Em meio
ao maior escândalo de corrupção da história da Fifa, o suíço Joseph Blatter foi
reeleito para a presidência da entidade máxima do futebol mundial nesta
sexta-feira. Blatter está no cargo desde 1998, quando substituiu o brasileiro
João Havelange, e vai agora para seu quinto mandato.
Na
eleição desta sexta-feira, Blatter teve, no primeiro turno, 133 votos contra 73
de seu único rival - o príncipe jordaniano Ali bin al-Hussein. Como o suíço
teve sete votos a menos que o necessário para vencer já na primeira volta, a
disputa teria que ir para o segundo turno. Al-Hussein, no entanto, acabou
desistindo da disputa, o que abriu caminho para a vitória de Blatter.
O
jordaniano tinha o apoio da Uefa (Federação Europeia de Futebol). Ele ganhou
força nos últimos dias por causa da investigação do FBI anunciada na última
quarta-feira, que deteve oito dirigentes da Fifa (incluindo o ex-presidente da
CBF, José Maria Marin), suspeitos de extorsão, lavagem de dinheiro e corrupção.
Antes
do anúncio do resultado da eleição, Blatter discursou aos representantes das
federações agradecendo o apoio que recebeu deles nos últimos anos. O suíço
também disse que a Fifa, no momento mais difícil de sua história, "não
precisa de revolução, mas sim de evolução."
"Tenho
agora uma oportunidade de agradecer a vocês. Obrigado por acompanhar o
desenvolvimento da Fifa nos últimos 40 anos. Nós não precisamos de revoluções,
mas sempre precisamos de evolução", disse o suíço.
"Ontem,
anteontem e hoje, estou sendo responsabilizado pela tempestade atual. Ok, assim
seja. Vou assumir essa responsabilidade. Vou aceitar e quero corrigir a Fifa ao
lado de vocês. Precisamos proteger a nossa casa. Não só da corrupção, mas do
racismo, da manipulação de resultados, doping e violência."
Blatter
chegou a ter cinco rivais para a eleição deste ano, mas quatro deles desistiram
antes do pleito. Um deles era o ex-jogador português Luis Figo, o último que
abdicou da disputa na semana passada. "Este processo eleitoral é tudo
menos isso, uma eleição", disse ele, pelas redes sociais. Nesta sexta,
após o resultado, ele disse que "todos perderam nessa eleição."
"Hoje
é mais um dia negro para o futebol. A Fifa perdeu, mas acima de tudo, o futebol
perdeu e todo mundo que se importa com ele também. Se Blatter tiver o mínimo de
decência, vai renunciar."
Ainda
que a disputa tenha tido apenas um adversário, ela foi a mais acirrada
enfrentada por Blatter desde que ele assumiu o comando da entidade em 1998,
quando venceu o presidente da Uefa, Lennart Johansson, por 111 votos a 80 -
alguns anos depois, em 2002, surgiram denúncias de que o suíço teria comprado
votos para chegar ao cargo máximo da Fifa.
Desde
então, Blatter venceu os pleitos seguintes - de 2002, 2007 e 2011 - de lavada,
sendo que em 2007 foi reeleito por aclamação e em 2011 acabou sem adversários e
com o apoio de 186 das 203 federações filiadas à Fifa - o presidente da
Confederação Asiática de Futebol, (AFC), Mohamed Bin Hammam era candidato até
os "45 do segundo tempo", mas retirou a candidatura após suspeitas de
que ele teria comprado votos.
Brasil
- O Brasil foi representado na eleição pelos presidentes da Federação Goiana de
Futebol, André Pitta, e da Federação Cearense de Futebol, Mauro Carmélio, já
que o atual presidente da CBF, Marco Polo del Nero, abandonou subitamente o
congresso da entidade em Zurique na manhã de quinta-feira, e retornou ao Rio de
Janeiro, onde desembarcou na manhã desta sexta.
Em meio
às acusações de corrupção envolvendo o ex-presidente da CBF, José Maria Marin -
de quem Del Nero foi vice -, o atual mandatário voltou ao país alegando que
"precisava dar as explicações necessárias".
"É
um momento difícil para a CBF. Uma vez que nós tivemos envolvidos com um
ex-presidente e atual vice-presidente (Marin). Face a esse momento difícil,
resolvi partir da Suíça para o Rio de Janeiro para poder de forma positiva, de
forma correta, cumprir e dar as explicações necessárias não só às autoridades,
mas à imprensa do Brasil."
Del
Nero se disse perplexo com a notícia da prisão de Marin e do envolvimento dele
com as denúncias investigadas pelo FBI e avisou que seguirá com suas funções na
CBF colaborando com o que for necessário na investigação.
Qual
era a plataforma dos dois candidatos? - De acordo com o perfil de Blatter no
site da Fifa, "suas principais aspirações são credibilidade,
transparência, e 'fair play'". Sua filosofia é "futebol para todos,
todos para o futebol".
Já o
príncipe Ali afirmava que seu objetivo era "tirar o foco sobre a polêmica
administrativa e redirecioná-lo ao futebol" e fazer da Fifa uma
organização mais justa e transparente.
Como é
a votação em si? - Em uma votação secreta, todas
as 209 associações de futebol da Fifa têm direito a um voto. A votação ocorre
por ordem alfabética – então foi um processo demorado.
No
primeiro turno, se algum dos candidatos conquistar dois terços dos votos (um
total de 140 votos se todos participarem), ele é eleito. Se nenhum tiver
esses dois terços, a votação terá um segundo turno, em que um deles precisará
da maioria simples dos votos para ganhar.
Quem
pode votar? - Nem todos as federações da Fifa
são ligadas a nações com status de país, mas mesmo assim todos têm direito a
voto com o mesmo peso.
Um
exemplo disso é Montserrat, um território britânico no Caribe com 4,9 mil
habitantes, que tem a mesma voz que a Índia, com sua população de mais de 1,2
bilhão de habitantes.
Como
eles votaram? - É nesse ponto que a situação
fica mais nebulosa. Mesmo sendo uma votação secreta, muitas das associações de
futebol – na qual os membros estão agrupados – já haviam revelado seus votos
antes da eleição. Michel Platini, presidente da Uefa (a federação europeia
de futebol), disse que uma grande maioria das 53 associações da Europa apoiaria
o príncipe Ali.
A
Confederação de Futebol Africana (CAF), com seus 54 membros, e a Confederação
de Futebol Asiática (AFC), com seus 46 membros, afirmaram que apoiariam
Blatter. Mas a Austrália, que é da AFC, disse que votaria no príncipe.
Blatter,
tradicionalmente, tem o apoio da federação da América do Norte (Concacaf), cujo
o presidente, Jeffrey Webb, está entre os presos da operação em Zurique. Ainda
não se sabe como os membros da América do Sul e da Oceania votaram. (BBC)
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