O presidente eleito, Jair
Bolsonaro (PSL), confirmou nesta quarta-feira (7) que o Ministério do
Trabalho será extinto. "O Ministério do Trabalho
vai ser incorporado a algum ministério", disse, sem dar mais detalhes.
Na terça-feira (6), a Folha publicou que a equipe de transição
estudava extinguir a pasta, que, neste mês, completa 88 anos.
A possibilidade de perda do
status de ministério não foi bem recebida por especialistas, sindicatos e
membros da Justiça do Trabalho.
A percepção é que o arranjo é
um sinal ruim, em especial em um momento em que o desemprego atinge 13 milhões
de brasileiros.
Representantes dos
empregadores aguardam mais detalhes para se pronunciar.
Em avaliação, há alternativas
como associar a área de emprego e renda a algum órgão ligado à Presidência.
Outra opção é fatiar as
diferentes áreas da pasta, transferindo, por exemplo, a gestão da concessão de
benefícios para órgãos ligados ao campo social.
A gestão da política de
trabalho e renda ficaria com o novo Ministério da Economia ou com um órgão
dedicado às questões de produtividade —um dos temas considerados prioritários
da equipe do futuro ministro Paulo Guedes.
Ministros do TST (Tribunal
Superior do Trabalho) criticaram a decisão.
"A Constituição
estabelece que o Brasil deva ter pleno emprego, e cabe ao Ministério do
Trabalho traçar essas políticas públicas", diz o ministro Alexandre Agra
Belmonte.
Para ele, poderiam ser
agregadas ao ministério outras pastas. "Mas, em um momento de desemprego e
trabalho informal, se há um país que precisa de um Ministério do Trabalho, é o
Brasil."
O presidente da Anamatra
(Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), Guilherme
Feliciano, também criticou a decisão de Bolsonaro.
"O trabalho é um valor
constitucional referido entre os fundamentos da República. O Ministério do
Trabalho sempre esteve no eixo de centralidade das políticas públicas."
Com orçamento superior a R$ 90
bilhões em 2018, a pasta tem entre suas principais atribuições a geração de
emprego e renda, a fiscalização do trabalho e a política salarial.
O ministro do Trabalho preside
ainda o Conselho Curador do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) que,
hoje, reúne neste ano R$ 85 bilhões.
Paulo Sergio João, professor
da FGV Direito SP, diz que a extinção exigiria um "processo de
reformulação total administrativa" não só do FGTS como do FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador).
Hoje, o presidente do Conselho
Curador do FGTS é o ministro do Trabalho. Com o rearranjo, diz o professor,
caberia à nova administração determinar também quem passaria a assumir essa
função.
"Mas não são questões
administrativas como essas que garantem a existência de um Ministério do
Trabalho."
Ricardo Patah, presidente da
UGT (União Geral dos Trabalhadores), qualifica a decisão como "muito
ruim".
"Com esse desemprego
enorme e uma nova tecnologia sendo absorvida pelo comércio e serviços,
precisamos de capacitação e políticas de inclusão, e isso cabe ao Ministério do
Trabalho", diz.
Em nota, a CUT (Central Única
dos Trabalhadores) disse que, "se não for mais uma bravata", a medida
desrespeita os trabalhadores, pois deixaria empregadores livres para descumprir
as leis, além de abrir caminho para o fechamento da Justiça do Trabalho.
Na terça (6), o próprio
Ministério do Trabalho soltou nota em sua defesa, destacando que foi
"criado com o espírito revolucionário de harmonizar as relações entre
capital e trabalho em favor do progresso". (UOL)
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