Estudar horas
a fio na noite anterior à prova e começar o exame pelo exercício mais fácil são
estratégias comumente usadas por muitos estudantes, em especial em tempos de
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vestibulares e provas finais.
Mas será que essas estratégias realmente nos fazem
aprender ou nos sair melhor nas provas? Um livro de dois pesquisadores
americanos e um britânico especializados em neurociência desmistifica algumas
táticas de estudo e dá sugestões com embasamento científico para estudar e ir bem
nas provas.
"As pessoas muitas vezes pensam, equivocadamente,
que se conseguirem reduzir o estresse diante da prova, vão se sair melhor. Mas
a razão de seu estresse não é o teste em si, e sim que elas não sabem estudar
corretamente nas semanas e meses antes do teste", argumenta, por e-mail à
BBC News Brasil, a pesquisadora Barbara Oakley, uma das autoras do livro Aprendendo a Aprender para
Crianças e Adolescentes: Como se Dar Bem na Escola (editora
Best Seller).
"Fazer isso com mais eficiência pode resultar em
uma enorme diferença em seu desempenho nas provas e na vida."
A seguir, algumas dicas do livro coescrito por Oakley:
Varar a noite estudando na véspera da prova não ajuda
o cérebro a aprender
Aprender, na prática, consiste em criar novas (ou mais
fortes) correntes cerebrais em nosso cérebro. Quanto mais praticamos essas
coisas e acrescentamos complexidade ao aprendizado, mais fortes e compridas
ficam essas correntes.
Ao varar a noite estudando na véspera da prova, você
não dará ao cérebro tempo para fortalecer as correntes cerebrais daquele
determinado assunto, nem o descanso necessário para ele solidificar esse
aprendizado, afirma o livro.
"Tempo e treino trabalham juntos para ajudá-lo a
cimentar as ideias no seu cérebro. Se o tempo é curto, você não consegue criar
novas estruturas no cérebro e ainda perde energia preocupando-se com
isso", agrega Oakley.
Qual, então, é a melhor estratégia para aprender?
Revisar logo, e constantemente, é mais eficaz do que
passar horas estudando na véspera.
"Quando aprendemos algo novo, precisamos
revisá-lo logo, antes que as espinhas dendríticas e as conexões sinápticas
(termos técnicos que se referem à atividade em nossos neurônios durante a
aprendizagem) comecem a desaparecer. Se elas desaparecerem, temos que começar o
processo de aprendizagem todo novamente", explica Oakley no livro.
Por conta disso, ela sugere que, ao longo dos estudos
para a prova — e não só na véspera —, façamos o seguinte:
- Revisar o conteúdo assim que ele for aprendido, para
reforçar as correntes cerebrais ligadas a aquele aprendizado, evitando
perdê-las;
- Manter vivas as ideias-chave daquele conteúdo; tente
lembrar dessas ideias em voz alta, sem lê-las no papel, ou explicá-las a
alguém. Isso vai fixar a informação na sua cabeça.
- Estudar um pouco, por vários dias. Isso também ajuda a
reforçar o conhecimento dentro do cérebro.
Começar pelo exercício difícil, em vez do fácil
"Por muitos anos, os alunos ouviram que devem
começar a prova pelos problemas fáceis", explica Oakley. "A
neurociência diz que isso não é uma boa ideia." Isso porque você pode usar
as questões mais fáceis a seu favor, quando estiver empacado nas mais difíceis.
Nosso cérebro, diz Oakley, trabalha de dois jeitos
diferentes, que se complementam no aprendizado: o modo focado (quando estamos
prestando atenção a um exercício, a um filme ou ao professor, por exemplo) e o
modo difuso (quando o cérebro está relaxado).
E relaxar a mente muitas vezes permite encontrar
soluções para problemas – é o motivo pelo qual às vezes temos boas ideias
durante caminhadas ou depois de uma boa noite de sono, período em que o cérebro
entra no modo difuso.
Sendo assim, passar de um exercício difícil para um
mais fácil pode colocar o cérebro nesse modo mais relaxado, o que pode ajudá-lo
a resolver a questão inicial.
"Quando começar a prova, olhe-a rapidamente por
inteira. Marque as questões que achar mais difíceis. Escolha uma delas e comece
a trabalhar, por mais ou menos dois minutos ou até se sentir empacado. Quando
empacar, pare. Procure uma questão mais fácil para aumentar sua confiança;
resolva uma ou duas questões fáceis e então volte à difícil. Talvez agora você
consiga progredir um pouco.
Cientista sugere revisar o conteúdo assim que ele for aprendido, para reforçar
as correntes cerebrais ligadas a aquele aprendizado, evitando perdê-las
Prestar atenção ao 'pensamento viciado'
Se sobrar tempo ao final da prova, tente revisar as
questões em uma ordem diferente da qual fez inicialmente. Isso pode ajudá-lo a
questionar: será que a minha resposta para cada exercício realmente fez
sentido?
"Assim que escrevemos a resposta para uma
questão, é fácil pensar que ela está correta", diz Oakley. "Tente
fazer sua mente olhar para as questões de novo, com novos olhos. (...) Sua
mente pode levar você a pensar que o que fez está correto, mesmo que não
esteja. Sempre que possível, pisque, desvie sua atenção e verifique suas
respostas."
Dormir bem e fazer atividades físicas ajudam, e muito,
o cérebro
Oakley compara o sono à "argamassa que consolida
as paredes do aprendizado" no cérebro. É dormindo, diz ela, que o cérebro
ensaia o que aprendeu durante o dia, fortalece as correntes de aprendizado e
elimina toxinas.
"Quanto mais você aprende, pratica e dorme, mais
espinhas dendríticas e conexões sinápticas (os termos técnicos referentes à
atividade dos neurônios durante a aprendizagem) são formadas", explica o
livro.
Além disso, praticar atividades físicas não faz só bem
ao corpo, como também ao cérebro. O exercício físico faz novos neurônios
crescerem, além de proporcionar momentos ótimos para estimular o modo difuso
(relaxado) do cérebro, essencial ao aprendizado. (BBC)
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