No início de 2016, o professor
universitário César Pereira de Lima, de 46 anos, brincava com o filho mais novo
quando a criança encostou-se ao peito esquerdo dele. O homem sentiu uma dor
intensa. "Nunca havia sentido nada parecido em toda a minha vida", relata.
Dias
depois, ele foi ao médico, passou por exames e foi diagnosticado com câncer
de mama. "Foi uma situação muito difícil. Para qualquer pessoa, descobrir
essa doença é um choque. Mas para o homem, um câncer de mama é um susto maior
ainda, porque a gente sempre pensa que é algo distante do público
masculino", conta o professor.
De acordo
com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 1% dos pacientes com câncer
de mama são homens. Entre o público do sexo masculino, a doença é mais
recorrente a partir dos 60 anos. No entanto, também há registros de pessoas
mais novas.
Conforme o
Inca, a doença na mama corresponde a 28% dos novos casos de câncer registrados
a cada ano, entre homens e mulheres. Em todo o Brasil, neste ano, a estimativa
é de que haja, ao todo, 59,7 mil novos registros da doença.
Segundo levantamento do Departamento de Informática do
SUS (DataSUS), em 2016 morreram 16.069 mulheres e 185 homens em decorrência do
câncer de mama. Estes são os dados mais recentes sobre o tema.
A oncologista Laura Testa, chefe do grupo de mama do
Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), explica que um dos motivos
para que os casos entre os homens sejam mais incomuns é porque o público
masculino está menos exposto ao estrogênio, o hormônio feminino.
"A
maioria dos tumores de mama se alimentam dos hormônios femininos, e muitas
vezes se desenvolvem pela longa exposição a esses hormônios, do período em que
a mulher começa a menstruar até a menopausa. Por isso, essa doença é mais comum
a partir dos 50 anos, período de pós-menopausa", diz à BBC News Brasil.
Os homens
são atingidos em menor escala pela doença por terem o tecido mamário atrofiado,
porque não recebem as mesmas ações de hormônios femininos que as mulheres.
"Eles possuem glândula mamária muito menor e, por isso, não têm o mesmo
estímulo dos hormônios femininos ao longo da vida."
Os sintomas - Professor
universitário, Lima levava uma vida que considerava comum. Morador de Cuiabá
(MT), ele dava aulas de Administração em três instituições de ensino superior
na capital mato-grossense. Casado há 22 anos e pai de dois filhos, um com sete
e outro com 14 anos, ele dividia a rotina entre o trabalho e a família.
Era noite
de 27 de fevereiro de 2016. Lima brincava de "lutinha" com o filho
mais novo, quando a criança acertou a mama esquerda do pai. "Ele deu um
golpe de brincadeira, bem leve, mas doeu muito mais do que eu poderia imaginar.
Foi uma dor muito assustadora", relembra.
A situação
fez com que Lima se recordasse de um fato que havia notado dias antes: o mamilo
esquerdo dele havia retraído sem motivos aparentes. "Eu não tinha dado
muita atenção para isso. Mas quando senti aquela dor, percebi que poderia ser
algo mais sério."
A retração
do mamilo é apontada por especialistas como sintoma de um possível câncer de
mama. Outras características que também podem ser supostos sinais da doença
entre os homens são alterações como inchaço na mama ou na região da axila, pele
enrugada ou vermelhidão na mama.
Segundo
Laura Testa, em qualquer situação em que a pessoa perceba alguma diferença na
mama é fundamental procurar auxílio médico. "É muito importante descobrir
a origem dessa alteração", explica. A oncologista ressalta que o
diagnóstico precoce traz mais chances de bons resultados no tratamento.
"Se
há algo diferente crescendo na região da mama, é preciso investigar. Pode ser
uma disfunção hormonal, mas também pode ser alguma doença. Um dos grandes
problemas é que os homens que têm câncer de mama, normalmente, procuram ajuda
mais tarde, e isso faz com que o tratamento seja mais difícil, porque a doença
está mais avançada", diz Laura.
O médico
Mário Sérgio Amaral Campos, especialista em diagnósticos por imagem de doenças
da mama, ressalta que a grande maioria dos sintomas de um possível câncer de
mama não está relacionada à doença.
"Muitos
são casos de ginecomastia (aumento excessivo das glândulas mamárias de homens),
que acontecem principalmente na puberdade ou quando o homem está na andropausa,
porque são fases de acúmulo hormonal. Nesses casos, não se trata de algo
maligno, mas que tem efeitos estéticos desagradáveis, principalmente para os
mais jovens", diz.
O tratamento - No dia
seguinte à dor intensa no peito esquerdo, Lima agendou consulta com um
mastologista. "Consegui atendimento para uma semana depois, por meio do
plano de saúde. Se fosse pelo Sistema Único de Saúde, demoraria seis
meses", relata.
O
professor fez exames que comprovaram que o nódulo em sua mama esquerda era
maligno. O caroço tinha 0,4 centímetro e estava indo para o estágio dois.
"A doença tem quatro estágios, e a maioria das pessoas descobre no
terceiro ou quarto, quando já esparramou para outros órgãos e não há muito que
fazer", diz Lima.
Para ele,
o câncer se desenvolveu em razão do estresse que enfrentava na carreira de
professor. "Cheguei a ter 2 mil alunos e dava aula do período da manhã até
a noite. Então era muito cansativo", conta. Os médicos que o atenderam,
porém, explicaram ao paciente que a maior probabilidade é de que a doença tenha
se desenvolvido por questões genéticas.
Laura
Testa destaca que muitos dos casos de câncer estão associados à genética. "A
doença pode ser genética ou hereditária quando várias pessoas na família têm
tumores. Isso faz com que esse gene seja transmitido para o filho, que terá
muitas chances de desenvolver o câncer", explica.
Segundo o
médico Mário Sérgio Amaral, a doença entre os homens também pode surgir por
desregulação hormonal. "Neste caso, pode estar associada a situações como
a obesidade ou a hábitos como uso de anabolizantes ou consumo de cigarro, entre
outros."
Em abril de 2016, um mês depois de descobrir a doença, o
professor passou por uma cirurgia para a retirada completa da mama esquerda e
de uma parte da axila. Na época, o nódulo havia evoluído para 0,6 centímetro.
"Foi um procedimento cirúrgico semelhante ao que as
mulheres com a doença passam. Uma parte da região da axila também foi retirada,
porque havia indícios de que o câncer pudesse ter chegado embaixo do
braço", explica o professor.
Depois do
procedimento cirúrgico, Lima passou por 18 sessões de quimioterapia, de junho a
dezembro de 2016, e por 25 procedimentos de radioterapia, de dezembro do mesmo
ano a fevereiro de 2017. Posteriormente, utilizou bloqueadores hormonais por um
ano.
"A
maior parte dos tumores de mama no público masculino também se alimentam do
hormônio feminino, que existe no homem. A própria produção do hormônio
masculino pode, em menor quantidade, ser transformado em feminino. Então o
bloqueador hormonal é uma das terapias mais utilizadas em câncer de mama de
homem", explica Laura Testa.
Todo o
tratamento dado ao homem com câncer de mama é semelhante ao que é oferecido à
mulher. "A diferença é que o impacto emocional da cirurgia de um homem é
diferente daquele sofrido pela mulher ao perder a mama", frisa a
oncologista.
O apoio da família - Desde a
descoberta da doença, Lima recebeu apoio da esposa e dos filhos. Para ele,
o auxílio da família e dos amigos foi fundamental. "Não tenho dúvida de
que eles me ajudaram muito", conta. No início, a companheira dele ficou
extremamente abalada com a descoberta da doença do marido. "Mas hoje já
superamos essa dificuldade. Antes, ela pensava que era um diagnóstico de
morte", lembra o professor.
Ao filho
mais velho, ele contou sobre a doença. "Ele entendeu bem e tem muita
preocupação comigo", revela. Para o mais novo, disse que estava com um
'bichinho' no peito. "Os dois me acompanharam em muitas sessões de
quimioterapia, e isso foi muito importante pra mim."
Além do tratamento em um hospital particular de Cuiabá,
Lima viajava com frequência para São Paulo, para consultas com especialistas em
câncer de mama. Na capital paulista, conheceu outros homens que também
enfrentam a doença.
"Em São Paulo, conheci vários casos de homens que
enfrentam a mesma doença, porque é uma cidade que é referência no
tratamento", explica. Entre os
colegas que conheceu, alguns estavam bem, mas havia outros que descobriram a
doença tardiamente. "Um deles estava em estado terminal. Conheci também
outro que morreu em pouco tempo."
Segundo
Mário Sérgio Amaral, os homens costumam descobrir o câncer de mama quando está
em fase avançado, pois demoram a desconfiar da doença. "Não existe uma
indicação de mamografia preventiva, como no caso das mulheres. Eles fazem o
exame somente quando notam uma alteração, mas, quando está nessa fase, é porque
o câncer atingiu um tamanho maior e teve tempo para se desenvolver", diz.
Metástase - Enquanto
concluía as sessões de quimioterapia, em dezembro de 2016, Lima passou por
exames que detectaram manchas nos pulmões. Após avaliações, os médicos
descobriram que se tratava de metástase do câncer de mama, ou seja, a doença
havia se espalhado para os pulmões dele.
"Foi
difícil receber essa notícia, mas novamente contei com o apoio da minha família
e dos meus amigos."
No início
de 2017, ao encerrar o tratamento da doença na mama, ele começou a
quimioterapia contra o câncer nos pulmões, diagnosticado em estágio inicial.
Por ser metástase, casos considerados mais difíceis de eliminar de vez a
doença, o professor deverá fazer quimioterapia por toda a vida. "A partir
de então, todos os meses faço uma sessão", diz ele.
O
professor também faz acompanhamento constante para descobrir se a doença não
avançou para outros órgãos. "Tenho consciência de que terei de fazer
acompanhamento e tratamento por toda a vida, então creio que nunca poderei me
considerar uma pessoa completamente curada."
A cicatriz no peito - Lima
carrega uma cicatriz no peito esquerdo, em razão da cirurgia para a retirada da
mama. A marca não é um problema para ele. "É sinal de que venci, em
partes, a doença", comenta. Ele relata que não vê empecilhos em sair sem
camisa. "Se me perguntam sobre a cicatriz, conto sobre a doença e digo
como venci essa batalha."
Frequentador
da Igreja Batista, o professor acredita que a fé foi fundamental para ter
sucesso no tratamento contra o câncer. "Independente da religião, quando a
pessoa tem fé, as coisas melhoram, e ela tem muito mais chances de conseguir o
que deseja", diz.
Há dois
meses, ele deixou as aulas, por recomendação médica. Anteriormente, Lima havia
se ausentado do trabalho apenas na fase final da quimioterapia contra o câncer
de mama. "Em agosto, os médicos me aconselharam a me afastar do trabalho
por conta do estresse que o serviço causa", diz.
Em dois anos, Lima planeja se aposentar por tempo de
serviço. Mesmo distante das salas de aula, o professor mantém contato com
muitos daqueles que foram seus alunos. "Eles sempre me perguntam como estou. Alguns vêm em
casa para me ver. Mantenho uma boa relação com eles", orgulha-se.
Nos
últimos meses, o professor tem tentado ajudar pessoas que enfrentam o câncer,
por meio de palestras em alguns locais de Mato Grosso, como em unidades da
Igreja Batista. Ele também planeja usar seus conhecimentos em administração
para ajudar pequenos empreendedores.
"Vou
tocar a vida normalmente. Sinto-me curado emocionalmente e espiritualmente.
Fisicamente, terei de fazer tratamento por toda a vida, mas acho que o mais
difícil já conquistei, que é a cura emocional e espiritual." (BBC)
ALERTA DO BLOGUEIRO:
Após leituras
sobre o assunto e ouvir especialistas, eu criei o hábito de apalpar as peitos.
Há mais de 10 anos, detectei um pequeno caroço abaixo da auréola do direito.
Depois de consulta
e até mamografia, fui orientado por um médico local a retirar o carocinho,
pois, segundo o doutor, poderia se transformar em algo pior.
Tempos depois, o mesmo problema apareceu no lado esquerdo, o que me obrigou a novamente recorrer ao excelente Dr. Agostinho Moura para retirá-lo, numa rápida cirurgia.
De lá pra cá,
graças a Deus nunca mais apareceu nada. Que isso sirva de exemplo para outros
homens. E todos estão autorizados a usar o meu caso para reforçar o alerta.

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