
Sabemos que a
expressão de "poetas malditos" foi celebrada por Verlaire, ao
publicar a coletânea "Lês poetes Maudits", que incluiu Rimbaud, Mallarmé
e Tristan Corbiére. A iniciativa estava ligada à efervescência criativa, por
vezes, próximo ao delírio, que caracterizou o ambiente literário e artístico no
final do século XIX.
Pois bem, essa
proposta definiu as vanguardas, que viriam a seguir. Daí perpetua e renovou uma
rebelião poética, que gerou enormes e importantes debates que atravessou o século
XX. E não se restringiu à atribuição do valor literário, sobre a
impossibilidade de caráter regressivo, pelo seu irracionalismo, que vieram de
pensadores tão diversos e até divergentes como Paul Sartre, Albert Camus,
Lukacs e tantos outros.
Mas vieram
adesões, como de Walter Benjamim, em seus ensaios sobre Baudelaire e o
Surrealismo, de Georges Bataille, principalmente na série de ensaios, em obras
como a de O Arco e a Lira e Os Filhos de Barros, de Otávio Paz, nas quais é politizada
a ideia de ruptura, associada à romântica.
Há, portanto,
dois polos, o da revolução social e o da rebelião individual. Ou seja, o de transformar
a sociedade e de mudar a vida. Mas foram vistos como antagônicos, ora como
fonte de inspiração estética, ora como revolução social. Um deles, o social aparece
no horizonte contra o marasma conformista.
Introduzimos essas
questões, para que possamos entender os caminhos de poetas considerados
malditos, rebeldes, marginais, que promoveram escândalos em seu tempo, sobre o
ato de escrever. Todos de um modo ou de outro, desempenharam seu papel na
configuração de uma sociedade com um grau maior de liberdade de criação e expressão
poética.
Portanto, dai veio os revolucionários como o português Fernando Pessoa; o norte americano
Allen Ginsberg e o brasileiro Roberto Piva, que levaram uma poética
irreverente, ousada de inigualável qualidade, para o mundo.
Com todas essas
transformações ocorrendo nos modos de pensar e agir, do ponto de vista da
estética poética, os poetas que eram considerados malditos, muitos deles
chegaram até serem processados, como aconteceu com Baudelaire, André Gide e
Oscar Wilde.
Mas, o tempo acabou
provando que a poesia revolucionaria se impõe, como a melhor. Digo isso, quem
tem a coragem de ignorar, Edgar Allan Poe, Baudelaire, Fernando Pessoa,
Maiakóviski, Garcia Lorca e tantos outros, que já são devidamente contemplados
pela crítica oficial universal.
Na verdade, são
poetas revolucionários, que faziam aquilo, que podia ser o caminho da
libertação, em que possa contribuir para a firmação do humano. O poeta
revolucionário é isso: capaz de entender, como espaço entre as coisas, as
categorias, entre os gêneros e as palavras, que lembram as colocações antigas
de Lyotard, em que ele dizia: “A originalidade hoje está na articulação. Tudo é
acervo branco à espera de seu resinificados”.
Então, trata-se
de uma poesia, que não é apenas um gozo poético, ela é mais do que isso. Ela
pode ir aos limites de representações. Porque ela não esgota em si mesmo. Ela
já produziu novos poetas originais, que não se curvou para ninguém das
instituições oficiais, tipo de escritores de gabinete, acadêmicos e tradicionais,
porque suas poesias são construídas sob o signo da irreverencia, como um
processo de linguagem subterrânea como Chacal, Torquato Neto, Ana Cristina
Cesar, Paulo Leminski, Charles Peixoto, dentro outros brasileiros.
Portanto, falar
de originalidade, sem dúvida, lembra o advento da poesia concretista e seus
fundadores: os irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari, que
direcionou todo um rol de nomes como Ferreira Gullar, que se colocaram como um
verdadeiro acontecimento da poesia revolucionária brasileira.
Assim como estes,
têm também, os das primeiras gerações concretistas, os poetas cearenses,
considerados malditos que redesenha a arquitetura da poesia, José Alcides
Pinto, Antônio Girão, Horácio Dídimo dentre outros, que se tornariam porta-
voz, da poesia revolucionária cearense.
Falar de
experimentos revolucionários é lembrar um dos exercícios poéticos, de José
Alcides Pinto que foi um desbravador e pioneiro do concretismo cearense. Veja:
“Quem não tem o direito de viver/ Cava a lama/Como eu cavo/ As crianças pobres
do Recife.” Nos versos metafóricos, quatro imagens se fundem: vida, morte,
homem e cidade. Como se fosse um ponto de partida e não de chegada. Desta forma
o poeta capita uma imagem do caminho aberto, para uma realidade, que a história
da literatura brasileira deverá registrar.
Enfim, tomemos
isto como uma pista que aponta os poetas malditos dentro do grito da carne e do
sentido que eles se isentam, sempre recomeçando e todas às vezes, únicos. É
nesse visionário que eles irrompem os germes de suas poéticas, por serem originários
e ultrapassarem barreiras, para serem revolucionários.
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