A declaração ocorreu durante reunião de cem dias de governo com ministros e líderes no Congresso, no Palácio do Planalto.
"Ontem,
o Carrefour cometeu mais um crime de racismo. Mais um crime. Um fiscal do
Carrefour acompanhou uma moça negra, que ia fazer compra, achando que ela ia
roubar, ela teve que ficar só de calcinha e sutiã para provar que ela não ia
roubar", disse Lula.
"É a segunda vez que o Carrefour faz esse tipo de coisa. Então, a gente tem que dizer para a direção do Carrefour, se quiserem fazer isso no seu país de origem, que façam, mas neste país a gente não vai admitir o racismo que essa gente tenta impor ao Brasil",
completou.
O
episódio a que Lula se refere é o da atriz e professora Isabel Oliveira que
ficou apenas com roupas íntimas em uma unidade do mercado Atacadão, em
Curitiba, para denunciar racismo que teria sofrido de um segurança, segundo o
UOL. O ato foi realizado como um protesto após ela ter ido ao mercado fazer
compras e, segundo relatou, ter sido perseguida pelo funcionário.
O mercado
pertence ao Grupo Carrefour Brasil, de origem francesa.
Ao UOL o
Atacadão negou, em nota, que o segurança tenha agido de maneira racista.
Acrescentou que apurou o caso internamente, ouvindo os funcionários e
analisando as câmeras de segurança da sociedade.
Questionado
pela Folha sobre o episódio, o Grupo Carrefour disse apenas que abriu uma
apuração interna e que durante esse período o funcionário indicado pela cliente
ficará suspenso.
"O
Grupo Carrefour Brasil está completamente comprometido com uma total
transparência e segue postura de tolerância zero contra qualquer tipo de
racismo", disse em trecho da nota, lembrando que é uma empresa brasileira
de capital aberto com 47 anos de presença no país, "sendo a maior
empregadora privada do Brasil, com mais de 150 mil colaboradores, e
comprometida com uma extensa agenda antirracista".
Outro
caso de racismo a que Lula provavelmente se referiu foi a morte de João Alberto
Silveira de Freitas, homem negro que foi espancado em um supermercado da rede
em Porto Alegre, em novembro de 2020.
Freitas
fazia compras com a mulher quando foi abordado violentamente por dois
seguranças do supermercado. Agredido com chutes e socos por mais de cinco
minutos, foi sufocado e não resistiu. O espancamento foi registrado em vídeos
feitos por celular.
O Ministério
Público do Rio Grande do Sul denunciou seis pessoas por suspeita de homicídio
triplamente qualificado no caso.
Em outra
ocorrência recente, o cantor Vinícius de Paula, marido da bicampeã olímpica de
vôlei Fabiana Claudino, acusou o Carrefour de racismo. O caso, segundo afirmou
em redes sociais, ocorreu na tarde de sexta (7) em Alphaville, na região de
Barueri, na Grande São Paulo.
Segundo o
artista, que é negro, ele tentava passar pelo caixa preferencial, que estava
vazio, quando a funcionária do local disse que não poderia atendê-lo. Quando se
dirigiu a outro caixa, viu uma mulher branca, que não se enquadrava nos
critérios de cliente preferencial, ser atendida pela mesma funcionária.
Em nota
sobre o caso, o Carrefour afirmou que a funcionária estava em período de
experiência, foi imediatamente afastada pela gerência e desligada no mesmo dia.
O grupo
disse que nos últimos anos assumiu a responsabilidade de fazer uma
transformação de dentro para fora no combate ao racismo estrutural no país, com
investimento de mais de R$ 115 milhões, com maior foco na área de educação.
Em
fevereiro, um ajustamento de conduta fechado entre o Carrefour e os Ministérios
Públicos Federal e do Rio Grande do Sul e as Defensorias do estado e da União
definiu que o grupo terá que destinar R$ 68 milhões para o pagamento de mais de
800 bolsas de estudo e permanência para pessoas negras em instituições de
ensino superior de todo o Brasil, para reparar os danos morais coletivos como
consequência da morte de Freitas.
O Grupo
Vector, empresa dos dois seguranças, também assinou um acordo de R$ 1,79 milhão
com a Justiça. O TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) foi assinado com a
Defensoria Pública do Rio Grande do Sul e também prevê que o recurso seja
destinado para o combate ao racismo, à discriminação e à violência.
(JB)

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