Bolsonaro, a princípio, tinha sido aconselhado a deixar a
saída para o caso Silveira para o Parlamento: ou seja, pressionar Arthur Lira (PP-AL),
presidente da Câmara, a salvar politicamente o mandato do deputado uma vez que,
juridicamente, ele já estava condenado à prisão, mas os parlamentares poderiam
questionar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) a
decisão sobre o mandato.
A Câmara chegou a acionar o STF, mas Bolsonaro saiu do
roteiro e aderiu ao “núcleo duro” de assessores: foram encarregados de achar a
solução do decreto concedendo a graça a Silveira
- o subchefe de Assuntos Jurídicos do governo, Pedro Cesar
Sousa;
- o secretário de Governo, Celio Faria;
- o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jorge
Oliveira – indicado por Bolsonaro e considerado praticamente da família
Bolsonaro;
- e o Advogado-Geral da União, Bruno Bianco.
Fora Bianco, todos são bolsonaristas raiz.
O Centrão, que tenta vender a imagem de um Bolsonaro
“moderado”, foi vencido no argumento de que a decisão levaria a uma nova crise
institucional com o STF.
E mais: a decisão foi costurada no pior momento de briga
de espaço entre o Centrão e militares, já que Braga Netto, que deve ser
confirmado na vice de Bolsonaro, voltou a despachar do Palácio do Planalto e
tem brigado para retomar poder e protagonismo dos militares junto ao presidente
– ou seja, trava uma "guerra" com o centrão.
Esses militares que trabalham para o governo, segundo o blog apurou,
não só deram aval como comemoraram a decisão do presidente.
São, também, entusiastas
do enfrentamento de Bolsonaro com o Judiciário: além da
decisão de quinta-feira (21), também patrocinaram as investidas de Bolsonaro
contra as urnas eletrônicas.
Entre os militares, eles explicam os motivos. Há uma certa raiva do STF por ter
1. liberado a candidatura do ex-presidente Lula, ao anular
decisões da Lava Jato;
2. liberado áudios do Superior Tribunal Militar da época da
ditadura. A decisão do STF é de 2017 mas, na semana passada, trechos desses
áudios em que os militares comentam os casos de tortura sofridos por presos
durante o regime vieram à tona, após um trabalho do historiador Carlos Fico
divulgado pela jornalista Miriam Leitão.
Nos bastidores, generais se dizem irritados com a
“retomada do assunto”, pois acham que prejudica a imagem das Forças Armadas. No
entanto, não entram no mérito do conteúdo dos áudios – que provam as torturas
cometidas durante o período da ditadura militar.
Diante desse quadro, militares voltaram a defender que
Bolsonaro “enfrente o Judiciário” e aproveitaram o gancho do caso de Daniel
Silveira. Um general disse ao blog que o presidente aproveitou para “marcar
posição e mostrar limites” para a Corte – e que “duvidava” que o STF venha a
derrubar o decreto do presidente. (G1)
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