sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

COLUNA WILSON BELCHIOR: Pe. Gonçalo barganhando na loja da dona Herolisa

Na loja de dona Herolisa, situada no ponto onde fora a antiga Bodega do Augusto, esquina da Rua Menino Deus com Frederico Ozanã, meias de cores exóticas se encontravam num cesto, expostas como mercadorias em liquidação, quando entra o Pe. Gonçalo:

- Dona Herolisa, quanto custa essas três meias?

- Só um cruzeiro, Pe. Gonçalo. 

- A senhora não faria as três por 50 centavos? 

- Também, Pe. Gonçalo! O preço normal é cinco cruzeiros cada uma, estou fazendo 3 por um cruzeiros pelas cores delas serem exóticas, extravagantes, e o senhor ainda está me pedindo por menos! Tenha a santa paciência!

- Veja só: se eu usar essas verdes, dona Herolisa, os sobralenses de língua grande, fina e afiada, irão dizer que eu virei Integralista. Essas amarelas eu irei dar de presente ao Zé Monte, para ele brincar o carnaval. E as vermelhas eu não poderei usar porque irão dizer que virei Monsenhor.

A senhora tem que saber que eu cuido da igreja de São Pedro, um santo sem prestígio. Dizem que ele tem a chave do céu, mas os sobralenses não querem ir para o céu sabendo que, para ir, primeiro têm que morrer.

Dizem também que é ele quem abre as torneiras das chuvas, mas se eu lhe pedir para abri-las haverá mais uma enchente com inundações em Sobral.

Eu quero é que Dom José me transfira para a igreja de São Francisco.

- Pois leve as três de graça e me deixe trabalhar em paz, Pe. Gonçalo...

No outro dia, passava o Pe. Gonçalo pelo Beco do Cotovelo usando meias vermelhas, indo rezar missa na igrejinha de São Vicente de Paulo, e o Irapuã Cumbuca grita: Grande Pe. Gonçalo! Já era tempo de ter virado Monsenhor, o que, graças a Deus, pela cor de suas meias, isso ocorreu. Meus parabéns!





(*) Wilson Belchior é engenheiro civil, articulista, poeta e memorialista.  








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