Na loja de dona Herolisa, situada no ponto
onde fora a antiga Bodega do Augusto, esquina da Rua Menino Deus com Frederico
Ozanã, meias de cores exóticas se encontravam num cesto, expostas como
mercadorias em liquidação, quando entra o Pe. Gonçalo:
- Só um cruzeiro, Pe. Gonçalo.
- A senhora não faria as três por 50 centavos?
- Também, Pe. Gonçalo! O preço normal é cinco cruzeiros cada uma, estou fazendo
3 por um cruzeiros pelas cores delas serem exóticas, extravagantes, e o senhor
ainda está me pedindo por menos! Tenha a santa paciência!
- Veja só: se eu usar essas verdes, dona Herolisa, os sobralenses de língua grande, fina e afiada, irão dizer que eu virei Integralista. Essas amarelas eu irei dar de presente ao Zé Monte, para ele brincar o carnaval. E as vermelhas eu não poderei usar porque irão dizer que virei Monsenhor.
- Veja só: se eu usar essas verdes, dona Herolisa, os sobralenses de língua grande, fina e afiada, irão dizer que eu virei Integralista. Essas amarelas eu irei dar de presente ao Zé Monte, para ele brincar o carnaval. E as vermelhas eu não poderei usar porque irão dizer que virei Monsenhor.
A senhora tem que saber que eu cuido da igreja
de São Pedro, um santo sem prestígio. Dizem que ele tem a chave do céu, mas os
sobralenses não querem ir para o céu sabendo que, para ir, primeiro têm que
morrer.
Dizem também que é ele quem abre as torneiras
das chuvas, mas se eu lhe pedir para abri-las haverá mais uma enchente com
inundações em Sobral.
Eu quero é que Dom José me transfira para a igreja
de São Francisco.
- Pois leve as três de graça e me deixe
trabalhar em paz, Pe. Gonçalo...
No outro dia, passava o Pe. Gonçalo pelo
Beco do Cotovelo usando meias vermelhas, indo rezar missa na igrejinha de São
Vicente de Paulo, e o Irapuã Cumbuca grita: Grande Pe. Gonçalo! Já era tempo de
ter virado Monsenhor, o que, graças a Deus, pela cor de suas meias, isso
ocorreu. Meus parabéns!
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