“É
uma exposição sobre escravidão atlântica, global. Ela mostra primeiro como a
escravidão é um fenômeno global e como ela envolveu todos os países do mundo
Atlântico nos séculos 15 a 19, mas também mostra que a escravidão está muito
ligada no momento presente. Daí o nome Para além da escravidão, pensando as conexões com o presente”,
destacou Keila.
A exposição é
gratuita e ficará aberta à visitação até o dia 1º de março de 2026.
Como a mostra não
se prende só ao passado, mas repercute também no presente, uma das coisas que o
público vai aprender é que as consequências da escravidão existem em vários
lugares ao mesmo tempo, segundo a curadora.
Keila ressalta que
houve resistência à escravidão e ao colonialismo em vários países. “E essas
formas de resistência têm conexão umas com as outras”.
De acordo com a
curadora, o subtítulo “construindo a liberdade negra no mundo” deixa isso bem
claro ao reunir peças religiosas, peças de música, como um atabaque do Haiti,
por exemplo.
A
exposição destaca também as questões contemporâneas. “Por
exemplo, tem uma parte, no final, que tem discussão sobre reparação, sobre
justiça ambiental e efeitos raciais. Tem uma parte que fala de violência
policial, e por aí vai”.
A conclusão,
analisou a historiadora, é que a escravidão, como existiu no passado, não
existe mais. Mas as consequências, na forma do racismo, principalmente,
continuam existindo.
“Eu acho que o
grande lance é perceber as estruturas e, também, a luta contra elas. A ideia da
exposição, apesar dela ser dura, é que a pessoa sai de lá empoderada com as
possibilidades que as várias formas das experiências humanas contra o racismo
trazem, embora não se possa falar de esperança no Rio de Janeiro, hoje em
dia”.
A ideia, de acordo
com a curadora, é mostrar o alcance dos problemas e a possibilidade de
mudanças.
A estreia global
da mostra ocorreu em dezembro de 2024, no Museu Nacional de História e Cultura
Afro-Americana, em Washington, nos Estados Unidos.
A
mostra reúne cerca de 100 objetos, 250 imagens e dez filmes, divididos em seis
seções. Do
Museu Histórico Nacional, a mostra seguirá para a Cidade do Cabo, na África do
Sul; Dakar, no Senegal; e para Liverpool, na Inglaterra.
Atividades paralelas
Em parceria, o
museu e o Arquivo Nacional promoverão o seminário internacional Para além da
escravidão: memória, justiça e reparação, nos dias 13 e 14, na sede
do Arquivo Nacional, na Praça da República, região central do Rio de Janeiro.
Com curadoria
também de Keila Grinberg, o Arquivo Nacional abrigará a exposição Senhora Liberdade:
mulheres desafiam a escravidão, exibindo documentos do acervo da
instituição que revelam histórias de dez mulheres escravizadas que entraram na
Justiça contra os seus senhores, no século 19.
“Nem
todas ganharam a liberdade, mas todas tentaram. Isso é muito importante porque
são histórias pouco conhecidas, de mulheres que desafiaram os senhores, a
Justiça e foram atrás”.
O público poderá
visitar essa exposição de segunda a sexta-feira até o dia 30 de abril do
próximo ano. A entrada é gratuita.
Além dessa
exposição, o Instituto Pretos Novos vai hospedar uma parte do processo de
pesquisa feito para a exposição que está no Museu Histórico Nacional. É um
projeto de pesquisas feitas com as mesmas perguntas nos seis países
participantes. Daí o nome Conversas inacabadas.
“A
ideia é exatamente essa que as conversas reverberam no presente. São várias
entrevistas sobre como as pessoas veem o racismo, desde quando passaram a ter a
ideia de consciência racial, por exemplo”.
Essa exposição no
Instituto Pretos Novos ficará aberta do dia 14 de novembro a 15 de dezembro.
Simbolismo
A professora Keila
Grinberg considera muito simbólico que o Brasil seja o primeiro lugar de
destino da exposição, após o museu inicial norte-americano, porque o país tem
uma tradição de estudos muito forte nesse campo.
“E
isso mostra o respeito e a importância internacional que os estudos no Brasil
têm. É muito importante porque é uma área em que o Brasil se destaca
enormemente”, ressalta
De todos os países
que tiveram escravizados africanos, o Brasil foi o que recebeu a maior
quantidade. “Recebeu cerca de 45% dos africanos escravizados. Quase a metade do
total veio só para o Brasil. Os Estados Unidos receberam 5%”, lembra
Keila.
“A escala e a
centralidade da escravidão no Brasil são sem precedentes. Por isso, a gente não
entende nada da história do Brasil se não entender a escravidão. Ela é elemento
central para se entender a história do Brasil”, explica.
No total, cerca de
12 milhões de pessoas, em 300 anos, foram sequestradas, vendidas e
escravizadas. Na exposição, o público terá oportunidade de entender a
dimensão do que ocorreu. Os escravizados eram
procedentes das regiões da África Central, da qual fazem parte o atual Congo e
Angola; e da África Ocidental, que envolve Senegal, Benim e Nigéria.
“Eu
falo sempre para meus alunos: tem duas coisas que eles precisam entender para
compreender a história do Brasil. Uma é que teve escravidão. Ninguém vai saber
nada sobre o Brasil se não entender isso. Mas a outra, tão importante quanto, é
que a escravidão acabou”.
A curadora
acredita que, assim, será possível fazer com que o racismo, que se acha tão
arraigado no país, também acabará.
Keila Grinberg é
professora na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
(Ag. Brasil)

Nenhum comentário:
Postar um comentário