No
segundo semestre do ano passado, o papa declarou que seus problemas médicos
dificultam suas viagens ao exterior. Pouco depois, ele cancelou uma visita aos
Emirados Árabes Unidos, aumentando as especulações sobre a gravidade do seu
estado de saúde.
Mas
isso foi quase um ano atrás.
Em
setembro, Francisco enfrenta a mais longa viagem ao exterior dos seus 11 anos e
meio de pontificado.
Com
uma agenda repleta de compromissos, seu roteiro inclui, além do Timor Leste,
três países onde os católicos são minoria: Indonésia, Papua-Nova Guiné e
Singapura.
Por
que o papa está viajando tanto e para tão longe de casa? Seus apoiadores
acreditam que ele seja levado pela sua paixão.
"Obviamente,
ele tem imensa energia, que é fruto da total paixão pela sua missão",
explica o padre Anthony Chantry, diretor da organização missionária do papa,
Missio, no Reino Unido. Ele foi recentemente nomeado pelo Vaticano para o
Dicastério para a Evangelização.
"Ele
diz que todos nós temos a incansável missão de nos aproximarmos das pessoas,
para dar o exemplo", afirma Chantry.
Evangelização
A
"missão" cristã evoluiu ao longo dos séculos. Seu objetivo ainda é
difundir o evangelho, mas, agora, com foco declarado sobre a justiça social e o
trabalho beneficente.
A
longo da viagem, o papa Francisco irá encontrar missionários, incluindo um
grupo argentino que se estabeleceu em Papua-Nova Guiné.
Mas
em diversas visitas à Ásia, incluindo a atual, ele também se aproxima da China,
um país com profundas suspeitas em relação à Igreja, sua missão e seus
propósitos.
O
papa enfatiza com frequência a importância da evangelização para todos os
católicos. Mas, em muitas partes do mundo, ainda é difícil separar a ideia de
"missionários" e "evangelização" do histórico da
colonização europeia.
Com
a diminuição do número de católicos na Europa, estariam a "missão" e
a "evangelização" da Ásia e da África agora relacionadas à expansão
da Igreja naquelas partes do mundo?
"Acho
que ele está pregando o evangelho de amor que não irá fazer mal a
ninguém", afirma o padre Chantry. "Ele não está tentando obter apoio
para a Igreja, não é disso que trata a evangelização."
"Isso
não deve ser chamado de proselitismo, que não é o que fazemos há muito tempo.
Não é a agenda do Santo Padre e não é a agenda da Igreja. O que fazemos é
compartilhar e ajudar as pessoas de todas as formas possíveis,
independentemente da sua fé ou de não terem fé."
Chantry
afirma que ser um missionário cristão nos dias de hoje, que é o exemplo sendo
deixado por Francisco, envolve fazer o trabalho do bem e ouvir. Mas, às vezes,
também é questionar ideias, "quando necessário".
"Acreditamos
que Deus irá fazer o resto e, se isso levar as pessoas a aceitarem Jesus
Cristo, está ótimo", explica ele. "E, se ajudar as pessoas a apreciar
mais a sua própria espiritualidade, sua própria cultura, acho que será mais uma
vitória."
O
papa, certamente, fala há muito tempo sobre a harmonia e o respeito entre as
religiões. Uma das imagens mais emblemáticas da sua viagem atual foi o momento
em que o papa beijou a mão do grande imã da Mesquita Istiqlal em Jacarta, na
Indonésia, levando-a até o rosto.
Francisco
foi recebido calorosamente pelas pessoas que saíram para vê-lo no mais populoso
país de maioria muçulmana do mundo.
A
última parada da maratona asiática do papa Francisco será em Singapura, onde
cerca de 75% da população são de etnia chinesa – mas a minoria católica do país
está fortemente envolvida em trabalhos missionários, nas regiões mais pobres.
Há
séculos, Singapura é uma espécie de centro regional estratégico para a Igreja
Católica. Tudo o que o papa disser e fizer ali provavelmente será acompanhado
de perto na China e pelos católicos que vivem no país.
É
difícil ter uma noção concreta dos números, mas estimativas indicam cerca de 12
milhões de pessoas.
A
falta de clareza destes números se deve, em parte, ao fato de que os católicos
da China estão divididos entre a Igreja Católica chinesa oficial e uma igreja
clandestina, leal ao Vaticano, que evoluiu no regime comunista.
Ao
tentar unir os dois grupos, o papa Francisco foi acusado de satisfazer o
governo de Pequim, desapontando os católicos do movimento clandestino, que não
aceitaram a interferência do governo chinês, enfrentando a contínua ameaça de
perseguição.
Caminho
cauteloso
Os
acordos firmados entre a China e o Vaticano nos últimos anos parecem ter
deixado uma situação na qual o governo chinês nomeia os bispos católicos e o
papa os reconhece.
A
China defende que esta é uma questão de soberania, mas o papa Francisco insiste
que detém a palavra final, embora não pareça.
"Ele
não irá agradar a todos, todo o tempo", explica o padre Anthony Chantry.
"Mas acho que o que o Santo Padre realmente quer é indicar que a Igreja
não é uma ameaça ao Estado."
"Ele
está trilhando um caminho muito cauteloso e repleto de dificuldades, mas acho
que o que ele está tentando fazer é simplesmente estabelecer uma relação
respeitosa com o governo chinês."
Estando
certo ou errado, tudo é feito em nome de trazer mais pessoas para o rebanho.
Alguns
dos predecessores de Francisco, de muitas formas, foram mais inflexíveis. Eles
pareciam aceitar mais uma comunidade católica menor e "mais pura",
sem fazer concessões nas relações exteriores, nem na visão da Igreja sobre
questões como o divórcio e a homossexualidade.
Enquanto
alguns papas claramente se sentiam mais à vontade com os estudos e a teologia
do que com as viagens e as imensas multidões, outros se dedicaram à política do
cargo.
Acompanhando
as viagens do papa Francisco, fica muito claro que ele, muitas vezes, pode se
sentir cansado e sobrecarregado durante os eventos diplomáticos. Mas ele se
rejuvenesce rapidamente com as multidões que surgem para vê-lo. E fica
energizado com as pessoas comuns que o encontram, principalmente os jovens.
Este
certamente não é um papa que evita os holofotes. Estar entre as pessoas – o que
alguns chamam de sua missão – parece ser sua força vital.
Para
o padre Anthony Chantry, esta longa viagem papal é apenas mais uma amostra de
como Francisco acredita que a Igreja deve se relacionar com os católicos e não
católicos.
"Todo
o impulso é nos aproximarmos dos demais", explica ele. "Precisamos
fazer com que todos se sintam bem-vindos. Acho que ele [o papa Francisco] faz
isso muito bem, mas não acredito que ele esteja tentando ganhar pontos por lá,
é simplesmente ele."
Desde
sua eleição em 2013, muitas das ações de Francisco deixaram irritados os
católicos tradicionalistas. Eles costumam achar que o pontífice leva seu
espírito de proximidade com as pessoas longe demais.
As
ações do papa durante sua viagem dificilmente irão reverter as opiniões
contrárias, neste mês de setembro.
(Fonte:
BBC)
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