sábado, 12 de setembro de 2015
Tirar fotos demais pode prejudicar memória, diz estudo
Tentado a sacar o smartphone diante de um belo
pôr do sol ou de um prato delicioso que acabou de chegar à mesa do restaurante?
É óbvio que queremos
documentar nossas vidas e manter nossas lembranças acesas. Mas ante o uso
generalizado de smartphones com câmeras fotográficas e de novos aparelhos como
o Narrative Clip – capaz tirar fotos automaticamente a cada 30 segundos –, será
que deveria haver um limite?
Uma pesquisa recente
realizada pela psicóloga Linda Henkel, da Universidade Fairfield, nos Estados
Unidos, indica que a resposta é "sim". O trabalho sugere que tirar
fotos pode de fato prejudicar a capacidade de lembrar detalhes do
acontecimento, apesar – e por causa do – esforço de fotografar sem parar.
‘Drive externo’ - "Estamos tratando a
câmera como uma espécie de drive externo de nossa memória", afirma a
psicóloga. "Temos a expectativa de que o aparelho vai se lembrar de coisas
por nós e que assim não precisamos continuar a processar aquele objeto. Por
isso não interagimos nem nos envolvemos com as coisas que nos ajudariam a
lembrar dele."
Ferramenta de
comunicação - Retratos fazem parte da nossa rotina há séculos e praticamente
todas as casas da Europa Ocidental e dos Estados Unidos já tinham câmeras
décadas atrás. Mas a mudança do filme para a fotografia digital também alterou
nossa motivação para tirar fotos e a maneira de usá-las.
Outros estudos
confirmaram o que muitos de nós já suspeitávamos: que o papel fundamental da
fotografia deixou de ser a comemoração de eventos especiais ou de momentos em
família para ser uma maneira de nos comunicarmos com amigos, formar nossa
própria identidade e alavancar as relações sociais.
Enquanto adultos mais
velhos usam câmeras como ferramentas para a memória, as gerações mais jovens
veem as fotos como um meio de comunicação. "Muitas vezes as pessoas tiram
fotos não para que elas sirvam como uma lembrança, mas para dizer como estão se
sentindo no ‘aqui e agora’", afirma Henkel. "Um bom exemplo é o
Snapchat, em que os usuários tiram fotos para se comunicar, mais do que para se
lembrar de momentos."
Vida ao vivo - Nossa
capacidade de documentar chegou a um novo patamar com o advento da SenseCam, da
Microsoft, uma câmera automática com uma grande angular que pode ser
"vestida", e com o fato de haver cada vez mais pessoas fazendo
"life logging", uma espécie de transmissão ao vivo de suas
atividades.
Concebida como uma
espécie de "caixa-preta" humana e lançada pela primeira vez em 2003,
a SenseCam pode tirar fotos passivamente quando percebe que uma pessoa está
diante da câmera ou quando há uma grande mudança na luz. Ela também pode ser
programada para tirar fotos automaticamente a cada 30 segundos.
Evangelos Niforatos,
pesquisador da Universidade da Suíça Italiana, estuda como as novas tecnologias
podem afetar nossa habilidade de formar memórias. Ele tem ativamente realizado
life-logging nos últimos três anos.
Apesar de pesquisas
terem mostrado que esse tipo de atividade pode ser bastante benéfico para
pessoas que sofrem de graves distúrbios de memória e precisam ver suas próprias
fotos periodicamente, Niforatos acredita que o maior obstáculo do life-logging
para usuários comuns é descobrir como usar todas as informações recolhidas.
"Quando há uma
experiência importante para documentar, os aparelhos de life-logging são
bastante úteis. Mas para o dia a dia, eles ainda deixam a desejar",
afirma. "No entanto, estou otimista quanto à capacidade de fazê-los chegar
o mais perto possível da memória em si – como uma prótese de memória que dá as
pistas certas para ajudá-lo a se lembrar do que você quer."
Niforatos e seus
colegas estão desenvolvendo um estudo que vai relacionar monitores de
batimentos cardíacos como o Fitbit a câmeras automáticas, para ver se mudanças
no ritmo do coração podem indicar os melhores momentos para começar a tirar
fotos.
Lembrar coisas de um
ponto de vista externo pode ter suas desvantagens. Pesquisas mostram que quando
você se recorda de algo a partir da perspectiva de outra pessoa, tem menos
conexão emocional com a lembrança.
Da mesma maneira,
apesar de fazermos uma curadoria das nossas memórias ao editar as fotos que
tiramos, isso não é algo ruim. "Muitos especialistas em falsas lembranças
diriam que a imprecisão é uma boa coisa, por vários motivos", diz Wade.
"Se você muda sua posição política, por exemplo, pode voltar atrás e
pensar que antes tinha ideias mais parecidas com as que tem hoje. Queremos
acreditar que somos seres estáveis. Lembramos de nossos relacionamentos e de
nós mesmos em uma luz mais favorável, mais parecida com o que queremos ser.
Alguma distorção é positiva para nosso bem-estar."
Então, com que
frequência devemos tirar fotos? A menos que você seja um profissional, Henkel
sugere limitar a quantidade de cliques e ser mais seletivo, para ter mais
benefícios e menos prejuízos. "Se você está de férias em um lugar bonito,
tire algumas fotos, guarde a câmera e aproveite", diz. "Depois, dê
uma boa olhada nas imagens, organize-as, imprima-as e tome tempo para
mostrá-las a outras pessoas ao vivo. São coisas como essas que ajudam a
mantermos nossa memória viva." (BBC)
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