Em nota, o Planalto afirmou que a conversa ocorreu por 30 minutos "em tom amistoso" e informou que ambos concordaram em se encontrar pessoalmente "em breve".
"O presidente Lula aventou a possibilidade de encontro na Cúpula da Asean, na Malásia; reiterou convite a Trump para participar da COP30, em Belém (PA); e também se dispôs a viajar aos Estados Unidos."
Participaram, do lado brasileiro, o vice-presidente Geraldo Alckmin, os
ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda),
Sidônio Palmeira (Comunicação) e o assessor especial Celso Amorim.
"O presidente Lula descreveu o contato como uma oportunidade para a
restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores
democracias do Ocidente", diz a nota.
"[Lula] Recordou que o Brasil é um dos três países do G20 com quem
os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços. Solicitou a
retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas
restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras", segue o texto.
Ainda segundo o Planalto, Trump designou o secretário de Estado
americano, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com o vice-presidente
Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando
Haddad.
Mais cedo, Haddad havia dito à imprensa que o encontro foi
"positivo".
Passaram-se mais de dez dias desde que Trump mencionou em seu discurso
na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) a possibilidade de
um encontro com Lula.
Na ocasião, o republicano disse que um encontro poderia acontecer na
"semana que vem", prazo que terminou no sábado (4/6).
Naquele dia, em 23 de setembro, Trump contou que havia interagido com
Lula por alguns breves segundos nos bastidores da assembleia, em Nova York.
O americano, que discursou logo após o brasileiro, disse diante do
plenário da ONU que ambos tiveram uma "química excelente", trocaram
um abraço e combinaram o encontro.
Em seguida, Lula disse em entrevista coletiva que estava
"otimista" com o encontro e que esperava que a conversa fosse
"civilizada".
Havia um temor de que um eventual encontro entre ambos poderia terminar
com Trump constrangendo Lula, como ocorreu com o presidente da Ucrânia
Volodymyr Zelensky, e o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa.
"Trump faz 80 anos em junho do ano que vem. Eu faço 80 anos em
outubro desse ano. Não há por que ter brincadeira numa relação entre dois
homens de 80 anos de idade. Eu vou tratá-lo com o respeito que merece o
presidente dos Estados Unidos, e ele certamente vai me tratar com o respeito
que merece o presidente da República Federativa do Brasil", disse Lula na
ONU.
Sobre o que poderia estar na mesa de negociação, o mandatário brasileiro
mencionou os minerais de terras raras.
"Queremos discutir com mundo inteiro nossos minerais críticos,
queremos que empresas que queiram explorar vão para o Brasil", disse Lula,
reforçando que as companhias interessadas devem realizar o processo industrial
no Brasil e não apenas exportar os minérios.
"Tenho lido bastante. Estou estudando pra ninguém me enganar",
brincou o presidente.
Essa reunião formal entre Lula e Trump foi a primeira depois da escalada
da tensão entre os dois países desencadeada pela tarifa de 50% sobre produtos
brasileiros, anunciado pelo americano no início de julho.
A conversa representa uma oportunidade de destravar negociações.
Há meses, o governo americano vem impondo tarifas comerciais e outras
medidas contra o Brasil em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair
Bolsonaro — que é aliado ideológico de Trump e foi condenado em setembro pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por golpe de
Estado após perder a eleição de 2022.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro,
mudou-se para os Estados Unidos neste ano e desde então tem se empenhado em
articulações junto à Casa Branca por sanções ao Brasil, tentando pressionar
pela absolvição e anistia do pai.
As sanções mais recentes foram anunciadas pelos EUA apenas um dia antes
do aceno de Trump na ONU: Viviane
Barci de Moraes, mulher do ministro do STF Alexandre de Moraes, e a
empresa LEX - Instituto de Estudos Jurídicos, que pertence à família do
magistrado, foram submetidas à Lei Magnitsky, que pune estrangeiros
considerados pelo governo americano como autores de graves violações de
direitos humanos e práticas de corrupção.
Desde o início, Trump deixou claro que as medidas contra o Brasil tinham
natureza política e se referiu diversas vezes ao julgamento de Bolsonaro como
uma "caça às bruxas".
(Fonte: BBC)
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