Um mercado em
transformação, com novos consumidores potenciais e a carência de estratégias
para a formação de novos leitores é a descrição do mercado literário
brasileiro, feita por escritores. O mercado reúne profissionais apaixonados
pelo que fazem. No Dia Nacional do Livro, a Agência Brasil conversou
com autores e editores.
"Nós
todos que trabalhamos com escrita, com texto, com formas de abstração, somos
todos sonhadores", diz a autora e editora na Página Editora, de Belo
Horizonte (MG), Cláudia Rezende. "Acredito muito na literatura, na força
de formar um leitor fluente, na diferença que isso faz na vida das
pessoas", acrescenta.
Cláudia
publicou o primeiro livro este ano, Poli
Escolhe, que tem como tema o
processo de escolha das crianças. O lançamento vem junto com um trabalho já
conhecido de autores, de divulgação, de lançamento da obra, de distribuição e
vendas.
"Há
crise no mercado, temos editoras fechando, livrarias em dificuldade, mas, por
outro lado, temos também uma facilidade maior de publicar. Na editora recebemos
muita procura por publicação", diz. Segundo ela, editoras pequenas, como a
Página são as que "estão realizando sonhos. Antes, dependia-se de grandes
editoras, agora não", afirma.
Cláudia
destaca, no entanto, que a concorrência editorial é alta, sobretudo com livros
impressos em outros países, de baixo custo. "A gente nem visa a
determinados públicos porque não há como concorrer com dois livros a R$
10", diz. A estratégia tem sido, então, segundo ela, recorrer à maior qualidade,
à busca por obras que reflitam as ideias de cada autor.
Editais e vaquinhas - Além
das editoras, editais públicos e vaquinhas aparecem como alternativa, sobretudo
para novos autores. A escritora Sílvia Amélia de Araújo, de Cidade de Goiás
(GO), recorreu às duas estratégias. Ela já tem livros publicados e outros ainda
na gaveta, quase prontos para serem lançados.
Foi
com recursos do edital de Literatura do Fundo de Arte e Cultura do Estado de
Goiás que Sílvia publicou o livro No
meio do caminho. A obra, vendida a
R$ 15, reúne histórias de pessoas que compartilharam com ela viagens em
transportes públicos. De quem sentava ao lado e falava da vida. "Fiz o
livro voltado para pessoas de baixa escolaridade, pessoas adultas que se
alfabetizaram recentemente ou que têm pouco estudo, que não vão conseguir ler
um livro denso de letra pequena, mas que também não se interessam por livros
infantis", conta.
O
edital, segundo ela, tornou a obra mais acessível. "O brasileiros têm um
hábito de leitura ainda muito baixo, mas valor da leitura é alto no país. As
pessoas acham importante ler, acham valioso e esperam que seus filhos sejam
leitores. Acho que existe campo para trabalhar e, nesse sentido, os editais são
importantes porque permitem esse tipo de coisa que eu propus, distribuir os
livros ou vender muito baratinho", diz.
A
estimativa é que 44% dos brasileiros sejam não leitores, o que significa que
não leram nenhum livro nos últimos três meses, de acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil,
do Instituto Pró-Livro.
A
autora conseguiu ainda, por meio de uma vaquinha online, financiamento para
lançar mais dois livros: Álbum
de histórias e Guia Casar Bonito. Como está
grávida, a contagem para o lançamento é também pelo tempo do bebê. Ela pretende
lançar um livro antes do nascimento, previsto para fevereiro, e outro
depois.
Apesar
dos projetos em andamento, Sílvia diz: "é difícil viver só da literatura,
só da venda de livros, é raríssimo encontrar alguém que viva só disso. Mas, é
possível construir uma carreira em torno disso. Eu dou oficinas de escrita, é
algo que me dá uma renda e tem relação com o que eu quero fazer".
Cenário de
transformações - Para
a diretora executiva da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Fernanda Garcia, o
livro no Brasil está passando por transformações. O Painel do Varejo de Livros no Brasil, pesquisa da Nielsen Brasil e do Sindicato Nacional dos Editores de
Livros (Snel), mostra leve melhora de 0,96% das vendas de livros entre setembro
e outubro de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em
2018 foram vendidos 2,9 milhões de livros e, em 2019, 3 milhões entre o início
de setembro e o início de outubro de cada ano. Em valores, o aumento foi de
3,74%, passando de R$ 112,7 milhões para R$ 116,9 milhões. "[A pesquisa]
este ano mostrou, pela primeira vez, um crescimento, pequeno, mas a curva para
cima. A gente está feliz com isso", diz Fernanda. "Embora não seja uma
recuperação, demonstra um cenário, uma curva de crescimento".
Apesar
do crescimento no mês, no acumulado do ano, de janeiro a outubro, 2019 ainda
está abaixo de 2018. O volume de livros vendidos acumula até agora queda de
10,26% e o valor das vendas, queda de 9,53%.
Fernanda
cita várias mudanças no consumo de obras literárias, como o surgimento de
diversos clubes de leitura, o fortalecimento dos audiolivros e livros digitais,
o avanço de livrarias independentes e de nicho, ao mesmo tempo que o enfraquecimento
de grandes redes. "Paralelamente a isso, há uma geração que vem fazendo
livro de forma diferente, mais conectada a um tipo específico de público",
diz.
A
diretora defende que para que o hábito da leitura se perpetue e para que o
mercado de livros se sustente, é preciso um trabalho, principalmente do Poder
Público, na formação de leitores. Para isso, a CBL defende a regulamentação da
Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), sancionada em lei no ano
passado.
Entre
outros pontos, a política visa à universalização do direito ao acesso ao livro,
à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas e, para isso, prevê a
formação de pessoal e o fortalecimento dos acervos. "A gente acredita
muito no livro como elemento transformador da sociedade, da educação, do
país", defende.
Dia Nacional do
Livro - O
Dia Nacional do Livro foi instituído em homenagem à fundação da Biblioteca
Nacional - na época Real Biblioteca -, instalada oficialmente no Rio de Janeiro
em 29 de outubro de 1810. (Ag. Brasil)
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