Entre as perguntas mais buscadas pelos
brasileiros estão aquelas que tentam entender quais países estão prestando
assistência aos ucranianos e de que forma esse auxílio vem sendo concedido.
As pesquisas vão desde "Quem vai
ajudar a Ucrânia?" até buscas pela assistência específica prestada por
algumas nações, como Estados Unidos, Alemanha e Brasil.
Segundo especialistas consultados pela
BBC News Brasil, o socorro à Ucrânia tem sido enviado de três diferentes
formas: por meio de auxílio armamentício e econômico, acolhimento aos
refugiados, e por intermédio de apoio diplomático.
Os principais países envolvidos nos
esforços são os aliados na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e
na União Europeia (UE) e as nações vizinhas, que têm sido responsáveis por
receber a maior parte dos ucranianos fugindo da guerra.
Mas a ajuda não acaba aí. O apoio à
Ucrânia também foi manifestado nas vias diplomáticas, por meio de declarações
oficiais e votos nas Nações Unidas, por centenas de países que se opuseram à
ação militar russa.
"De maneira geral, o mundo tem se
mostrado bastante simpático à causa ucraniana. Esse apoio pode ser percebido
por meio dos 141 votos a favor da resolução que condenou a Rússia pela invasão
na Assembleia-Geral da ONU", avalia Demetrius Pereira, professor de
Relações Internacionais da ESPM.
Como os membros da
Otan e União Europeia estão ajudando?
Pela primeira vez em sua história, a
União Europeia está enviando armamentos para uma nação em guerra.
A presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, anunciou no último domingo (27/02) que o bloco concordou
em conceder 450 milhões de euros (R$ 2,4 bilhões) para financiar o fornecimento
de armas à Ucrânia, e outros 50 milhões de euros (R$ 280 milhões) para
equipamento não letal, como combustível e itens de proteção.
Além disso, ao menos 21 países membros
do bloco europeu e da Otan ofereceram algum tipo de ajuda de forma individual.
O Departamento de Estado dos EUA, por
exemplo, se comprometeu com o equivalente a US$ 350 milhões (R$ 1,7 bilhão) em
armas, incluindo mísseis antitanque Javelin, sistemas antiaéreos e coletes à
prova de balas.
O presidente da França, Emmanuel
Macron, se comprometeu com 300 milhões de euros (R$ 1,6 bilhão) em equipamentos
militares e combustíveis para auxiliar o exército ucraniano.
A Alemanha, que mantinha uma prática de
longa data de bloquear o envio de armas letais para zonas de conflito,
confirmou que forneceria à Ucrânia mil lançadores de granadas antitanque, 500
mísseis Stinger, nove obuseiros e 14 veículos de combate. Em paralelo, o país
anunciou a suspensão do bloqueio para envio de armas de fabricação alemã por
meio de outros países.
A decisão marca uma mudança importante
e poderia abrir espaço para um aumento da ajuda militar à Ucrânia vinda de
outros países do continente. Isso porque uma parte das armas fabricadas na
Europa são pelo menos parcialmente manufaturadas na Alemanha - o que significa
que o país pode interferir na decisão de enviá-las a outras regiões.
Alemanha e Holanda estudam ainda enviar
um sistema de defesa aérea conjunto Patriot para um grupo de batalha da Otan na
Eslováquia, que faz fronteira com a Ucrânia.
Bélgica, Portugal, Itália, Espanha,
Grécia, República Tcheca, Polônia, Romênia, Canadá, Suécia, Finlândia,
Dinamarca, Noruega, Croácia e Eslovênia também forneceram ajuda militar. Israel
e Austrália, que não são membros da UE ou da Otan, mas atuam como aliados,
também prometeram auxílio.
Alguns países ainda anunciaram envio de
ajuda humanitária. Os Estados Unidos afirmaram que pretendem colaborar com US$
54 milhões (R$ 270 milhões) a serem gastos por organizações não-governamentais
ucranianas e o governo britânico decidiu complementar a doação com a mesma
quantia.
A Itália enviou 110 milhões de euros
(R$ 610 milhões) em ajuda imediata ao governo da Ucrânia, enquanto a Espanha
prometeu 20 toneladas de suprimentos. França, Holanda, Turquia e Grécia também
prometeram auxiliar com doações que podem ser revertidas em alimentos e
medicamentos.
Até o momento, nenhum dos países da
Otan ou da União Europeia manifestou intenção de interferir diretamente no
conflito, com o envio de tropas.
Segundo especialistas em segurança
internacional, as potências buscam minimizar o risco de qualquer conflito
ampliado. "O Ocidente e a Otan têm demonstrado que querem evitar um
confronto direto na Ucrânia com a Rússia", diz Vicente Ferraro Jr.,
cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da
Universidade de São Paulo (USP).
O analista explica que, de acordo com o
Artigo 5º do tratado que rege a Otan, a aliança militar é obrigada a defender
qualquer Estado membro que seja atacado. E ao que parece até o momento, o grupo
só deve agir nessas circunstâncias.
Sanções econômicasO apoio à Ucrânia também é manifestado no formato
de sanções econômicas contra a Rússia.
União Europeia, Estados Unidos, Reino
Unido e outros países anunciaram no fim de semana um conjunto sem precedentes
de sanções financeiras.
Entre as medidas estão a exclusão de
bancos russos do sistema de transferências financeiras internacionais Swift e o
congelamento de boa parte das reservas do Banco Central da Rússia mantidas no
exterior.
As sanções têm por objetivo levar a
economia russa à recessão, pressionando a opinião pública contra a ação militar
de Putin no país vizinho.
Quem está recebendo
os refugiados?
Outra manifestação importante de apoio
à Ucrânia é a acolhida de milhares de pessoas que estão deixando o país.
Segundo o alto comissário da ONU para
Refugiados, Filippo Grandi, 1 milhão de refugiados já fugiram da Ucrânia desde
o início da invasão russa.
Estimativas da União Europeia indicam
ainda que o total de pessoas tentando deixar o país pode chegar a 4 milhões.
"Em apenas sete dias,
testemunhamos o êxodo de um milhão de refugiados da Ucrânia para países
vizinhos", escreveu Grandi nas redes sociais. "Para muitos outros
milhões, dentro da Ucrânia, é hora de silenciar as armas, para que a
assistência humanitária que salva vidas possa ser fornecida", acrescentou.
Demetrius Pereira afirma que os países
vizinhos da Ucrânia são os que têm lidado de forma mais intensa com as hordas
de ucranianos que atravessa a fronteira todos os dias.
"Polônia, Eslováquia e Romênia são
os países que estão recebendo mais refugiados até agora. A Moldávia, apesar de
não fazer parte nem da Otan nem da União Europeia é um vizinho que tem ajudado
bastante também", diz o especialista.
Segundo a ONU, entre os países que mais
receberam ucranianos nos últimos dias, até 3 de março, estão:
-Polônia recebeu 505.582
pessoas-Hungria, 139.686-Moldova, 97.827-Eslováquia, 72.200-Romênia, 51.261-Rússia,
47.800-Belarus, 357
Quase 90 mil pessoas já deixaram esses
países em direção a outras nações na Europa.
Na Polônia e em outros países que fazem
fronteira com a Ucrânia, refugiados podem ficar em centros de acolhimento se
não tiverem amigos ou parentes que possam acomodá-los. Eles recebem comida e
atendimento médico. A Polônia também está preparando um trem médico para
transportar ucranianos feridos.
Hungria e Romênia estão oferecendo
ajuda financeira para aquisição de comida e roupas. Crianças estão recebendo
vagas em escolas locais.
A República Tcheca permitirá que os
refugiados solicitem um tipo especial de visto para permanecer no país.
Polônia e Eslováquia pediram ajuda à UE
em seus esforços de assistência aos refugiados. Em resposta, a Grécia e a
Alemanha estão enviando tendas, cobertores e máscaras para a Eslováquia,
enquanto a França está enviando medicamentos e outros equipamentos clínicos
para a Polônia.
A UE também está se preparando para
oferecer, para ucranianos que estão fugindo do conflito, um direito de
permanência e trabalho por até três anos em todas as 27 nações do bloco. Eles
também devem receber assistência social e acesso a moradia, atendimento médico
e escola para as crianças.
A China está
ajudando?
A China não manifestou qualquer
intenção de enviar ajuda econômica ou militar à Ucrânia até o momento.
Ao contrário dos Estados-membros da
Otan e da União Europeia, o país asiático tem demonstrado uma posição mais
aliada à Rússia - ainda que com um discurso moderado.
A relação diplomática entre Moscou e
Pequim, que tem ficado cada vez mais próxima, pôde ser vista na Olimpíada de
Inverno, na capital chinesa, com Putin sendo um dos poucos líderes mundiais
presentes no evento.
O governo chinês também emitiu
pronunciamentos em que classificou as preocupações de Moscou em relação à sua
segurança nacional como "legítimas", afirmando que elas deveriam ser
"levadas a sério e discutidas".
Na quarta-feira (2/3), Pequim ainda
rechaçou a possibilidade de impor sanções contra a Rússia e classificou as
penalidades econômicas anunciadas por Estados Unidos e Europa como ilegais.
No entanto, de forma surpreendente,
Pequim absteve-se das duas votações realizadas nas Nações Unidas - no Conselho
de Segurança e na Assembleia-Geral da ONU - para condenar a invasão russa da
Ucrânia.
Segundo analistas consultados pela BBC
News Brasil, a forma cautelosa com que Pequim vem lidando com a guerra na
Ucrânia é reflexo dos temores do país em relação a possíveis retaliações
econômicas e políticas.
"A China tem interesses econômicos
gigantescos na Europa e tem que tomar cuidado para que seu apoio a Putin não
fique tão óbvio a ponto de provocar reações negativas da França, Alemanha ou do
continente em geral", diz o americano Bruce Jones, diretor do Projeto
sobre Ordem Internacional e Estratégia do think tank Brookings Institution.
E o Brasil?
O Brasil foi uma das 141 nações que
votaram a favor da resolução que condenou a Rússia pela invasão na
Assembleia-Geral da ONU na última quarta-feira (02/03). O país também votou
contra Moscou no Conselho de Segurança.
No âmbito da diplomacia, o Itamaraty
ainda pediu a suspensão das hostilidades e uma solução diplomática. No entanto,
descreveu a invasão como uma "deflagração de operações militares da Rússia
contra alvos em território ucraniano".
O presidente Jair Bolsonaro (PL), que
recentemente se encontrou com seu colega russo em Moscou e disse ser solidário
à Rússia, limitou-se a emitir instruções e recomendações para cidadãos
brasileiros na Ucrânia.
O Brasil, no entanto, tem agido para
facilitar o acolhimento dos que fogem da guerra. Em uma portaria editada na
quinta-feira (3/3), o governo federal determinou a concessão de visto de 180
dias aos refugiados e possibilidade de residência temporária para ucranianos e
apátridas com prazo de dois anos.
Também há um esforço para ajudar os brasileiros que estão na Ucrânia - com um avião cargueiro da Força Aérea Brasileira decolando Brasília com destino a Varsóvia, na Polônia, para resgatar nacionais que estão fugindo da guerra. A aeronave parte do Brasil com 11 toneladas e meia de materiais voltados à ajuda humanitária aos civis que estão sofrendo as consequências do conflito.
(BBC)
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