“Essa questão da taxação dos super-ricos é uma pauta que
transcende o Brasil, é uma pauta mundial. […] Mas é evidente que no Brasil tudo
é muito mais grave porque nós temos um nível de desigualdade extraordinário e
não passamos pelas reformas civilizatórias do capitalismo, entre elas a reforma
tributária”, afirma. “O problema de nossa carga tributária é um problema
distributivo”, ressalta.
Segundo Grassano, o sistema atual onera quem vive do trabalho e
alivia os que vivem do capital, gerando distorções severas. “Temos legislações
que oneram a classe que recebe rendimento de trabalho e desoneram a elite
econômica, que recebe rendimento de capital. […] Essa desoneração repercute
grandemente no topo da pirâmide social”, diz. Para exemplificar a concentração
de renda no Brasil, ela cita dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) que mostram que, para estar entre os 10% mais
ricos do país, basta ter renda bruta de R$ 6 mil mensais.
A proposta do projeto
de lei 1087/2025, em debate na Câmara, prevê que brasileiros com
qualquer faixa de renda paguem ao menos 10% de imposto efetivo sobre seus
rendimentos, o que, segundo ela, não representa um aumento para a maioria da
população. “Não é uma tentativa de sobretaxar os superricos, e sim de
estabelecer uma alíquota efetiva mínima para todos”, explica. Atualmente,
milionários com renda mensal acima de R$ 1 milhão chegam a pagar apenas 2% ou
3% de imposto sobre seus rendimentos.
Plebiscito
popular e a campanha do PT
A especialista defende o plebiscito
popular lançado por movimentos sociais e centrais sindicais na
última terça-feira (1º), que além de propor o fim
da escala 6×1 (seis dias de trabalho para um de folga) e a isenção
do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil, busca
ampliar a conscientização sobre o sistema tributário injusto. “Essa é uma pauta
da classe pobre, popular e trabalhadora”, classifica.
Grassano também critica as reações da oposição à campanha
do PT apelidada de “Taxação BBB”, voltada para bilionários,
bancos e bets, e alerta para o risco de o Congresso manter os privilégios das
elites. “A nossa sociedade foi estabelecida a partir de injustiças históricas.
Então é muito relevante que esse assunto esteja na ordem do dia, na agenda do
governo e da sociedade”, comemora.
Ela lembra que, enquanto o Brasil tem uma das menores
tributações sobre renda entre os países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), os tributos sobre consumo, que pesam
mais sobre os mais pobres, seguem elevados. “O rendimento de capital é muito
menos tributado que o do trabalho. A distribuição de lucros e dividendos, por
exemplo, não é tributada na pessoa física. É um caso quase único no mundo”,
aponta.
A professora rebate ainda a lógica das propostas de austeridade
fiscal que, segundo ela, colocam o peso do ajuste apenas sobre os
trabalhadores. “Nunca escutamos qualquer limite imposto a desonerações
tributárias e benefícios fiscais concedidos, que estão entre as maiores
despesas da União. […] O Estado historicamente tem sido enxugado a partir da
diminuição de despesas com saúde, educação pública, assistência social, reforma
administrativa e previdência”, compara.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda
a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na
Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
(Brasil de fato)
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