diretor do Projeto sobre Ordem Internacional e Estratégia do think tank Brookings Institution.

E o Brasil?

O Brasil foi uma das 141 nações que votaram a favor da resolução que condenou a Rússia pela invasão na Assembleia-Geral da ONU na última quarta-feira (02/03). O país também votou contra Moscou no Conselho de Segurança.

No âmbito da diplomacia, o Itamaraty ainda pediu a suspensão das hostilidades e uma solução diplomática. No entanto, descreveu a invasão como uma "deflagração de operações militares da Rússia contra alvos em território ucraniano".

O presidente Jair Bolsonaro (PL), que recentemente se encontrou com seu colega russo em Moscou e disse ser solidário à Rússia, limitou-se a emitir instruções e recomendações para cidadãos brasileiros na Ucrânia.

O Brasil, no entanto, tem agido para facilitar o acolhimento dos que fogem da guerra. Em uma portaria editada na quinta-feira (3/3), o governo federal determinou a concessão de visto de 180 dias aos refugiados e possibilidade de residência temporária para ucranianos e apátridas com prazo de dois anos.

Também há um esforço para ajudar os brasileiros que estão na Ucrânia - com um avião cargueiro da Força Aérea Brasileira decolando Brasília com destino a Varsóvia, na Polônia, para resgatar nacionais que estão fugindo da guerra. A aeronave parte do Brasil com 11 toneladas e meia de materiais voltados à ajuda humanitária aos civis que estão sofrendo as consequências do conflito. 

(BBC)

 

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