sábado, 27 de julho de 2024

DE OLHO NA LÍNGUA - Prof. Antônio da Costa - Sobral-CE - Sábado - 27.07.24)

VULGO (ETIMOLOGIA)

A palavra “vulgo”, hoje obsoleta, é usada em arquivos e fontes para nomes ou indicações que são familiares ao povo. Nos dicionários são identificados com ela, por exemplo, expressões coloquiais. Em registros da antiga Igreja, “vulgo” era anexado ao nome sob o qual a pessoa era conhecida na aldeia, mas que não corresponda ao verdadeiro nome de batismo. Hoje caiu em desuso pela acepção depreciativa que transmite. 

Pela mesma razão, a palavra da língua portuguesa “vulgar” que, originalmente, significava apenas “habitual”, usual, para o povo, foi abandonada. De fato, o substantivo latino “vulgus” significa povo, e o adjetivo derivado “vulgaris” quer dizer vulgar, isto é, popular.

VILÃO (ORIGEM E ETIMOLOGIA)

Vilão era apenas o aldeão, o habitante da vila, e depois veio a significa pessoa rude, grosseira. Do Latim “villanus” (rústico), que habita uma vila. Com o passar do tempo, o termo primitivo foi esquecido e a palavra adquirir novo significado: abjeto, desprezível, vil, bandido.

Muitos substantivos terminados em “ao” apresentam dois ou até três plurais. É o caso de vilão, cujos plurais são: vilões, vilãos e vilães. O feminino pode ser vilã ou viloa.

SOLDADO (ETIMOLOGIA)

O termo soldado deriva do italiano “soldato” (particípio do verbo “soldare”) e significa alguém a quem se pagou soldo para servir. Soldo deriva do latim “solidum nummum”. Trata-se de uma moeda de ouro da Roma imperial.

RISCO DE VIDA / RISCO DE MORTE

A expressão rigorosamente lógica, racional é risco de morte (o elemento final deve denotar sempre algo ruim), assim como se corre risco de infecção num ambiente infecto; assim como se corre risco de contágio, se se tem contato com alguém que sofre de mal contagioso, etc.

Nem sempre, porém, o que é racional, lógico, acaba a braços com a língua, que também agasalha risco de vida. A língua adota, também, as expressões “perigo de vida” e “perigo de morte”. Afinal, quando uma pessoa se põe a andar a 200 km/h, nas estradas brasileiras, arrisca a vida (e não a morte).

MATAR / ASSASSINAR

Convém não confundir.  Matar é dar (intencionalmente ou não) a morte a alguém; é tirar (propositadamente ou não) a vida de alguém. Assassinar é matar à traição ou levando enorme vantagem sobre a vítima. Pode alguém matar sem assassinar. Quem assassina, contudo, sempre mata. Os sequestradores assassinam; Um motorista, mesmo mais cuidadoso e experiente, pode matar: basta que alguém se atire à frente do seu veículo em alta velocidade ou mesmo havendo falha mecânica no veículo.

Repare que as placas de trânsito das nossas rodovias trazem: “Não corra, não mate, não morra”. Ao volante, os motoristas não assassinam, a não ser que manifestem intenção deliberada de fazê-lo. 

EXISTE ALGUMA DIFERENÇA ENTRE ASSASSINO E HOMICIDA?

Existe. Assassino é o que mata alguém intencionalmente; Homicida é o que mata alguém voluntária ou involuntariamente. Aquele que mata em legítima defesa não é assassino, mas não deixa de ser homicida.

MORTE E FALECIMENTO (QUAL A DIFERENÇA?)

MORTE serve para todos, indistintamente, velhos e moços. 

FALECIMENTO é próprio dos que já viveram o bastante, aos quais alguns chamam idosos; outros, senis. Mas a maior parte usa mesmo velhos (que não é um termo adequado). Só a morte pode ser violenta; o falecimento, ao contrário, exprime apenas um efeito natural. Por isso, ninguém “falece” num violento acidente de automóvel, assim como não há “falecimento” num assassinato. Há, em ambosos casos, morte.

SURPRESA INESPERADA

Ganha um chocolate Sonho de Valsa quem encontrar uma surpresa inesperada, A surpresa é sempre inesperada. Daí porque o adjetivo sobra. Basta surpresa.

O RAPAZ, DESDE CRIANÇA, PUXAVA UMA PERNA

Diga-se: O rapaz, desde criança, puxava de uma perna. No sentido de coxear, usa-se “puxa de uma perna”. Cláudio puxa de uma perna: deve ter se machucado; Alcides puxava de uma perna, sinal de que havia sido ferido.

HOUVERAM OU NÃO HOUVERAM?

“Houveram encontros desastrosos na minha vida”. Não é para menos! O correto é: Houve encontros desastrosos na minha vida. Aprenda: Nunca faça variar o verbo “haver” no sentido de acontecer, realizar-se, existir. Use sempre singular. Exs.: Anos atrás houve muitas batalhas ponto; Ontem houve várias reuniões.

(*) Professor Antônio da Costa é graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Contatos: (088) 99373-7724.

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