Filhos do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) atuam para tentar contornar a
crise interna no PSL.~
Hoje, Eduardo e Flávio controlam, respectivamente, os diretórios do PSL
em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Uma ruptura com o partido teria impacto direto para os congressistas em
seus estados —que figuram entre os cinco maiores colégios eleitorais do país.
Além disso, também pesa o fato de que, hoje, o PSL é o partido com a
maior fatia de dinheiro público entre todos os 32 registrados no TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
Em 2020, somando os fundos partidário e eleitoral, o PSL pode ter em
caixa R$ 350 milhões —o valor leva em conta as estimativas de R$ 1 bilhão para
o fundo partidário, e os R$ 2,5 bilhões propostos pelo governo para o fundo
eleitoral.
De acordo com aliados de Flávio, o aceno da ala da sigla ligada ao
deputado Luciano Bivar (PSL-PE), atual presidente do partido, ao governador do
Rio, Wilson Witzel (PSC), preocupou o senador.
A avaliação é a de que o filho mais velho do presidente —que trava um
embate público com o chefe do Executivo fluminense— seria o principal
prejudicado se o pai optar pela desfiliação do PSL.
Sem saída, ele teria de acompanhar o presidente e perderia capital
político no Rio. Por isso, desde o início da crise, Flávio tem atuado para
tentar contornar as desavenças.
Nesta segunda-feira (14), ao participar de um evento em São Paulo,
Eduardo afirmou que a crise "é contornável". "Só para morte não
existe solução", disse após um debate sobre reforma tributária na Band.
A agenda de Bolsonaro nesta segunda foi marcada por uma série de
reuniões para discutir seu futuro partidário.
Pela manhã, ele recebeu os advogados Karina Kufa e Admar Gonzaga, que é
ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), responsáveis por buscar uma
saída jurídica diante do impasse com o PSL.
Pouco antes, Flávio esteve no Palácio do Planalto.
O grupo ligado a Bivar admite que os filhos fizeram gestos de
reaproximação na semana passada, mas que, desde então, a temperatura interna só
subiu.
Hoje, de acordo com esses relatos, uma ala da bancada do PSL não topa a
reconciliação e tem atuado para que a desfiliação de Bolsonaro e de seu grupo
aconteça o quanto antes.
A tentativa de apaziguar os ânimos também surgiu em meio à avaliação de
que, hoje, não há clima para a criação de um novo partido. Bolsonaro foi
aconselhado por seus advogados a não abraçar esse caminho.
O cenário apresentado é o de que, além de o TSE não estar disposto a
validar a criação de uma 33ª sigla, a opinião pública não receberia bem a ideia
de que Bolsonaro estaria construindo um partido para chamar de seu.
Nesta segunda, o líder do governo na Câmara dos Deputados, Major Vitor
Hugo (PSL-GO), defendeu que o partido continue aliado à atual gestão federal e
disse que a legenda teria acabado se não fosse a filiação do presidente.
Nas audiências privadas, segundo relatos feitos à reportagem, o
presidente disse que não deixará o partido no curto prazo e que o acesso à
prestação de contas da sigla definirá seu destino.
Após encontro com Bolsonaro, Vitor Hugo afirmou ainda que a atual tensão
no PSL é natural para um partido que cresceu abruptamente nas últimas eleições
e que o esforço é para que ele continue a ser um aliado do Palácio do Planalto.
"A nossa torcida é que a gente consiga o mais rápido possível
superar essas tensões para que o partido continue sendo mais do que a pedra
angular do governo, que seja governo", disse.
"Quanto mais unidos e mais transparentes formos, maior legitimidade
vamos ter para atrair os partidos em torno de nós", afirmou.
Em conversas nesta segunda com deputados aliados, o ministro da
Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, defendeu que agora não é o melhor
momento de se tomar uma decisão e que o ideal é esperar que os ânimos se
acalmem.
O presidente foi até mesmo aconselhado por ministros palacianos a deixar
a discussão para a volta de sua viagem à Ásia.
Ele embarca no próximo sábado (19) e só retorna ao Brasil em novembro. A
avaliação é de que criar neste momento uma saia-justa com o PSL pode atrapalhar
votações de pautas do governo.
A crise de Bolsonaro com o PSL se arrasta desde os primeiros meses da
gestão, mas ganhou nova dimensão no início da semana passada, quando o
presidente pediu que um apoiador esquecesse o partido e disse que o presidente
da legenda, Luciano Bivar, estava "queimado pra caramba".
"Esquece o PSL, esquece o PSL, tá OK?", cochichou Bolsonaro no
ouvido do apoiador que o esperava na porta do Palácio da Alvorada, para gravar
um vídeo.
Depois de eleger Bolsonaro com discurso contra corrupção, o PSL enfrenta
uma crise ética desde que foi atingido por suspeitas de candidaturas laranjas,
caso revelado pelo jornal Folha de S.Paulo em fevereiro e que já resultou na
queda do ex-chefe da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno.
Entre os suspeitos de irregularidades está Bivar, que é deputado
federal, e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
Em fevereiro, a Folha de S.Paulo revelou que o hoje ministro do Turismo
de Bolsonaro patrocinou em 2018, quando era presidente do PSL-MG e candidato a
deputado federal, o desvio de verbas públicas do partido por meio de quatro
candidatas do interior de Minas.
Apesar de figurarem no topo das que nacionalmente mais receberam
dinheiro público do PSL, R$ 279 mil, as quatro não apresentaram sinais
evidentes de que tenham realizado campanha e, ao final, reuniram, juntas,
apenas 2.074 votos.
Parte dos recursos que Álvaro Antônio direcionou a elas, como presidente
estadual da sigla, foi parar em empresas ligadas a assessores e ex-assessores
de seu gabinete na Câmara.
Álvaro Antônio foi alvo de denúncia pelo Ministério Público de Minas
Gerais no último dia 4.
Além de Minas, a Folha de S.Paulo revelou a existência do esquema também
em Pernambuco, terra do presidente nacional da legenda de Bolsonaro, o deputado
federal Luciano Bivar. (JB)
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