A tragédia ocorreu na região do Jabaquara,
zona sul de São Paulo. Por conta de desentendimentos familiares, o motorista
José Raimundo Correia Araújo, 56, já havia assassinado a esposa horas antes. Foi
à casa da filha e matou logo o genro, a filha grávida, o neto de 3 anos e, em seguida,
sentou no sofá e se matou com um tiro na cabeça.
Para mim, noticiar sucintamente esse
lamentável fato já é o bastante. Mas para muitos outros comunicadores isso é apenas
um preâmbulo para atrair ouvintes, que serão bombardeados com um festival de
sensacionalismo que vem logo em seguida. Com direito até de ouvir o choro ou a
explosão de revolta dos que gostavam dos mortos. E quando se trata da imprensa
escrita, que dá direito a fotografias! Alguns redatores procuram atingir o
cúmulo do sensacionalismo ofertando aos leitores as mais repugnantes fotos aproximadas
e ampliadas, seguindo fielmente o exemplo de alguns programas de rádio e da
telinha.
Mas há quem goste. Existe, sim, um
grande público cativo e ávido por cenas de violência. Tanto é que a audiência de
quem as propaga explode entre seus adeptos tão logo seja publicada uma grande desgraça.
Por outro lado, a prática de repassar e de escutar, ver ou ler notícias sobre violência
com muita frequência pode chegar a impedir o uso bom senso. Sem ele, que garante o discernimento do que é bom ou ruim,
a tendência é tornar comuns e corriqueiros todos os fatos incomuns. Isso transmite
à população a ideia de que tragédias como a relatada acima podem se repetir com
qualquer pessoa, a qualquer momento e, o pior, passando a ser consideradas como
coisas normais.
É lógico que a imprensa não pode fechar os olhos à realidade e, de modo
especial, à violência que ultimamente desconhece dia, local e horário para acontecer.
Mas é dever de todo profissional responsável e ético saber como repassar através
do rádio, jornal ou da televisão as notícias que envolvem violência.
O verdadeiro formador de opinião antecipadamente avalia o impacto que a
informação causará em quem vai recebê-la: se lhe fará bem ou mal; se apenas lhe
incitará o ódio ou um questionamento racional; enfim, se irá acrescentar algo de
bom e construtivo no ouvinte, leitor ou telespectador. Há, também, os
profissionais da comunicação que visam apenas ao seu bem-estar, visam somente a
audiência a qualquer custo. Esses devem ser evitados, pois prestam um grande
desserviço à sociedade.
Infelizmente a tragédia de Jabaquara será prato cheio durante muitos dias
para centenas desses profissionais que se alimentam da violência. Mas, já que até
das coisas ruins devemos tirar lições, o caso me inspirou a dar uma sugestão
àqueles que trilham os caminhos da boa comunicação. Que busquem com a população
algumas respostas que possivelmente livrarão muitas pessoas do mesmo fim
trágico da família paulista. Por exemplo, que tal descobrir como discutir e resolver
com serenidade problemas conjugais e familiares? Como não guardar rancores?
Como não agir em momento de raiva? Como atrair mais Deus para as famílias? E, a todos da imprensa, lanço meu apelo: Dá
para experimentar esse enfoque diferente? Garanto: Todos sairemos ganhando.
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